terça-feira, maio 08, 2007

Contagem regressiva para o fim da alma - 15º dia

- Senhora enfermeira.
- Si doutor.
- a enfermeira dos cuidados intensivos de Santa Maria era espanhola. Vivia há uns 8 anos em Portugal. Tinha começado por ser empregada de limpeza no Hospital de São José, depois tinha sido promovida a técnica auxiliar de enfermagem. Tinha então decidido que o seu futuro era como enfermeira. Tirara o curso na universidade pública e tinha logo sido contratada. Falava mal português que era uma alegria, mas compreendia extraordinariamente bem a nossa língua e escrevia-a melhor do que muitos portugueses.
- Já mediu a tensão do doente da cama 3?
- Si. Extá muiiitó ban!
- Cruzes mulher... ainda não consegue falar português normal?
E riram-se os dois. Tinha sido operado durante a noite, sem grandes problemas. Nunca tinha estado em perigo de morrer. Tinha apenas perfurado uma parcela muito pequena do lobo inferior do fígado. É certo que tinha perdido muito sangue e tinha ganho uma infecção localizada. Mas não estava com uma infecção global. Por isso, seria recambiado ainda nesse dia para outro serviço.
- Oié. Hay despertou! Como si sinto?
Ri-me... talvez com vontade.. talvez porque estava sobre o forte efeito de antibióticos, que teria de tomar por mais 8 dias. Tinha passado o dia anterior, como medida de precaução nos cuidados intensivos, cheio de tubos, comendo arroz e um bife grelhado, que fazia inveja aos meus companheiros de serviço, todos entubados, que de certo, me desejavam a morte por aquilo.
- Sinto-me bem.
- Pronto!
- tinha irritado a enfermeira. Sem eu conseguir reagir, senti uma picada forte na veia do braço. Estava-me a tirar sangue para análise, com uma brutalidade tal que quase chorei. Só por que me tinha rido da sua maneira de falar...
- Vá, senhora enfermeira! Não seja assim. Estas serão as última horas deste rapaz aqui!
- Vou-me embora?
- Vai para outro serviço. Não se justifica a sua presença aqui.
- E para casa... quanto tempo precisarei para recuperar?
- Pouco. A lesão foi muito pequena. Mas estava a ver que patinava na mesa de operações, ontem! Esses gatunos fizeram-no perder muito sangue.
Corei sem querer e baixei os olhos. O médico compreendeu e retirou-se. Nesse dia passei para uma sala qualquer nas urgências, uma sala onde eu parecia ser aquele que estava em melhor estado...

