domingo, janeiro 13, 2008

Metamorfoses (achados VIII)

Zandra fechava atrás de si a porta. Aquele tinha sido um dia cansativo... mais até do que o anterior, em que estivera todo o dia a cuidar das crianças no seu emprego.
Zandra era educadora e infância, no mesmo colégio português que a vira crescer. Todos os dias acolhia pais e mães, alguns recém-casados que se deleitavam em lhe esfregar na cara, de forma cruel mas inconsciente a sua grande aliança, feita de sei lá o quê, acabadinha de vir de uma loja qualquer da baixa de Berlim.
- Cada vez estou pior. - disse olhando-se ao espelho. A visita ao museu tinha sido em vão. Não ia lá para ver esculturas que uns velhos gregos tinham feito, havias inúmeros séculos. Todas as semanas passava pelo museu, à quinta-feira, quando era grátis a entrada, para ver se encontrava um certo segurança que uma vez a tinha topado.

*

- Desculpe minha senhora.
- Sim? - perguntou ela, na primeira vez que o tinha visto no museu. Corou, ficando vermelha que nem um tomate.
- Eu não a queria incomodar, mas...
- SIM?- disse quase suspirando, esperando aquelas belas palavras: "gostaria de ir tomar qualquer coisa comigo?"
- ... mas importa-se de deixar de tocar nas estátua. Não vê o sinal?!
Zandra corou ainda mais e afastou-se dali em pânico. Tinha sido extremamente arrogante o segurança, mas não podia deixar de se sentir atraída pelo seu corpo volumoso e enorme, pelos seus belos e sinceros olhos castanhos e o seu cabelo cheiroso, negro como a noite.

*

- Cá para mim ele foi despedido! - suspirou, voltando ao presente.
Olhou em volta, procurando o seu voice mail. Tal já tinha sido o seu desespero que já tinha comprado entretanto 3 voice mails, na eventualidade de o presente estar avariado.
- Aqui está.
O seu coração bateu mais forte. A luzinha vermelha brilhava com intensidade, dizendo que havia pelo menos uma mensagem.
- Já não era sem tempo.
Carregou no botão.
"Recebida hoje às ..."
- Vá lá!!! despacha-te!
- "Olá Zandra" - era a voz do seu pai. A respiração que até então se acumulava no alto dos seus pulmões, retomou o seu ritmo.- "Eu e a mãe estamos à espera de saber se vens passar a passagem de ano connosco!Diz qualquer coisa minha bruxinha."
Bruxinha era a sua alcunha desde a infância. Tinha o nariz torto e por isso, desde pequena que se faziam piadas à volta do mesmo. Para não falar da verruga que em tempos habitara a sua cara e que tinha uma certa tendência para acumular pêlo.
Esses tempo lá iam. Mas Zandra ainda tinha as marcas gravadas no seu espírito.
-Bom... vou sair outra vez!
*
- Sofia!- Miriam, Pipi e Marco gritavam na rua. Sofia tinha desaparecido da face da terra.
- Não viste para onde ela foi Pipi?
- Não Miriam. Ela estava a gozar com uma rapariga que lhe disse qualquer coisa. Quando vi, a Sofia estava a correr vermelha e derrubando tudo à frente. Tive de ajudar uma velhota a levantar-se!
- Vamo-nos separar!- sugeriu Marco.
Cada um foi para seu lado. Miriam experimentou entrar de novo no museu, procurando-a no recantos mais escondidos.
Marco seguiu em direcção à pousada onde estavam. Pipi decidiu ir ao café onde tinham estado na hora do pequeno-almoço. Em parte voltava lá pela Sofia. Mas uma parte de si tinha vontade de voltar a admirar o belo rapaz "não-gay" como frisara, para seu desgosto, Miriam, que servia às mesas.
- Sorry. Do you speak english?- perguntou ele ao dito rapaz.
- YEZ!
-Can you tell me if this girl is here?- perguntou Pipi apontando para a fotografia que haviam tirado em Paris, com Miriam.
- No. I zinc not!
- Thank you.- agradeceu Pipi, saindo do café.- Bah! Onde te meteste rapariga.
- Ahahahah!- do outro lado da rua, num beco, Sofia ria lambuzando-se com os lábios de um rapaz moreno que também trabalhava no café onde tinham tomado o pequeno-almoço.
- SOFIA!- gritou Pipi.
- Ah! Oi. Que estás a fazer aqui!- dizia ela rindo-se mais um pouco.
- Estamos todos à tua procura. Estávamos preocupados.
- Ai sim! Não faz mal.... eu estou... ahhh. Pára!Eu estou bem como podes ver!
Pipi estava a sentir a cólera a subir-lhe pelo corpo! Ele tinha mudado, nestes últimos tempos. Tinha percebido que o riso por muito bom que fosse, era apenas uma forma de esconder a sua tristeza. Percebera isso graças a Miriam, que cada vez mais se tornava naquilo que nunca tinha tido. Uma melhor amiga.
- Pipi!- gritou Miriam ao longe. Vinha acompanhada de Marco.
- Então, já a encontraste?- gritou ele.
Pipi respondeu apontando para a frente. Mal Marco e Miriam chegaram ao local, Pipi disse que tinha de ir espairecer. Os dois perceberam a sua raiva e prometeram resolver a situação. Marco andou com um ar severo que não lhe era característico para Sofia. O rapaz que a acompanhava afastou-se temendo-o. Sofia encarou-o.
*
- Que seca.- Zandra estava pela 3ª vez à porta daquele cabeleireiro. Era o mais prestigiado de Berlin (e também o mais caro). Mas talvez, com muita sorte, eles poderiam transformá-la em alguém apetecível.
- É desta Zandra! Tu vais entrar. - dizia ela para si própria, mas recuava de novo.
Nesse preciso momento, Pipi, que andava distraído, chocou contra ela.
- AI!- gritou ela, caindo para o chão.
- Desolé!AH! Quero dizer.... ai merda, como se diz desculpa em alemão?!
- Traurig!- a Rapariga chorava em soluços sufocados.
- Isso... peço desculpa. - disse por fim em português.
- Não faz mal... eu é que não estou a ter um bom dia...
- Posso ajudá-la?
- Trata-me por tu se faz favor... já me sinto feia! Não quero também ser chamada de velha!
Pipi riu-se com vontade. Finalmente reparara quem ela era. " A miuda do museu", disse para si próprio.
- ORA, NÃO ÉS FEIA! És... diferente....- disse no seu tom abichanado e excêntrico.
- Obrigado... ajudaste-me imenso... Mas também, sendo amigo de quem és...
- Não me compares com...- disse Pipi, mas calou-se. Em tempos fora igual a Sofia, agora tentava ser uma pessoa nova. Ainda era ninfomaníaco, mas essa parte não interessava nada. - Sabes uma coisa? Vou-te ajudar!
- Desculpa?!
- Anda daí!- disse agarrando-lhe o pulso e entrando dentro do cabeleireiro.
*
- Ele nunca mais chega... estou a ficar preocupada...
- Também eu.- Marco andava de um lado para o outro. Não se dava mal com Pipi. Ele era simplesmente excêntrico, mas divertido. Talvez um dia poderiam ser amigos. Mas não ali. Não enquanto ele continuasse a fazer a cabeça à Miriam, lhe dizendo para pensar bem antes de se colocar numa nova relação.
- Cá para mim, está a fazer o mesmo que EU ESTAVA A FAZER, ATÉ ME ESTRAGAREM O DIA!- gritou Sofia da casa-de-banho.
Miriam e Marco tinham praticamente arrastado Sofia da rua, dizendo ao rapaz para se ir embora. Gritaram os dois com ela. Ela respondeu. Cada vez mais, Marco perdia a paciência com ela.
Miriam era no entanto sua amiga, ou assim se achava. Tinha sempre uma grande capacidade de perdoar e de acreditar nas pessoas. Este talvez fosse o seu maior dom, ou o seu pior defeito.
Nesse momento, alguém bateu à porta.
Miriam correu para ela, abrindo-a.
- Oi! Desculpem a demora. Eu e a Zandra fomos às compras.
Sofia saiu da casa-de-banho e olhou para a rapariga. Era a mesma do museu. Com a vergonha voltou a entrar na apertada e imunda divisão, espreitando por uma brecha na porta.
- Não é possível! - exclamou estupefacta.
À sua frente, erguia-se a figura esbelta de uma ruiva, vestida com um leve vestido verde escuro.Toda ela brilhava e emanava beleza.
Até Marco, que só via a Miriam à frente, acabou por dizer.
- Eu morri e estou no céu...
Miriam não pode deixar de sentir ciúmes. Mas como pessoa educada que era, disse:
- Ele quer dizer... sê bem-vinda!
Zandra agradexceu. Sentia-se transformada. Sentia-se ainda feia por dentro, mas ao menos, conseguira esconder o seu "maior defeito".

