quinta-feira, agosto 23, 2007

Contagem progressiva para a verdade II/III

Dia 32...

Como é triste o fim de uma vida... Ali estava eu, jazido sobre a mesa, com um pano azul que tantos outros havia coberto, à espera da divina solução do meu assassínio. Toscos... bastava entrar dentro da minha casa para descobrirem quem ele era. Também não era difícil. Tantas ameaças já ele me tinha feito. Tantas vezes tinha dito para deixar aquele assunto e me preocupar com a minha vidinha...
Mas como era possível? Ainda me doía muito aquilo... mesmo depois de morto. Não podia levianamente deixar aquele episódio da minha vida se libertar da minha memória...
Queria vingança, e por isso com ele tinha insistido para contar a verdade.
- É ele? - perguntou Pedro a Pipa que como uma estátua, já vestida de escuro, se erguia perante o meu corpo.
- É ele sim. - disse chorando e procurando algum alento, agarrou-se ao seu antigo "médico de família". Ali jazia para além de mim, uma entidade. O Amor. O amor perdido entre aqueles dois, por uma simples e egoísta necessidade de si próprio de Pedro. Ali jazia uma relação, que estava prestes a renascer...

*
- Mariana. Importa-se de chegar aqui, por favor.
- Claro. - Mariana estava mais do que coberta nesse dia- Não sabia por quê, mas estava também ela vestida toda de preto. Talvez por respeito ao rapaz que tinha morrido, o rapaz que tinha conhecido num dos seus fins-de-semana no hospital, como voluntária. Talvez por luto a ela própria, e ao quão baixo achava que tinha descido, para conseguir derrotar a maldição e o azar que se pareciam perpetuar, desde a sua adolescência, até àquele momento.
Na sala estava Alberto, pai de Bernardo. Trazia-se muito feliz, mas cauteloso. Trazia-se com compostura, mas ao que parecia, uma compostura prestes a ruir. Por baixo do seu semblante, cada célula tremia. Subitamente Mariana sentiu um arrepio. O primeiro de três que estava prestes a sentir.
- Precisamos que passe esta carta a computador e que envie para o remetente que ai vê.
- Não me podia ter dado logo isso. Era preciso ter vindo aqui?- estava particularmente agressiva e insubordinada. Estava farto da sua objectificação quase voluntária.
- Não podia deixar o meu colega Alberto desiludido.
Mariana sentiu-se a corar e desejou que a sua vida muda-se ali. Queria que ambos fossem para o inferno e que lá fossem castrados com uma gillete. Por quê com uma gillete? Não sabia, e até se riu da ideia. Achava que assim sofreriam mais.
Saiu da sala e sentou-se à sua secretária, abrindo a Internet. Logo na página inicial, só se via a fotografia do rapaz assassinado.
- Coitado... tão novo...bom. Parece que alguém fez o que ele ... e eu... não conseguimos levar a cabo. Deixa lá ler isto
" A polícia judiciária ainda não encontrou qualquer prova que aponte para um suspeito. Toda a investigação assenta numa carta que a vítima teria consigo no momento da sua morte."
A sua leitura foi interrompida por um riso (e seria um som de um brinde?) vindo da sala onde o seu patrão e o amigo parvalhão e tarado, estavam. De novo sentiu um arrepio. O segundo dos três.
Decidiu então largar a Internet e começar a passar a computador a carta.
"Caro cliente. O juiz tomou uma decisão legal em Junho, sobre a custódia dos seus filhos".
Mariana não conseguia escrever mais, a partir das palavras "decisão legal". Um novo e último arrepio e uma certeza horrível, acentou-lhe na alma. Seria o seu patrão o assassino? Olhou para a assinatura. A carta não era do advogado Sampaio Neves, mas sim do seu amigo Alberto.
Mariana lembrou-se então das ameaças que ele estava sempre a fazer a não sei quem. Motivos tinha. O tal rapaz, se fosse o Carlos, tinha namorado com o seu próprio filho. Ora para um advogado cheio de preconceito, porco e machista, tal seria motivo suficiente para acabar com a raça do próprio filho.
Mariana nem pensou mais. Levantou-se e correu para a esquadra da polícia, que não ficava muito longe dali.
*
- O homem que não se despacha!!!
- Calma Mariana. Isto demora muito tempo a comparar as cartas. É preciso ver letra a letra.
- E depois. Podem prendê-lo?
- Podemos conseguir um mandato do juiz para revistar a casa dele, o carro e ainda outro para procurar lesões corporais nas mãos.
Finalmente, para alívio de Mariana, saía do cubículo onde se tinha metido, o especialista em análise da grafia das pessoas.
- Lamento. Não tem nada a ver a letra da carta e a letra desse tal Alberto.
