Ugly Zandra (achados VII)
- MERDA!- gritou Zandra, martirizando-se mais um pouco, por nenhum rapaz ter respondido ao seu desesperado pedido de ajuda, naqueles sites estranhos em que as pessoas se apresentavam feito uma mobília qualquer, num catálogo que chegava pelo correio.
Zandra era uma rapariga estranha. Ou assim lhe tinham comentado a foto, certa vez. Tinha uns olhos belíssimos, de um verde cristalino, assemelhando-se a grandes esmeraldas cravadas na cara, na sua pele muito branca, contrastando fortemente com os seus cabelos ruivos, quase da cor da cenoura.
Toda a sua vida tinha procurado alguém. Ou assim ela se sentia. Não procurava príncipes encantados... já sabia muito bem que não existiam... apenas procurava alguém que uma vez na vida lhe dissesse: "És linda.", sem que viesse acompanhada daquela fatídica frase: "Lá estás tu a dizer que és feia!".
Sentia-se só. Sentia-se perdida. Tinha é certo amigos, mas mesmo esses olhavam-na como uma grande amiga que inevitavelmente ficaria para tia...
De facto, Zandra não era uma deusa. Tinha o nariz ligeiramente torto e empinado, consequência de um acidente numa aula de educação física; Usava uns óculos enormes, pretos, que lhe carregavam a cara e a envelheciam vários anos; Tinha um corpo demasiado magro para a sua idade, apesar de se esforçar todos os dias, para comer pelo menos o dobro das calorias que as pessoas dita "normais" deveriam comer. O seu pequeno-almoço era sempre uma bela de uma sandes cheia de um produto qualquer que se parecia com o chocolate, mais um prato de ovos mexido com bacon. Isto só o pequeno-almoço, porque o almoço dava para alimentá-la, bem como vários parasitas que pudessem habitar o seu aparelho digestivo.
- Mas por que é que ninguém responde?- Zandra desesperava. Já tinha até deixado mensagens aos homens mais horrorosos do site! Até já lhes tinha deixado mensagens do tipo " Não quero amor, só quero uma queca!".
Mas nada resultara. os homens eram pelos vistos "picky", no que tocava a mulheres.
- Bah! Vou espairecer.- Zandra agarrou as chaves e saiu. Decidiu que iria passar a tarde a fazer o que mais gostava. A visitar o museu Pergamon, admirando as estátuas antigas, que desejava ela, poder criar.
*
- Acho que fizemos bem Marco. A Bélgica não me soava tão bem como a Alemanha.- disse Miriam no seu português por vezes entermelado
- Sabes que é me indiferente...
- Por quê?
- Porque já vi tudo isto... além do mais, o que importa é que possa estar contigo...
- MARCOS!-Miriam estava a evitar aquele assunto desde Paris. A paixão de Marco não poderia ser aquilo de que ela precisava no momento.
- O que é?
- Eu gosto imenso de ti, és um rapaz espectacular, mas vamos tentar ser amigos!
- Tem mesmo de ser?
- SIM!
- Está bem.- disse fingindo-se desapontado.
- Amigos?- perguntou Miriam estendendo a mão. Marco reagiu pregando-lhe um beijo na boca. Miriam não reagiu de início, até que a consciência se sobrepôs ao coração, afastando-o.
- Então? Estavas a gostar! Miriam... Miriam... Vá lá. Espera por mim.
E assim voltou a corrida do rato e do gato.
*
- Estou a ficar farta disto...
- Também Sofia. Vamos embora?- Pipi entrara naquele museu, arrastando Sofia, simplesmente porque tinha visto um rapaz "podre de bom" a entrar. No entanto, as suas fantasias desvaneceram-se logo de seguida, quando ele se pôs a beijar uma rapariga qualquer.
- Que indecência!- exclamou ele histericamente, indignado.
- Que dor de cotovelo, queres tu dizer.
E assim tinham entrado no museu Pergamon.
- Ai não. Isto é mau demais! Já viste aquela feiosa? - Sofia cuspia crueldades atrás de crueldades, tentando esconder a dor que sentia. - Faz-me lembrar aquela pega da Vera e tudo!
Pipi já ignorava. Sabia que aquilo tudo era um embuste, uma fachada, uma máscara para cobrir as lágrimas que estavam de cinco em cinco minutos a quererem rebentar os olhos de Sofia.
- Oh, coitada. Nem toda a gente nasceu linda, como nós! Ao menos tem bom gosto. Já viste aquela saia. ADOREEEEIIIII!
- Controla a piriquita pipi. Não te metas a fazer amiguinhos, que foi assim que ficamos com a Miriam, a santa!
- Oh. Caluda mulher! Que vívora! Tu adoras a Miriam, só não descobriste ainda! E além do mais, também fizeste um amiguinho!
- Quem?O Marco?
- Sim!
- O coitado só faltou implorar! Além do mais, é giro como tudo. Pode ser que o leve para a cama!
- Sim sim...
- Achas que não sou capaz?
- Claro que não! Ele ainda se há-de casar com a Miriam.
- Não disse o contrário! Nada o impede de "comer por fora"!
- Ah.... que tal moral?
- Credo Pipi.... estás a tornar-te na Miriam!
Sofia saiu de ao pé dele e dirigiu-se para a zona das estátuas onde se encontrava Zandra. Entreolharam-se as duas.
- Hmmm, que bela peça de museu! Não sabia que deixavam entrar peças tão feias como estas!- disse Sofia cobardemente, em português, para que Zandra não percebesse.
- Hmmm. Precisas de ajuda? Certamente que não consegues perceber nada do que está aqui escrito. Além do mais, esta zona da escultura não tem homens despidos... coitada, deves estar desiludida!
Sofia corou. Zandra era filha de uma alemã, Anna Von Zinger e de um imigrante português, António Silva. Por conseguinte e por que o pai era muito "patriótico", Zandra andara durante vários anos numa escola portuguesa.
Sofia correu dali para fora envergonhada. Tinha ficado completamente sem resposta.
- Onde vais?- gritou Pipi, vendo-a fugir.
Zandra sorriu para si, contente por se ter defendido.... mas não conseguia deixar de pensar no sofrimento que o comentário lhe causara.
Todos temos um ponto fraco... era difícil quando este se encontrava à vista de toda a gente...
2 Comments:
"És linda.", sem que viesse acompanhada daquela fatídica frase: "Lá estás tu a dizer que és feia!".
Em adição ao final...já te disse alguma vez que és genial?
Já agora, pq é q a Zandra faz lembrar a Vera?
lolol. Não faz! Era só a Sofia a aparvalhar!xD.
Pk dizes k sou genial?:P
Sabes que essa palavra faz-me lembrar outra coisa xD
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