sábado, maio 12, 2007

Contagem regressiva para o fim da alma - 14º dia - III

Não comecem já a ler!
http://www.youtube.com/watch?v=xZkgCLjLzU4 (ponham no pause para ir fazendo o download. Não comecem a ler até a barra ficar toda vermelha. Quando estiver comecem a ler.)

3:57

- Parece que já se acalmou, doutor...
- Longe disso. Parece que está num sítio seguro.
- Você acredita mesmo nessa treta da alma e o corpo?
O médico olhou para a enfermeira estupefacto. Como? Como poderia uma enfermeira pensar assim? Se fosse um médico, ainda seria de se esperar. O modelo biomédico ainda se empunha, o "homem como uma máquina", um conjunto de peças e não um todo.
- Essa "treta" aparentemente distingue as pessoas más, incultas e preconceitosas, das sãs, iluminadas e majestosas, senhora enfermeira. O que está acontecer nesta mesa é uma prova disso. Este rapaz precisa de matar os seus fantasmas, para conseguir soltar-se e viver!

*
Estava de novo sozinho. Desta vez, estava deitado no escuro, deixado ao brilho iluminado do luar. Chorava e ouvia a minha ópera... a minha música, ali sentado com a minha solidão. A música entrava-me pelas veias e fazia-me tremer, não por dor, nem por prazer... tremia apenas porque finalmente, alguma emoção me entrava no corpo, na alma e no coração.
Cantava José Carreras, uma ária da Tosca... uma das minhas favoritas... Tudo parecia parar naquele momento. A respiração parava em cada pausa, como se fosse eu a cantar aquela canção. Não a podia cantar, é certo. Mas naquele momento eu não era eu... era alguém igual ao Mário... a personagem que desesperada, cantava pela sua vida. Dizia a sua tristeza e o seu amor por alguém... Dizia a sua solidão naquela cela. Dizia a sua alma.
Eu? Chorava... chorava em cada nota, em cada lamento...
Subitamente o mundo parou. Comecei a lembrar-me de tudo e todos os que me tinha feito mal... os que me tinham odiado sem razão...
Chorei... chorei por todos aquele que nunca me tinham conhecido, por que os tinha afastado... chorei por todos aqueles que não me queriam conhecer...
Chorei pelo gemido de dor da personagem... pelos seus medos e inseguranças... chorei pelos meus...
Chorei pela minha raiva... chorei pela força que me deixava. Chorei pela tristeza! A tristeza e solidão que me prendiam àquele luar.. àquela vida...
Mas que podia eu fazer? Não tinha escolhido aquele caminho, apenas o tinha aceite. Não tinha dito aos deuses, que tanto culpava para fugir da minha culpa, nem ao destino: ´"É por aqui que quero ir".
Senti-me então a desligar-me.. a ir com a vontade de me perder... Senti de novo a vontade de morrer...
- Luta! Luta! - disse para mim, me lembrando das palavras das três raparigas que nos sonhos me apareciam... - Luta!
O meu corpo obedecia... a minha alma não. Estava ferida... estava cansada. Cansada da vida e do medo do fracasso. Para ela chegara a altura de partir...
Chorei mais um pouco... por partir e deixar tanta gente que me odiava... Chorei pelos poucos que me adoravam e que deixaria... Chorei por mim, pelo Bernardo... por aqueles que por ele seriam magoados...
Chorei e Chorei...
No escuro deixado a sofrer...
Enquanto as palmas do público se faziam ouvir...
*
4:35

