segunda-feira, setembro 25, 2006

“Deus escreve direito sobre linhas tortas” – certa vez ouvi dizer...Mas, agora imaginem alguém cujos caminhos foram esquecidos e saberão quem sou. Sou o Homem sem destino, aquele que apenas o começo foi traçado. Que não tem nem final, nem meio, nem quase vida, não tivesse eu a vontade de viver!
Há quem me chame o “escolhido”. Para mim, estou mais na base do esquecido, aquele que não segue linhas, sejam tortas ou direitas e que nem na palma da mão, se encerram linhas orientadoras ou caminhos ocultos. Aquele cuja vida se limita a deambular pelo mundo, até que este acabe. O meu nome? Não importa. Sou um simples mortal ao vosso dispor.
Mas para melhor explicar este quase sonho, esta quase miragem minha, que só sei não o ser pelas irrefutáveis provas que tenho, mais vale que conte tudo como começou:
Certo dia, sim porque Deus já havia inventado o dia e a noite, Deus decidiu criar o Homem. Não se iludam no entanto, não criou apenas o destino de um tal de Adão e de uma Eva. Traçou entre os grão de areia do deserto sombrio, linhas que se uniam, que formavam longos caminhos que até ao infinito do universo se moviam, unindo-se aqui e ali, num jogo sublime de acaso. Assim criou as relações. Aquele unia-se com aquela, ou aquela com aquela, ou ainda aquele com o outro. Uniu cada caminho, formando assim um labirinto descomunal. Pois, cada uma das porções do labirinto, correspondia a uma pesada ou leve mão. Por conseguinte, cada mão se fazia dividir em traços, na sua maioria, em três longos traços, que mais tarde as videntes chamariam de linha do amor, da fortuna e a vida. Pois, qual ironia a minha, semelhante ao deus mortal Aquiles, minha mãe, ou devo dizer, meu deus, sobre um pé se balançava, preenchendo todo o deserto com a sua decisão. Mas nesse ponto em que o seu pé tocava, nenhuma marca ele pousou. Seu pé, como as suas mãos, por ser dono do seu destino, não tinha qualquer marca, qualquer traço. Limpo de decisões preconcebidas.
Pois nesse ponto, cabia pois, cada uma das minhas mãos, que assim se tornaram limpas, suaves e direitas, sem qualquer contorno mais profundo. Excepto, obviamente, o pequeno traço, que saia das mãos dos meus pais, até aos pés de Deus. Com isto, apenas um início me fora concebido. Não um fim. Não um objectivo. Não um amor, uma vida ou fortuna. Fiquei assim condenado, não a ser um deus entre mortais, mas sim um sublime esquecido, lembrado apenas pelos meus pais, que retinham a memória de uma criança terem tido.
Assim nasci eu. Uma criança normal, sem qualquer alteração. Apenas não tinha marcas na minha mão. Me foi então concedido um dom ou uma maldição?
Pensem em esquecimento, tristeza e solidão...e aí a mim, com toda a certeza e sem hesitar, me responderão...

3 Comments:

Blogger fairy dust said...

Pensei que não acreditavas em Deus...

Não és um escolhido nem um esquecido, achoque foste escolhido por uns,desencontrado por outros.

Traça umas quantas linhas na tua mão (eu sou uma delas?)...Ele não é assim tão responsável pelas "linhas tortas" que fazemos ;)

Gostei muito do post...e faz-me feliz pensar que um dia o meu caminho bateu no teu =)

26/9/06 14:36  
Anonymous Anónimo said...

lolol. A personagem não sou eu. Foi uma ideia para um livro, que eu tive, masd vi que depois não dava para a passar. EU tenho linhas tenho!!! E tb fico feliz de "Deus" ter cruzado as nossas linhas

Ps: Eu acredito num deus, não no da igeja católica

27/9/06 18:08  
Anonymous Anónimo said...

Ohh tão lindo... Foi bonito. Mais profundo do que este teu discurso, só mesmo: RUN BITCH! RUN( sem ofensa) Lolololol

1/10/06 22:26  

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