Perdidos e achados (separação)
Play
João olhou de novo para o relógio... Tinha visto cerca de vinte vezes, as horas, na última hora de viagem. Estavam algures no meio de Portugal, não muito longe do seu primeiro destino: Vilar Formoso.
- Que seca!
- Já começas assim Johny? Sabes que vais ter destas "secas" durante um mês!- disse Vera. Também ela estava morta de aborrecimento, contudo, para que não tivesse de ouvir Sofia, tapava a sua fronte com um contentamento mal disfarçado.
- Lá fora e diferente.... lá fora à gente nova e vamos passear, ver coisas e pessoas. Aqui não! Só se vêem aqueles dois velhotes e gordos no final da carruagem...
- Nós ouvimos isso!
- ... aquele rapaz ali ao fundo que ainda por cima não e nada giro e que esteve toda a viagem a dormir. E aquela bicheza que está farta de entrar e sair da nossa carruagem, à espera que eu o siga.
- E por que não o fazes? Ficavam bem um para o outro!- gozou Sofia.
- Ao contrário de ti, eu sou bastante selectivo quanto à pessoas com quem me dou.
- É por isso que nunca deste uma...- disse com um sorriso cruel.
- Não. Não dei uma... porque não tenho um problema anatómico, como tu, que me impede de fechar as pernas!
Vera riu-se irritando Sofia. Sofia sempre se sentira em segundo plano. Sempre sentira que João era realmente o único amigo de Vera. Sentia-se ciumenta e com vontade de o magoar. E conseguia, na maioria das vezes, com comentários cruéis, sempre relativos à sua opção sexual ou ao facto de estar sozinho há mais de 5 anos.
- Obrigadinho sim...
- Que é Sofia? Teve piada!
- Imensa...
- Olha, esquece. Eu vou ali é ao bar, que preciso de comer qualquer coisa. Alguém quer alguma coisa para comer?
- Neps. - responderam em uníssono.
- Ok. 'Té já. - disse a Vera.
A sua carruagem estava do outro lado do comboio, pelo que teve de atravessar várias carruagens para chegar ao bar. Aí viu imensa gente da sua idade. Pessoas que como eles iam de mala às costas, uns fugindo, outros buscando sentimentos e sentidos para a vida e outros simplesmente porque não queriam morrer sem ver aquele velho continente cheio de riquezas, envolto em mistérios, e a transbordar de culturas, tão díspares mas por vezes tão convergentes, principalmente, no que nelas havia de mal.
- Boa tarde. O que vai desejar?
- Boa tarde. Queria um pacote de batatas frias e uma dessas sandes.
- As de carne com ovo,as mistas ou a vegetariana?
Vera olhou para todas elas e só a mista lhe agradou. As outras pareciam já retardadas.
Enquanto comia, decidiu telefonar ao seu namorado.
- Hello linda!
- Oi amor. Então como estás?
- Estou cheio de saudades tuas!
- Também eu.
- Estás ao pé deles?
- Não, estou no bar.
- Então manda-lhes cumprimentos depois.
E assim envolveram-se naquele conjunto de babuzeiras que os namorados dizem. Passada meia-hora, iniciou-se o ritual da despedida.
- Desliga tu...
- Não desliga tu!
- Vá. Desligo eu, mas só se me disseres o que vais fazer a seguir!
- Agora tenho de ir à casa-de-banho.
- Ok... poupa-me os pormenores...
- Mas depois vou telefonar à outra!- disse Tomás rindo-se
- Atreve-te! Nunca mais vais À casa-de-banho na tua vida!- respondeu Vera gozando
- Olha, dava jeito!
Riram-se e por fim lá desligou a Vera.
- Bom, vamos lá ver se aqueles os dois ainda não se mataram!
*
Caminhando pelas carruagens, chegou minutos depois, à sua carruagem. João dormia profundamente. Sofia olhava distraidamente para a paisagem. Foi então que o telefone de Sofia tocou. Subitamente, Vera sentiu o coração a saltar do peito.
" Estás a ser doida! Achas mesmo que o Tomás estava a falar a sério quanto à outra?". Abanou a cabeça, mas pela via das dúvidas, escondeu-se para ouvir.
- Estou bonzão!
- Então gaja boa! Como estás?
