Contagem regressiva para o fim da alma - 2º dia
- O sol está a por-se...está a mergulhar no mar Pandora... - conseguia ver muito pouco, por detrás dos olhos doridos do choro. Já não tinha mais lágrima. Estava exausto, cheirava a fritos e a suor. Estava imundo, por dentro e por fora.
- Miauuuuu
- Sim linda. - agarrei nela - está um dia muito bonito.
- TRIM TRIM... - tocou o telefone. Não me apetecia atender... mas e se fosse ele? Com o coração a saltar do peito olhei para aquele pedaço de velha tecnologia.- TRIM TRIM.
- Se calhar é ele a pedir desculpa...- corri para o telefone e disse com tom incerto- Estou?
- Estou carlitos!
- Ah pipa... oi. - não consegui esconder o desapontamento na minha voz...
- Estás assim tão feliz por me atender o telefone?
- Desculpa... não estou a 100% hoje...
- Sim. Ainda estás de luto. Mas o que sentes?
- Vazio... e culpa...
- CULPA?! porquê culpa? Não fizeste nada de mal! Ele é que é um cabrão de merda!!!
- Pipa...
- É verdade! Só te estragou a vida toda!
- Também não é assim...
- Sim, pronto, foi bom durante uns meses. Mas agora acabou. Agarra-te à vida! Faz qualquer coisa!
- Tá bem pipa. Quando tiver energia outra vez, luto contra isto, agora estou exausto. Dá-me um dia!
- Vá... por seres meu amigo, dou-te 2! - ri-me.
- Está bem Pipes...
- Bom. Queres ir a Fnac comigo? Tenho de comprar a prenda do Pedro.
- Ele faz anos?
- Não. Fazemos anos de namorados.
- Tem mesmo de ser?
- SIM! - berrou
- Apanha-me às 22:30.
- Está. Até logo.
Desligamos os telefones e fomos às nossas vidas. Eu? Olhei em volta, procurando uns resquício da sua existência. Teria eu eliminado tudo.
- Miauuuu
- Que é estrabeca?- foi então que vi. Eliminara roupas, papéis tudo. Não eliminara a sua cara. Em cima da mesa da sala, lá estava a moldura que ele me tinha oferecido no dia em que fizemos 6 meses de namoro.
O vazio foi-se preenchendo e um novo sentimento fervilhou dentro de mim. Não era amor, nem solidão, nem se quer ódio. Apenas raiva. A pura manifestação da entropia das células. Agarrei na primeira coisa que me veio à mão e atirei contra a moldura. A Pandora parecia ter adivinhado estava já em cima do sofá, longe da moldura, que agora estava caída e partida no chão, junto à almofada vermelha.
- Já te digo!- corri para a cozinha com a foto espremida na minha mão. Pu-la no 1,2,3 e liguei-o. A raiva foi desaparecendo, à medida que aquele sedutor sorriso se desfazia entre as lâminas do aparelho.
- Miauuuuu
- Sim linda. - agarrei nela - está um dia muito bonito.
- TRIM TRIM... - tocou o telefone. Não me apetecia atender... mas e se fosse ele? Com o coração a saltar do peito olhei para aquele pedaço de velha tecnologia.- TRIM TRIM.
- Se calhar é ele a pedir desculpa...- corri para o telefone e disse com tom incerto- Estou?
- Estou carlitos!
- Ah pipa... oi. - não consegui esconder o desapontamento na minha voz...
- Estás assim tão feliz por me atender o telefone?
- Desculpa... não estou a 100% hoje...
- Sim. Ainda estás de luto. Mas o que sentes?
- Vazio... e culpa...
- CULPA?! porquê culpa? Não fizeste nada de mal! Ele é que é um cabrão de merda!!!
- Pipa...
- É verdade! Só te estragou a vida toda!
- Também não é assim...
