Contagem regressiva para o fim da alma - 16º dia
Mariana fazia voluntariado no Hospital Santa Maria, fazia já uns aninhos. Trabalhava nas urgências aos sábados, distribuindo livros pelos doentes internados. Ou melhor, distribuindo a sua beleza e voz, lendo os livros e os jornais que os doentes pediam.
Sentia-se bem consigo própria naquele estranho mundo de enfermos e tristezas, não porque ela, sendo sã, naquele mundo era rainha, mas sim porque se sentia útil. Naquelas horas que lá passaba, sentia-se acarinhada, precisa, e mais que tudo, não se sentia só.
- Bom dia Dona Fernanda! Então como está hoje?
Dona Fernanda era uma doente que tinha sofrido um AVC do tronco. Não conseguia engolir, tinha uma "afasia global gravíssima", como uma vez um médico lhe havia contado, e um prognóstico muito mau. Mas para Mariana, nada disso interessava. Queria lá saber o que a mulher tinha ou não tinha! Nem se quer sabia o que era uma afasia! Nem queria saber. Estava presa Àquela senhora, aos sábados, com quem rezava ao Santo Cristóvão.Está certo que a senhora não dizia nada. Mas o seu olhar penetrante, ia acompanhando as palavras e os movimentos da boca daquela rapariga que tão querida, tão bondosa lhe vinha fazer companhia.
- Pronto. Assim está melhor. - disse Mariana, quando acabou de rezar. Falou-lhe do tempo, das notícias e da sua vida. A senhora ia anuindo transmitindo-lhe confiança. E assim o mundo de Mariana era perfeito.
Sentia-se bem consigo própria naquele estranho mundo de enfermos e tristezas, não porque ela, sendo sã, naquele mundo era rainha, mas sim porque se sentia útil. Naquelas horas que lá passaba, sentia-se acarinhada, precisa, e mais que tudo, não se sentia só.
- Bom dia Dona Fernanda! Então como está hoje?
Dona Fernanda era uma doente que tinha sofrido um AVC do tronco. Não conseguia engolir, tinha uma "afasia global gravíssima", como uma vez um médico lhe havia contado, e um prognóstico muito mau. Mas para Mariana, nada disso interessava. Queria lá saber o que a mulher tinha ou não tinha! Nem se quer sabia o que era uma afasia! Nem queria saber. Estava presa Àquela senhora, aos sábados, com quem rezava ao Santo Cristóvão.Está certo que a senhora não dizia nada. Mas o seu olhar penetrante, ia acompanhando as palavras e os movimentos da boca daquela rapariga que tão querida, tão bondosa lhe vinha fazer companhia.
- Pronto. Assim está melhor. - disse Mariana, quando acabou de rezar. Falou-lhe do tempo, das notícias e da sua vida. A senhora ia anuindo transmitindo-lhe confiança. E assim o mundo de Mariana era perfeito.
*
- Finalmente! Estava a começar a pensar em dar-te umas estaladonas para ver se acordavas! - era a voz da Pipa. Estava ainda grogue de toda a anestesia que me tinha mdado. O golpe tinha sido profundo, mas pelos vistos, recuperaria rapidamente. Na minha barriga, uma enorme cicatriz de pontos e pele se erguia.
"Não se preocupe que isso fica sem se ver" - me garantira o médico que me tinha operado.
Tinha passado o dia anterior na unidade dos cuidados intensivos, só por mera percaução, sonhando todo o dia, sob o efeito das drogas que me tinha dado. Não me conseguia lembrar de nada e estranhamente, o meu corpo e a minha alma pareciam fazer um esforço para manter a minha memória apagada.
- Oi...
Pipa abraçou-me. Naquele momento senti-me uma pessoa querida, acarinhada, desejada... e mais que tudo, não só. A minha família tinha vindo de manhã mas logo partira. Nem tinha tido tempo para acordar como deve ser. Agora estava em mim e com uma amiga à mão.
- Meu paspalho! Assustaste-me!
- Pipa...
- Pipa não! Não me voltes a fazer uma coisa destas! - estava serena, apesar de tudo. Tinha vontade de me partir a cara, é certo, mas compreendia que algum motivo tinha eu tido para ter feito aquilo. Não aceitava o meu acto, preferia esquecê-lo de vez. Nem se quer queria saber o por quê...
- Estou bem... já passou.
- Acho bem! Se não eu...eu...Que nervos! Tu irritas-me sabias?
Rimo-nos um pouco para descomprimir. Falamos durante uma hora, até que Pipa teve de partir. Tinha um jantar com o Pedro, algures pelos lugares de Alcântara.