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Peço desculpa pelo MEGAPOST!Mas é que quando comecei a escrever, só tinha duas ideias. Quando vi, já as tinha desenvolvido em excesso!XD

Beijos

john

13/1/08 18:40  
Anonymous Anónimo said...

Já agora. Alguém sabe se Traurig é o mesmo que Sorry. Eu pedi para o babel fish do altavista traduzir!xD

13/1/08 18:41  
Anonymous Anónimo said...

Ainda n me consegui por a par disto, mas adorei o "i zinc not" xD
Miss you babes*

13/1/08 23:08  
Anonymous Anónimo said...

JO! She lives =P

Pode parecer uma pergunta parva...mas qual é o meior defeito da Zandra?

Até pode estar enorme, mas quanto mais dás para ler mais vontade eu tenho de ler e é muito chato porque é suposto eu já saber o que é q Benjamin pensa sobre a aura e o traço =P

14/1/08 12:55  
Anonymous Anónimo said...

Jooooo!!! Hi babe! I zinc I miss you!XD. Vê se les tudo, quando puderes.

Mé, what the f... are you talking about?!xD. Qume é o benjamiiin?:P.
A Zandra é a personagem no meio desta gente toda que se acha horrível. Supostamente o seu maior defeito, na visão dela, é a sua fealdade exterior!
Resumnindo, ela diz para si própria:
"Xiiiii... és tãaa feaaaa!"
:P
Mas se calhar não é!
Faz lembrar alguem? :P

Beijos

Pipaaaaaa. Faltas tuuu... Snif. Já num beijo um comentario teu À seculos. Nem que seja:
"A enzima tal procria com a outra!"XD

14/1/08 14:12  
Anonymous Anónimo said...

Também achei que era isso =)

Não faço ideia de quem te faça çembrar =P

O Benjamin é féo

14/1/08 15:29  

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