- Sim, pronto, foi bom durante uns meses. Mas agora acabou. Agarra-te à vida! Faz qualquer coisa!
- Tá bem pipa. Quando tiver energia outra vez, luto contra isto, agora estou exausto. Dá-me um dia!
- Vá... por seres meu amigo, dou-te 2! - ri-me.
- Está bem Pipes...
- Bom. Queres ir a Fnac comigo? Tenho de comprar a prenda do Pedro.
- Ele faz anos?
- Não. Fazemos anos de namorados.
- Tem mesmo de ser?
- SIM! - berrou
- Apanha-me às 22:30.
- Está. Até logo.
Desligamos os telefones e fomos às nossas vidas. Eu? Olhei em volta, procurando uns resquício da sua existência. Teria eu eliminado tudo.
- Miauuuu
- Que é estrabeca?- foi então que vi. Eliminara roupas, papéis tudo. Não eliminara a sua cara. Em cima da mesa da sala, lá estava a moldura que ele me tinha oferecido no dia em que fizemos 6 meses de namoro.
O vazio foi-se preenchendo e um novo sentimento fervilhou dentro de mim. Não era amor, nem solidão, nem se quer ódio. Apenas raiva. A pura manifestação da entropia das células. Agarrei na primeira coisa que me veio à mão e atirei contra a moldura. A Pandora parecia ter adivinhado estava já em cima do sofá, longe da moldura, que agora estava caída e partida no chão, junto à almofada vermelha.
- Já te digo!- corri para a cozinha com a foto espremida na minha mão. Pu-la no 1,2,3 e liguei-o. A raiva foi desaparecendo, à medida que aquele sedutor sorriso se desfazia entre as lâminas do aparelho.
*
Bernardo e Joana percorriam as ruas de Cascais com um grande gelado na mão. Desceram a avenida valbom, subiram a rua direita, sempre sem destino, percorrendo as ruelas livres que se abriam à sua frente, no seu segundo encontro. No ar, pequenas flores amareladas voavam, anunciando mais um dia da bela Primavera e do azíago Abril.
- Gostas disso?
- Sim. Adoro chocolate negro.
- Isso dá-me arrepios.
- É porque és muito doce... - disse Joana em tom provocatório.
Sem aviso, Bernardo teve um deja vu. Meses antes, num dia de praia, lá tinha ele ido comigo passear. Aquelas tinham sido palavras semelhantes às minhas, para descrever o meu gosto pelo chocolate branco.
" Eu sou muito amargo. Preciso de qualquer coisa muito doce. Como tu".
Um vento marítimo fê-lo arrepiar-se e qual derrota inesperada... Bernardo sentiu não a doçura, nem a amargura da vida... mas apenas um trago da sua acidez.
*
Mariana trazia a sua blusa avermelhada e a sua mini-saia de ganga que fazia os homens da obras loucos (para seu desgosto). Aquele era o seu 4 dia de trabalho naquela empresa, e tudo parecia estar bem. Passara a manhã a fazer arquivo, a arrumar cartas e a mandar cheques. Foi então que o seu martírio voluntário começou.
- Mariana, pode chegar aqui se faz favor? - era o seu patrão que a chamava, um advogado dos seus 50 anos, com pouco charme, mas com pouca barriguinha.
Mariana levantou-se e dirigiu-se ao seu escritório.
- Diga doutor.
- Queria... queria que me escrevesse a seguinte carta.
Mariana retirou um lápis da lata que se quedava sobre a secretária do seu patrão. Ao fazê-lo, involuntariamente o seu peito avançou e quase tocou na cara do advogado, que desde o primeiro dia a olhava de forma diferente.
- Então diga doutor.
- Caro co.... caro colega... - os calores desciam-lhe pelo corpo, levantando outras partes. - venho-vos informar que... que o peititório... peito... peditório...