- Depois conta-me como foi!
- Oh! Se ele aparecer...
E dali saiu...
Nesse preciso momento...
*
- AH! AH! AHHHH... -Sofia gemia sobre o corpo de Bernardo. Tinah como sempre, atingido o climax, naquele selvático ritual dos fins-de-semana.
O apartamento estava todo desarrumado, como sempre... os seus corpos, logo no início do ritual, derrubavam mesas e cadeiras, arrastavam livros e discos para o chão. E todos os sábados e domingo, era Joana que lhe arrumava o quarto. A desculpa era sempre a mesma "Sabes como é que eu sou... nunca sei onde ponho as coisas". Ela, coitada, desconfiando do namorado, nada diziam enquanto o ajudava a arrumar...
- Já estás.... - disse-lhe Bernardo. E riram-se os dois, ainda com os corpos enterlaçados.
- Então, diz lá se eu não sou muito melhor do que ela!
- És diferente...
- Sou melhor!
- És mais pega!
- Bernardo! Sou uma donzela pura!
- E a donzela...quer mais uma voltinha no carroussel?
- Não dá querido! Tenho de ir.
Com muita pena de ambos, levantaram-se e tomaram o pequeno almoço nus. Vestindo-se, Sofia saiu do quarto do amante e foi à sua vida. Bernardo tomou o seu duche, limpando o seu corpo bem definido e vestiu-se, pronto para ir ter com a namorada oficial. Mas qual o seu espanto,m quando ainda dentro de uma gaveta, encontrou uma fotografia de alguém. Alguém que tinha humilhado, alguém que tinha já esquecido.
- Olha quem é ele...
Na foto, um rapaz sorria com cara de menino, tão novinho que parecia. Tinha na altura uns 20 anos, mas a cara era ainda de um rapaz de 17. Bernardo sorriu. Não por desdém, nem por maldade. Sorriu por pensar como a vida tinha mudado para ambos. Tirando, sem remorsos, a fotografia da moldura, despejou-a no lixo, rasgando-a em dois...
*
...Mariana entrou no seu quarto. Trazia o cabelo apanhado e cheirava a baunilha. O cheiro pareceu-me agradável e por isso virei a cara.
- Bom dia... Eu sou a Mariana, sou voluntária aqui no hospital. E você?
- Sou Carlos...
- Então Carlos... porque está aqui.
A forma como o disse foi inocente, mas inconveninente. Mariana tinha alguma dificuldade em trravar a língua. Dizia-lhe o que vinha à cabeça, sem pensar. E talvez isso me tenha alegrado ainda mais. ALguém espontâneo, alguém verdadeiro, alguém real.
Sorri.
- Olhe, tentei suicidar-me!
Ri-me sozinho. Mariana esbualhou os olhos e calou-se
-Não fique assim. Acontece a todos. A mim aconteceu há dois dias!
Mariana ficou branca e tremeu.
-Ah... eu...eu...tive uma esperiência semelhante hà uns tempos...
E assim começamos a falar. Alegramo-nos uma com o outro, falando da nossa solidão. Pela primeira vez, alguém me ouviu a alma. Pela primeira vez, falei abertamente com alguém que queria saber da minha solidão. Alguém que me compreendia.
Falamos durante 3 horas, até o horário das visitas acabar. Sorrimos um ao outro e abraçamo-nos, ainda que não nos conhecessemos bem. Despedimo-nos prometendo que um dia combinariamos qualquer coisa.
Nunca tivemos a oportunidade, mas para sempre aquele momento ficou.
Naquele momento... sentimo-nos queridos, amados, desejados, acarinhados e precisos....
E mais do que tudo...
Não sós....
3 Comments:
Finalmente a Mary falou contigo! =P hehe! E sim... se essa situação acontecesse mesmo eu queria estrangular-te quando tivesse oportunidade! =P Menino mau!
Gostei, keep going! ;) ***
João, seu parvo...fazes-me chorar! Não podia ter imaginado uma maneira mais "nós" de te ter conhecido...ainda por cima por causa da mnh incontinencia verbal que me dá mts dores de cabeça!
É vdd...és um amor!tds os posts dizes q eu sou bonita =P
lololol. E és doida! As minhas sereias são sempre lindas (kredo... pareço um homem das obras :P)
E eu adorei a forma como nos encontramos!
Pipa, conto ctg para me estrangulares se tal acontecer :P (k nao vai)
Bessos e cosquilhas! (lololol)
Enviar um comentário
<< Home