domingo, junho 10, 2007

Vidas IV (by Joana)

Ela levantou-se. Olhou para o corpo iluminado pela luz matinal que despreocupadamente repousava por entre os lençóis revolvidos.
Casamento? Como a maior parte das mulheres, a ideia já lhe passara pela cabeça. Um dia de sonho, com a pessoa perfeita ao seu lado, o tipo de amor verdadeiro. Aquilo que ela tinha e na noite anterior lhe parecera tão maravilhoso e que ela aceitara sem pensar duas vezes, entregando-se àquele pedaço de céu que era ele. Olhou-se ao espelho. Não se encontrou na imagem baça que estava à sua frente. Talvez fosse melhor parar com os raciocínios. Alguém certa vez lhe dissera que quando pensamos menos nas coisas, elas correm melhor. Despachou-se a arranjar-se, tinha uma reunião com um cliente importante e os pensamentos já a tinham atrasado.
Olhou para ele uma última vez: possuía a serenidade de uma criança a dormir. Beijou-lhe a testa e saiu, sabendo que ele ainda ficaria ali. Eram 9h00.
Cerca das 10h11, ele acordou. Sentiu o vazio que ocupava o lado direito da cama. Ela já saíra. Sentia-se feliz, realizado. Nunca pensou um dia vir a sentir tal coisa, mas a verdade é que ela lhe transmitia uma segurança e uma paz que sempre julgara apenas existirem em contos de fadas.
Ele amava-a e se alguma incerteza houvea, agora não tinha dúvidas que ela era a mulher da sua vida. Levantou-se, o corpo desnudado. Olhou-se ao espelho. Viu um homem forte, com certeza e com um caminho a trilhar, um caminho que passava pela felicidade junto dela.
Ainda se demorou em casa dela. Tomou banho, dirigiu-se ao seu cantinho no armário, vestiu-se. Sentiu-a ainda ali, naquele pequeno espaço, que era tão dela, mas que tinha tanto de si.
Saiu, e dirigiu-se para o carro, arrancando sem saber muito bem para onde. Talvez fosse ao quartel, a outra parte da sua vida que o completava. Talvez fosse dar as novidades aos colegas e superiores. Não sabia. Só sentia que o que realmente queria era cheirar o cabelo dela e agarrá-la gentilmente pela cintura.
Catarina fechou-se na casa de banho do escritório. As suas certezas confirmavam-se. Dentro de si uma nova vida nascia. Tinha tudo aquilo que tantos anos antes sonhara e acreditara que lhe daria a felicidade: um homem que a amava e um casamento a ser realizado, uma carreira com êxito, a sua própria casa, a sua autonomia e independência e agora, um filho. Mas na verdade, Catarina não se sentia feliz, muito pelo contrário, sentia-se miserável. Sabia que David iria delirar com a notícia, afinal de contas, ele mesmo era uma criança em ponto grande. Mas ela não. Ela não sabia lidar com aquilo. Talvez se tivesse precipitado. Talvez não devesse casar. Talvez nem sequer amasse David. Onde estaria a Catarina de outrora?
Deitou o teste fora, cuja risca cor-de-rosa anunciava ao mundo que uma criança vinha a caminho e saíu do cubículo cinzento, o portador das (más?) notícias. Olhou novamente para o espelho e continuou sem se reconhecer, embora desta vez tenha visto algo diferente: algo dentro de si crescia, e embora o seu reflexo fosse algo distorcido, Catarina sentia dentro de si uma luz.
David acabara por conduzir até à praia, local do primeiro encontro. Pela primeira vez na sua vida, sentia-se completo e livre. Tinha tudo o que queria: a carreira militar, a mulher dos seus sonhos e um futuro a ser vivido junto dela. Ainda que normalmente fosse uma pessoa séria, hoje não conseguia parar de sorrir. E já não chovia, como na noite anterior. O sol brilhava com todo o seu calor. David esticou-se na areia e sorriu.

3 Comments:

Blogger Pips said...

Bem... será que tem de haver sempre algo de errado a acontecer? Mas é tão bonito pensar em duas pessoas que se amam e querem ficar juntas para o resto da vida!... é tão triste perder essa certeza.

Joaninha! Postaste! =D Yeah! Welcome back! ***

10/6/07 14:23  
Anonymous Anónimo said...

Sabes, começo a gostar imenso das Catarinas =)
Acho q falo pelos monstros tds quando digo que sentimos a tua falta e que esperamos que este não seja um regresso só de um post!

10/6/07 14:27  
Anonymous Anónimo said...

I feel so used! :Plololol. Kidding! Pois é joanita, bem-vinda! E não sei pk gosto dos davides! Parecem porreiros!
Espero que continues a escrever muito muito! 8Toda a gente, incluíndo eu, já está farto de mim!Haja coisas novas!!!)

bjs

11/6/07 19:30  

Enviar um comentário

<< Home