"Olaaaaaa. Que ele está interessado. "- pensou Mariana, enquanto apontava o que o doutor ia gaguejando. Foi então que viu as vantagens de dormir com o patrão... seria uma boa forma de ganhar estatuto entre os clientes, e ir para outro sítio ganhar mais dinheiro para finalmente conseguir tirar o curso que queria, o curso de direito na Católica.
- Foi rachado, recusado, digo.- Mariana pousou o papel e o lápis, e desabotoou a sua blusa avermelhada...
*
Vanessa estava farta daquela sala minúscula da esquadra de polícia. Naquele dia, tinha atendido só o cleptomaníaco de armas e mais ninguém. Tudo estava de férias, incluindo a única pessoa com quem ainda se dava minimamente bem, a tenente Joana Silva.
- Isto está uma pasmaceira hoje! - disse suspirando. Decidiu assim levantar-se e caminhar para a porta.- Patrícia, tenho mais alguém para hoje?
- Faltou tudo. Acho que só tens o tenente Fernando às 17h.
- Desmarca se faz favor. Estou a precisar de sair daqui! - e assim fez. as 15:30 picou o ponto e foi para os jardins de Belém. Até as 16 horas nada aconteceu, até que o relógio apontou os 16:30. Um rapaz moreno passeava sozinho por ali. Distraído, tropeçou num calhau e caiu-lhe no colo.
- Ah! Desculpa!
- Não faz mal. - disse Vanessa mostrando-se interessada.
- Eu não reparei.
- Não faz mal mesmo! Sou a Vanessa.
- Sou o André.
Vanessa conhecera nos jardins de Belém a minha segunda vida, aquela em que poderia ter sido feliz.
- Eu não costumo fazer isto, mas... queres ir tomar um café e comer um pastel de Belém? - o sorriso de Vanessa não podia ser mais sugestivo. No entanto, o rapaz parecia estar incomodado.
- Ah... lamento. Eu sou gay.
- Ah! - agora era ela que estava incomodada. - ah... desculpa! Não percebi.
- Não faz mal.
- Pronto... ah... nesse caso tchau.- e levantou-se envergonhada correndo para o carro. Mal entrou nele, desatou-se a rir, sem se conseguir controlar...
*
As 22:30 em ponto, lá estava a pipa à minha espera.
- Oi linda.
- Oi. Já tens ideias para mim?
- Eu não conheço o rapaz! Como queres que eu tenha ideias?!
- Sei lá! Vamos ver quando lá chegares.
Mal entramos na fnac, Pipa foi para os jogos e os cds. Ainda que Pedro fosse um aluno aplicado de Medicina, não prescindia dos seus jogos de computador, ou dos seus cds de musica.
- Procura nos livros. Eu já lá vou ter.
Ignorei-a por completo. Não conhecia os gostos do rapaz e o único livro que ele iria gostar seria o Rouviere, a bíblia de anatomia que ele já devia ter. Para além disso, a pipa encontrava sempre prendas bem melhores do que eu. Ela não precisava realmente da minha ajuda. Só precisava de me tirar de casa!
Desloquei-me à zona que me interessava, as novidades. Bem no topo da estante, um título chamou-me à atenção: "Perdidos para sempre". Peguei no livro e comecei a folhear. Logo na primeira página em que abri, uma frase sublinhou-se sozinha: "Deus ironiza a tua existência". Sem ter lido mais nada, comprei o livro e considerei-o o melhor de sempre, digno de um prémio Nobel.
3 Comments:
Post gigante! Brigado mé pela frase. Brigado a todas pela praia. Beijios
Perdidos para sempre parece-me o título perfeito para a minha frase nobel =)
Continuo a dizer q sou realmente 1 porca:P....mas agr já so falta 1 contagem..ou 2?
ESCREVE!!
falta mais!!!
Para o fim da alma falta o 1 e o proprio dia do fim da alma. E depois falta o desvendar do misterio que deve ser mais 2 post
Ta quase!!!
E sim es uma procalhota!:P
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