terça-feira, abril 03, 2007

O dia em que morreu Miguel

"O menino morreu!"
E grande alarido se fez no bairro
Porque o menino morreu.

Correm vizinhos à praça
Consolam Dona Gertrudes.

"Mas morreu como?"
A pergunta ecoa pelos vizinhos sobressaltados.

Ninguém sabe.
Ninguém quer saber!

Logo o sr. António corre à cena
Uma solução diz ele ter.
E que ninguém duvide dele!

O prático vizinho examina o corpo
"Está morto sim!"
Os ais multiplicam-se
Como se fosse uma nova verdade.

"Pois então chame a polícia homem!!"
Gertrudes grita, mas a ela ninguém ouve.

Pois não foram eles que cuidaram do menino em vida?
Cuidassem agora em morte.

Um caixote de farripas de madeira logo se fez
Qual jangada da salvação.
Mas este naufrago está morto.
De nada serve a perfeição.
Fez-se rude caixão onde dobrado coubesse o corpo
Porque o menino está morto!

Escava-se funda vala num baldio.
Funda até que não mais se veja
porque o menino morreu!

Morreu como?
Só sabe Deus, e mesmo Ele duvida!
Pois se quase dez anos passara ele
à fome
ao frio
à chuva
De que mal podia morrer agora?

Alguns gemidos chorados soltam-se das mulheres
O sr. António usa a sua razão superior
"Foi melhor assim".

O choro cessa e ninguém se atreve a negá-lo.
(E de facto, que demónios podem ser piores para o menino,
do que aqueles que foram seus vizinhos?)

Dona Gertrudes quer fazer um inscrição
onde está enterrado o memnino...
Mas qual? Dele não se sabe nome
aniversário
origem...

nada

Assim se retiram os vizinhos
Deixando a cova em branco
Pois já tarda o almoço
E o menino está morto, que adianta?


Pois que a morte de Miguel
seja igual à sua vida...

7 Comments:

Blogger Pips said...

Bom... sabes que eu nunca fui boa a analisar poemas, né? ("tava a colher frutos!", acho que diz tudo! xD). Mas gostei mesmo muito deste! Apesar de falar de morte ;)

Kisses ***

3/4/07 15:27  
Blogger Greenish Fae said...

As pessoas geralmente tem uma ideia muito negativa da morte... Mas ninguem sabe o que e ao certo! Nunca ninguem foi ao outro lado e voltou (pelo menos que eu saiba). A morte pode nao ser o bicho de sete cabeças que fazem dela. Acredito que em alguns casos e inclusive o melhor que nos pode acontecer, estou a referir-me a morte fisica, claro. Porque ha mortes bem piores que essa, mortes em que ainda respiramos e ("biologicamente") estamos vivos mas ja desistimos da vida ha muito tempo.

«Quando tiramos a vida aos homens, não sabemos, nem o que lhes tiramos, nem o que lhes damos.»

3/4/07 20:34  
Anonymous Anónimo said...

Se mais alguma vez tu te atreveres a dizer que não tens jeito para a escrita dou-te tanta porrada que vais daqui até aos açores!!!

Devias investir na poesia mé. Tens um dom natural para o sentir! E melhor do que todos nós, consegues mostrá-lo na escrita! Em qualquer estilo. és uma genía!:P

I bow before you :D

3/4/07 21:45  
Anonymous Anónimo said...

Não sei se e assim que se escreve ajoelhar xD

3/4/07 21:46  
Anonymous Anónimo said...

lolol
eu tb n faço ideia jonny, mas acho que estas a exagerar =P

mt obrigada aos meus monstrinhos!

4/4/07 12:14  
Blogger Greenish Fae said...

Permite-me discordar. Concordo com o John of the mermaids. Quem está a ser excessivamente modesta és tu Mé :)

4/4/07 13:20  
Blogger PZ said...

Tens mesmo jeito para a coisa;)
What more can i say!?
eheh

9/4/07 19:38  

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