*
- Patrícia, prende-me esse cabrão!
- Elá! Já se falou melhor Joana.
- Esse anormal deu-me uma pancada no carro e ainda me quis dar porrada!
- Anda lá. - Patrícia levou o homem de meia-idade, que praguejava contra Joana.
Joana sentou-se à sua secretária e olhou para o calendário.
- Ainda bem que hoje é sexta-feira...Ó MEU DEUS!!!- berrou, fazendo todos os presentes saltar. - HOJE É SEXTA! É dia de flores! E olha como eu estou! Com o cabelo entre a Shakira e o Elvis!
Nesse momento, sem avisar, Bernardo entrou pela a esquadra a dentro, carregando um largo ramo de flores. Era dálias, desta vez. Belíssimas dálias carregadas de perfume e de cor. Trazia consigo aquele cutelante sorriso e aquele olhar de serpente. Trazia no corpo a vontade de beijar Joana, não por ser ela, mas porque a sua vida se resumia a isso: Conquistar todos aqueles que com maior ou menor esforço, se vergavam à sua vontade. Era na verdade, tudo um jogo. Ele era o mestre perfeito que tudo controlava. As suas vítimas várias casas avançavam até caírem na ratoeira. Quando o jogo deixa de ter piada, tudo de novo recomeçava com outra vítima. Só Sofia parecia conhecer as regras silenciosas daquele jogo. Só ela as deturpava e as transformava para seu proveito.
- Oi linda. - disse ele, cuspindo o seu veneno.
Beijaram-se.. as suas línguas e os seus lábios rodando em movimentos carnais e de prazer. Traziam a vontade selvática de se perderem por entre os corpos um do outro. - Já saíste?
Joana olhou para o seu relógio. Faltavam 35 minutos.
- Falta um bocadinho. Por que não vais para o café? Vou lá ter depois.
- Tá bem... Não te demores.
E de novo se beijaram como se não houvesse amanhã
.
*
Bernardo entrou no café, onde todas as sextas desfrutava da companhia da sua namorada. Era ali que também trazia as suas conquistas e era ali que muitas vezes procurava as suas presas. Assim, ali sozinho, não podia perder a oportunidade de mais uma vítima fazer. Olhou à volta e viu-a.
Trazia uma leve camisa azulada e umas jeans justas. Tinha um ar simpático e era muito bonita. Mas... e a outra, no outro canto do café? Estava indeciso. Escolheu a rapariga que estava mais próxima.
- Posso?
*
Mariana disse que sim. Achou estranho alguém vir falar com ela. Seria daquela camisa? Não estava com disposição para grandes conversas. Estava farta daquela gente de café e de tudo. Tinha feito asneira da grossa no dia anterior e quase não estava ali para contar a história.
- Eu sou o Bernardo.
Um arrepio desceu a sua espinha. Algo nele lhe fazia ficar de pé atrás.
- Ah.. eu sou... sou a Cláudia- achou por bem inventar um nome
- Então menina, o que faz aqui sozinha.
- Não estou sozinha.
- Não?
-Não, não vê tanta gente à nossa volta?
- Ahahah. És sempre assim tão espirituosa?
- É, se não se importa. Não o conheço de lado nenhum!
"Que se passa?" - pensou Bernardo. Porque não estaria ela a cair no seu charme.
- Não é preciso ser tão brusca!
Mariana continuava a sentir-se muito mal ali. Tinha sido uma péssima ideia ter dito que ele se podia sentar.
- Desculpe. - Levantou-se. - Tenho de ir..
E dirigiu-se ao balcão. Afastando-se do namorado da sua amiga, que só muito mais tarde, viria a conhecer.
*
Bernardo olhou o relógio. Faltavam ainda 10 minutos para que a Joana chegasse. Assim, Levantou-se e dirigiu-se para a sua segunda vítima. Mariana olhou pelo espelho atrás do dono do café e viu que ele se dirigia para outra rapariga. Para si exclamou "Que típico", revirando os olhos.
- Importa-se que eu me sente consigo?
*
Pipa estava a ler o jornal quando ouviu aquela venenosa voz. Sem baixá-lo, respondeu-lhe.
- Por acaso até me importo.
Bernardo reconheceu-lhe a voz. Como não a tinha reconhecido? Pipa baixou o jornal.
-Não gosto de tomar café com gente venenosa e traidora.
- Pipa... eu...
- Filipa se não te importas. Que lata... Tu não aprendes mesmo pois não? Depois do que fizeste ao Carlos.
- Eu.. - Pela primeira vez, Bernardo perdera a lábia. Parecia um cão perdido, tremendo de medo daquele ser que o dominava.Enrolava as palavras e mastigando-as lá as ia dizendo.
- Tu o quê meu Anormal?
- Eu...não sei...
Pipa levantou-se então e sem que houvesse reacção por parte do rapaz, atirou-lhe o café ainda quente para as virilhas.
- Ah, e já agora. Por que é que não vais enfiar a mesa pelo cu acima?
Mariana aplaudiu. Mais raparigas, apesar de não perceberem o que se estava a passar, fizeram o mesmo.
Finalmente, Bernardo era humilhado...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

LLOOOLL! girl power!!!

muito pipa, de facto. adorei!

8/5/07 20:53  
Blogger Pips said...

LOLOL! xD Eu gostava de ser assim na vida real! Lindo! Adorava fazer isso a alguém! =D muito girl power! Viva!

Está muito fixe mesmo! You go boy! ;P ***

8/5/07 23:17  

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