- Vê senhora enfermeira... Material de reanimação!
Todo o pessoal do serviço vinha apoiar aquela equipa. Todos me rodeavam lutando para que eu vencesse a morte...
- Vá lá! - gritou o médico uma e mais outra vez. As enfermeiras corriam feito loucas, buscando químicos e remédios para me reanimar. Uma segurava-me a cabeça e ventilando-me manualmente... outra segurava-me as mãos, uma estagiária de enfermagem que não tinha nada para fazer.
- Luta! Luta!
Eu quase que os ouvia, na parte de trás, lá ao fundo, longe da minha consciência. Não sentia dor, nem tristeza nem nada... estava apenas solto, livre, voando sobre os meus problemas.
Pela minha cabeça, passavam milhares de pensamentos, e neles vi tudo. Todo o meu passado, todas as alegrias e tristezas que nele habitavam. Se tivesse mais lágrimas e se estivesse consciente, teria de novo chorado... mas estava seco... estava quase morto...
Após 30 minutos.. o meu corpo não poderia ser reanimado... Ainda faltavam 10 minutos....O médico não queria desistir, mas nada mais havia a fazer...
*
Estava vestido de branco, sentado junto a um longo rio. Os meus pés sentiam a sua temperatura quente. Estava livre, mais leve, mas ainda pesado, como se a minha alma não se tivesse libertado dos seus males...
- Carlos.
Virei-me...lá estava ela, qual angélica menina. Trazia também ela vestes brancas, cobrindo o seu corpo branco. Os seus cabelos castanhos, caiam-lhe pelas costas. Nas suas orelhas tão pequeninas, dois brincos verdes, em forma de espiral, se faziam pender.
- Quem és tu?
A rapariga sorriu-me.
- Sou o último mensageiro... Mariana alguém me chamou um dia. Mas sou a tua consciência, sou o que resta da tua alma.
- Estás a perder o teu tempo.
- Por quê?
- Porque a minha alma não quer voltar.
- E o que é que tu queres? - a pergunta feriu-me. Como sentiria eu aquilo? Não tinha mais corpo, apenas alma.
- Eu...eu...
- Tu queres viver! Queres mudar o mundo com a tua voz e com a tua escrita. Queres para todo o sempre ser lembrado. Queres assim corrigir o teu passado!
- Mas isso é impossível!
- Por quê?
- Olha para mim... porque haveria eu de ser lembrado.
- Porque nunca te esqueceste dos outros. Só de ti!
- Esqueci-me sim!!!
De novo me sorriu. Tinha um riso menineiro e uma cara pura de anjo.
- Se tu o dizes...
- Mas como eu te disse... não vale a pena. Não quero voltar. Não mereço voltar.
- Sabes por que é que tens de voltar?
Olhei-a confuso
- Por quê?
- Porque não chegou a tua hora. Ainda precisam de ti.
- Mas eu não mere.. - interrompeu-me. Tapando-me os lábios com a mão.
- Nunca te esqueças disto... se há alguém que merece ser feliz, és tu!
Mariana desapareceu e com isto me pus em silêncio.
*
5:08
- Merda! - 13 minutos depois... estava morto.
- Vai declará-lo?
- ... Hora do óbito... 5:08 - O médico deitou a sua máscara fora. O fígado estava salvo, bastava cozer o pobre do rapaz. - Vê senhora enfermeira... a alma venceu.
Raivoso o médico descarregou no corpo inerte. Um soco profundo, bateu-me no centro do peito.
As enfermeiras começaram a coser...
- BIP. -a máquina fez, por uma vez. O médico voltou-se estupefacto. As enfermeiras pararam também olhando confusas uma para as outras.
- BIP...BIP...- duas vezes e todos se mantinham paralisados
- BIP...BIP...BIP....BIP... - e o meu coração de novo voltou a bater.
- É um milagre! - exclamou a estagiária.
O medico saltou de alegria assim como as enfermeiras. Eu iria ficar bem. Trataram de mim e mandaram para os cuidados intensivos, com as instruções de que nada me dissessem sobre a minha morte e retorno. Deveria ficar um dia nos cuidados intensivos e outros tantos em observação.
*
18:46
- Bom dia! Como extá si sintindo? - uma pronuncia espanhola ouvia, deitado na minha cama. Sorri por me perguntarem como me estava sintindo. E de novo adormeci. De nada me lembrava, nem da morte, nem dos flashbacks... nem da conversa com as minhas quatro mensageiras...

5 Comments:

Blogger Pips said...

A mé é uma anjinha! =) yeee! Ocê voltou!

Gostei do pormenor da musica, hehe! ;)

Muito bom Carlinhos, ai! Carlinhos não, porra! xD Laranjinha! ;P

Bjs ***

12/5/07 19:38  
Anonymous Anónimo said...

lolololol. Thanks! Vai haver mais musica, nos posts mais importantes da vida do carlinhos!;). E na proxima saga será um por post!:P

Love youuuussss

Bjs

12/5/07 19:51  
Anonymous Anónimo said...

- Porque não chegou a tua hora. Ainda precisam de ti.
- Mas eu não mere.. - interrompeu-me. Tapando-me os lábios com a mão.
- Nunca te esqueças disto... se há alguém que merece ser feliz, és tu!


E mai nada! =)
E é mesmo verdade...eu preciso de ti....e vamos ser mega felizes para smp =D

É vdd, confesso q fiz batota...tive de voltar a ler com a música desligada...

12/5/07 21:21  
Anonymous Anónimo said...

Esqueci-me de dizer...gostei mt de ser a parte que resta da tua alma e da tua consciência...felizmente para ti, a tua alma ainda é bem maior do que eu =D

12/5/07 21:36  
Anonymous Anónimo said...

lolol. Brg mé. Achei que sim. Aquela frase foi dita pela crala no dia dos meus anos e pela marlene mendonça. Não sei pk mas mudou-me. Fez-me dar o salto!;). Love yousss

John

12/5/07 22:46  

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