Mariana não sabia se havia de respirar de alívio, por não ter estado ao pé de um assassino, ou se havia de se sentir desiludida, por não ter conseguido ajudar.
- Volta para o trabalho Mary. Infelizmente não é o nosso assassino.
Mariana levantou-se e saiu da esquadra. Quando voltou, ainda se ouviam risos dentro do escritório.
*
- Estou estafada, com este novo caso...
- Qual, o do miúdo da televisão?
- Sim. Carlos Faria. Foi assassinado...- disse Joana com um tom tenebroso.
- Menos um.
-Desculpa?
- Menos um gay por ai!
- Como podes dizer isso de uma forma tão leviana?
- Eu conhecia-o. Era um paneleirote que andava por aí!
- Como é que o conhecias?
Bernardo parou de cortar as cenouras que iam ficar muito bem no jantar em que ia sentar-se ao lado da Joana e dizer uma palavra que nunca pensava que iria dizer tão depressa. Parecia que ao fim de um mês, estava de novo a apaixonar-se. Não apaixonar-se como se tinha apaixonado por mim. Que isso era falso! Estava mesmo a ficar apanhado pela polícia.
- Eu... não te posso contar.
- Conta já!
- Por aí. Olha vou à casa de banho. Vou à casa-de-banho- e Bernardo saiu da cozinha.
Joana estava irritada com a vida, mas naquele momento, precisava daquela informação. Tudo o que apontasse para o assassino do rapaz, era um passo para a resolução do problema.
Decidiu, na sua condição de curiosa, de revistar as gavetas da casa. Primeiro não encontrou nada... até que.
- O que é isto?- Joana murmurava. Na sua mão, num retrato que não tinha sido deitado fora por Bernardo, viam-se dois rapaz a beijarem-se apaixonadamente.
- Joana eu...
- O que é isto? - perguntava Joana a Bernardo que voltara à cozinha.
Bernardo suspirou.
- Queres que te conte?
- Sim!
- Eu tive uma experiência... homossexual com o Carlos. Acabei com ele... ou aliás, ele descobriu-me com uma mulher. - Por que lhe estava ele a contar aquilo tudo? Joana devia ter um grande poder de persuasão.
- E quando tencionavas contar-me? Que mais sabes tu deste rapaz? - num misto de ódio e curiosidade, Joana debatia-se contra si própria. Queria saber do rapaz, mas preferia não saber, para não o odiar mais...
- Andámos durante 6 meses, o meu pai nunca gostou. Ele andava sempre a telefonar-lhe a oferecer-lhe dinheiro.
- Como se chama o teu pai? - Joana estava já a berrar
- Alberto! Tem 56 anos e é advogado. - Joana sentiu pena naquele momento. Mais um suspeito que ia para o galheiro.
- Mais alguma coisa? Sobre ele?
- Era Terapeuta da fala...
- Sim sim! Isso os pais já me disseram. Alguém que o odiava?
- Além do meu pai, que não pode ser culpado! - acrescentou - talvez um homem, que tinha sido o causador da morte do seu avô. Que os tinha levado à falência...
- Nome?
- Não sei... querida eu...
- Não me venhas com querida!
- Eu...
- Tu o quê?
- Eu ia-te dizer ao jantar o quanto te adoro e ... que quero que isto dure...
Agora era Joana que suspirava...
- Querido. - disse em tom irónico. - eu também de adorava... mas a partir deste momento sinto nojo de ti. Nojo não por teres andado com um homem, mas pelo que lhe fizeste! E quanto à duração disto... esquece... acabou. Preferia enfiar a minha língua pelo rabo de um boi acima, do que passar mais cinco minutos contigo.
E correndo porta fora, Bernardo deixou de existir para ela, deixando-o desfeito.
- Estou Mary!- disse a chorar ao telefone
- Que se passa?
- O que passou? A minha estupidez aguda... nada é perfeito, muito menos um ser humano.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tenho a dizer, que o assassino apareceu muitas vezes... Decisão de última hora!:P Mas no proximo post vai ser conhecido. Era alguém próximo da vítima.:P

VÃO FICAR CHOCADOS!

Não percam o próximo post que é o último!!!:P

23/8/07 01:24  
Blogger Pips said...

SERÁ QUE FOI A PIPA!? Medooo! Isto está interessante, meu caro amigo! E mais não digo a não ser que estou ansiosa para ler o desfecho! =P lol! Bjs!

23/8/07 15:34  
Anonymous Anónimo said...

Damn!!!
Devo admitir que adorei!
E que foi o 1º post em que me identifiquei mm a sério com a personagem!
Aquela ansia de saber mais...hell yeah!

23/8/07 15:55  
Anonymous Anónimo said...

Ah, e tal, tu disseste q ia perceber quem tinha sido nete post e eu não percebi nd =P

Mas gostei de estar vestida =)

E não acho que foi a Pipa!

23/8/07 18:49  
Anonymous Anónimo said...

lololol. Dahhhhh roiras!!:P Kidding. Está mesmo de caras quem foi!!:P Eu dei pistas neste post :P.

Analisem-no ou esperem por hoje à noite que FINALMENTE a contagem acaba!!!!

Love yourfs!

23/8/07 19:20  

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