sábado, junho 02, 2007

Contagem regressiva para o fim da alma - 9º dia

http://www.youtube.com/watch?v=uzA0nG_PurQ
(coloquem no segundo 15 e só então carreguem no play)

O 406, partia do Cascaishopping em direcção ao Estoril. Estava como sempre apinhado de gente e fazia um calor que não se podia! Na rádio, Mika chamava por Grace Kelly.

I wanna to talk to you...
The last time we talk mister smith, you've reduced me into tears!


- Excuse me! Can you tell me if this bus is going to Estoril?
Levantei os meus olhos cansados do livro técnico, que fingia ler. Estava cansado, não só porque não tinha dormido nada na noite anterior, mas também da minha vida. Via o Bernardo em todo o lado. Vi a sua traição em cada grupo de namorados. Via-me a mim, triste e abandonado, em cada solitário que passava pela rua.
- Yes it is! - respondi agressivamente ao estrangeiro. Não queria falar, não queria se quer estar com pessoas. Era nestes momentos que eu desejava ter tirado a carta...
- Having a bad day?
"Mas este parvalhão não percebeu?". Só então olhei bem para ele. Era um rapaz da minha idade, vestindo um top masculino verde, às ricas, mostrando os seus braços morenos. Tinha os olhos verdes e um sorriso muito bonito.
- Yes...- suspirei e terminei ali a conversa.

Angry doesn't solve anything!

- I'm david! - o estrangeiro continuava, com um sorriso amoroso.
Não resisti por momentos e sorri.
- I'm Carlos
- You have a pretty name!
"Ele está-se a fazer a mim??" - comecei a pensar - " Que bad timing!"
Conversámos por momentos sobre Portugal e sobre o seu país de origem, EUA. Também ele odiava o Bush, e todos aqueles mentecaptos que achavam que a diferença devia ser bem marcada.

Why don't you like me

Também ele se queixava da ignorância do seu povo e da hipocrisia dos seus. Queixava-se do namorado que o tinha deixado e de toda a raiva que sentia. Assim passei uma parte do tempo, dentro do autocarro, enquanto a música fazia-se ouvir.
Foi então que chegámos de novo a Alcoitão. Na parede, ambos reparámos no graffitti, mas só eu percebi. Em letras pretas, quase apagadas até, alguém escrevera:
Ele Ama-te!
- What does it mean? - perguntou-me ele, vendo a minha cara
- "He loves you"...
O silêncio instalou-se por breves momentos entre nós os dois.

Why don't you like me, Why don't you like me, WALK OUT THE DOOR

- Well. This is my stop. Nice to meet you David.
- You too.
Despedimo-nos e saí do autocarro.
"Estúpido" - pensei - "volta a entrar entro desse autocarro e trata de o engatar!". Mas o meu corpo ainda respondia apenas a Bernardo.
"Mexe-te! Vá lá!"
Comecei a reagir. Sem pensar, comecei a minha corrida para apanhar o autocarro., gritando ao senhor motorista para parar o autocarro!
- Pare!
Mas ele não parou, levando consigo a minha última lofada de esperança e alegria...
Ou seria?


*


- Então men? Nunca mais? É sexta-feira!
Joana esperava por Bernardo, reclinada sobre a sua secretária. Não tinha prendido ninguém hoje, tal como em todas as sextas-feiras. Estaria mais distraída do que nos outros dias?
Só pensava naquele rapaz, dia após dia, implorando ao tempo para que passasse mais depressa para acolher aquele ramo de flores, no seu regaço.
O tempo ia passando e nada.

- Por que demorará ele tanto?

*


- Porra! Já estou Bué atrasado!
- Aonde vais? - uma rapariga qualquer dormira com ele na noite anterior. Os seus corpos ainda estavam desnudados e esquecidos por entre aqueles lençóis brancos que não passariam à inspecção da luz violeta...
- Tenho coisas para tratar.
- Ah tá bem. Então deixa-me vestir.
Vestiram-se os dois e comeram qualquer coisa, sempre com Bernardo tentando sair de casa, despachando a rapariga.
- Então, depois telefona-me, ok?
- Claro.- Bernardo conseguira expulsá-la finalmente. - Chiça! Que tava difícil livrar-me desta gaja!
Correndo, Bernardo saiu de casa e dirigiu-se à florista da esquina. Aí ,comprou um ramo de rosas e correu para o carro.