- Com vontade que estivesses aqui para tirar este calor do corpo.
As pupilas de Vera dilataram. "Pára! é coincidência!" - dizia para si.
- Também eu, mas já sabes como é...
A conversa foi breve e nem se poderia estender muito. O João estava ali mesmo ao lado a dormir, mas mesmo dormindo, representava uma perigo. A Vera estaria ali não tardaria nada.
- Vá Tomás. Beijos
- Beijos grossa!
E desligou. Vera estava paralisada, escondida de joelhos ,atrás de um separador do comboio. Tremia por todo o lado. Não sabia se de raiva, se de desapontamento, se de nervosismo ou tristeza. Tremia simplesmente e não tinha qualquer controlo sobre esses tremores.
"Tens de fazer qualquer coisa Vera!" - pensava. Mas não se conseguia mexer.
" Vá lá!"- mas nada. Até que ouviu o som de uma voz reconfortante.
- Já chegámos?- perguntou João numa voz ensonada. Com João ali ao pé, acordado, conseguiria enfrentar Sofia.
Vera levantou-se e caminhou para eles.
- Então, já comeste?- perguntou Sofia.
- Já. Estão lá imensos rapazes no bar.
- Já lá vou!
- Algum possível candidato para mim?- perguntou João esperançoso.
- Não me pareceu... sorry...
- Bah!
- Ah Sofia! E verdade.. Podes-me emprestar o teu telemóvel? é que preciso de ligar para uma pessoa que é vodafone.
- Claro. Toma.- Sofia deu-lhe o telemóvel sem pensar.
Rapidamente, Vera manipulou o teclado para chegar às chamadas atendidas. Todas as suas dúvidas dissiparam-se. Sofia estava a ter um caso com o seu namorado. A prova disso estava gravada naqueles 9 dígitos que lhe eram tão familiares.
- Sai daqui sua cabra! - falou firmemente Vera. João ficou boquiaberto.
- Vera?
- Que é que se passa contigo? Apanhaste Tourette ou o quê?- perguntou ultrajada.
- Tu andas a comer o meu namorado! Sai-me já da frente!
- Não a sério! O que é que andaste a beber ou a snifar no bar?
- Nada! Os meus sentidos estão óptimos! Ouvi toda a conversa que tivestes com o meu namorado e vi o seu número no teu telefone. Agora sai daqui! Não quero nunca mais olhar para essa tua cara de ... de...
- Pega?- completou João divertido.
- Isso! Cara de Pega.
Por esta altura, Vera já gritava e toda a carruagem estava a olhara para elas.
- Ok... Como queiras. Sim dormi com o teu namorado! Ele não conseguia mais aguentar não fazer tanto sexo como queria. Não tenho culpa de ter umas mamas grandes e de ele gostar delas. E não tenho culpa de seres uma freirazinha púdica.
João levantou-se e agarrou Vera.
- Sofia se queres ficar com a tua cara como estás, sugiro-te que saias imediatamente daqui!
- Não tenho medo dela!
- Não é dela que tens de ter medo, mas de mim. EU parto-te a cara em dois segundos!
Sofia sentiu-se incomodada. Uma coisa era ofender e ser ofendido. Naquele momento, estavam-lhe a oferecer porrada e louco como o João era, era bem capaz de a receber!
- Pronto. Fiquem lá vocês os dois. Os amiguinhos! Os falhados!- Vou procurar um grupo mais divertido e que não seja menininho como vocês.- disse Sofia com desdém. Quase saindo da carruagem, Sofia olhou para trás e berrou - Ah! Já agora Vera. O teu namorado manda-te beijinhos. AHAHAHAHAH
João agarrou com mais força a Vera.
Passaram-se uns minutos em que conversaram e Vera soltou a sua raiva. Do nada, desatou a chorar, feito Maria Madalena e João abraçou-a.
A sua viagem tinha começado mal...
2 Comments:
CREDO!!! :S
Eu não teria feito melhor =)
É oficialmente a minha vez de escrecver n e?
curioso teres-te lembrado desta música. Gostei =)
tb achei. foi sempre uma musica que me pos triste. e merrrrmo a tua vez de escrever.A partir de agora separam-se as meninas: a verdadeira e a pega :P.
beijos.
Enviar um comentário
<< Home