*

- Sorri linda! Já cheguei.
Joana nem o vira entrar. Estava com cabeça apoiada na mão. olhando o vazio. Mas mal ele entrou, o seu mundo ficou tão mais colorido...

*

- Para a estação do Estoril, se faz favor! O mais depressa possível. - ordenei ao taxista.
De prego a fundo, o taxi percorreu as ruas de Bicesse, depois as de Atibá e de uma terriola chamada Alto dos Gaios. Em cinco minutos, pus-me no Estoril.
- Obrigado. - gritei, fechando a porta e correndo para a estação. David tinha-me dito que ia para Lisboa, para apanhar o comboio para o Porto. - Ainda o vais apanhar Carlos! Não percas a esperança.
As pessoas à minha volta devem-me ter chamado de Louco. Mas que importava. Teria a oportunidade de o apanhar!
Meti-me no comboio, que supostamente seria o dele e pus-me em direcção a Lisboa. De estação em estação, fui-me metendo em diferentes carruagens, procurando-o. Quando cheguei ao Cais do Sodré, não havia sinal dele.
- ESTÚPIDO! MEU ANORMAL! - agora é que todos me chamavam de louco. Batia com os pés no chão da estação e gritava do fundo dos meus pulmões.
Passada a raiva, desisti de o procurar. Meti-me de novo no comboio, e voltei para Cascais.
Quando o comboio estava já em andamento, a sair da estação, um novo comboio chegava à estação. Mal as portas se abriram, David saiu do comboio, carregando uma mala de viagem.

Soube naquele momento, que não estava destinado a acontecer. Pelo menos, não agora. E aceitei o que tinha deixado escapar... Mas quem sabe, talvez não fosse para isso que o tivesse conhecido? Estava naquele momento feliz por estar livre daquele demónio do Bernardo! Estava convicto de que a minha vida iria mudar! Estava convicto de que a minha felicidade dependia de mim!


Isso era bem melhor do que um namorado novo...

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O graffitti existe mesmo, ali ao lado da LUTA, em Alcoitão! Não consigo deixar de sorrir quando passo por lá, pela ironia da coisa. A primeira vez que li isso foi na fase má quando eu estava efectivamente a pensar em certas pessoas.:P

2/6/07 14:39  
Anonymous Anónimo said...

Bem..seja lá quem for que o fez estava a tentar deixars as pessoas na rua mais felizes...vou procurá-lo asim que puder =)

Gostava que o David existisse mesmo também. E, relação curiosa, a descoberta de que a tua felicidade só depende de ti mesmo dependeu dele!!!!

2/6/07 15:42  
Blogger Pips said...

Eu sei onde esse graffitti está, também já passei por ele com minhoquinhas na cabeça como costumo dizer =P ele realmente tem poderes!

Achei piada à "terriola", lol.

E realmente temos de aprender a livrar-nos de certos males sem recorrer a um novo namorado, eu sei que custa (se sei!), mas é o melhor para o nosso ego =) mesmo tendo oportunidade de ter outra pessoa na nossa vida há que resistir.

Gostei do post (apesar de não aparecer nele! =P) e viva o David! ***

2/6/07 16:58  
Anonymous Anónimo said...

Isso era uma boca Pipa?:P . lolol kidding. Pois, achei piada por a minha terra como terriola. Efectivamente isto deve ter uns 100 habitantes!:P

Mas pronto.

Mé, o David não existiu! :P Mas! Inspirei-me num gajo que vi no sant'arraial da faculdade catolica do Tagus Park! Por isso, não foi a minah felicidade. Mas sim a do Carlos (para infelicidade minha!:P)

2/6/07 21:31  

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