Contagem regressiva para o fim da alma - 13º dia - III - o Suicídio
(ponham isto a andar. Quando estiver a barra vermelha completa não ponham play!!! Eu aviso depois.)
Mariana voltou do passeio com a amiga, duas horas depois do que era suposto. Tinham-se embrenhado numa tal conversa sobre rapazes, que só repararam nas horas, quando o senhor do café lhes pediu gentilmente para desocuparem a mesa!
- OH! O homem vai-me matar!!!- gritou Mariana
- Tem calminha. Eu prendo-o se for preciso.
Mariana adorou a ideia. Saíram então dali em direcção aos seus locais de trabalho.
- OH! O homem vai-me matar!!!- gritou Mariana
- Tem calminha. Eu prendo-o se for preciso.
Mariana adorou a ideia. Saíram então dali em direcção aos seus locais de trabalho.
*
- Bom Rosa. Por hoje é tudo não é?
- Não senhor, terapeuta! Tem ainda uma avaliação de linguagem para fazer...
Revirei os olhos. Estava cansado, não tinha feito nada durante a manhã e agora, após ter despachado os 5 casos que tinha até às 18 horas, estava a suplicar para ir para casa.
- Mande-os entrar então. - disse, entrando no meu consultório.
Por momentos tomei atenção ao espaço à minha volta. A minha secretária estava arrumada, tinha os testes por ordem alfabética e bem guardados. Os jogos escondiam-se nas prateleiras, escondidos dos olhos das crianças mais irrequietas. Suspirei... porque seria eu tão organizado no trabalho e tão trapalhão em casa?
- Terapeuta. O Bernardinho e a sua mãe.
Estremeci... que bela coincidência hoje, avaliar uma criança com aquele nome.
- Boa tarde, como está. - os meus lábios estavam já cansados... o sorriso saiu-me amarelo.
A mãe era alta e morena, bastante bonita e simpática. Cúmulo dos cúmulos, chamava-se Sofia e era mãe solteira. Era otorrino no hospital de Cascais e estava preocupadíssima com o filho.
- Ele não fala...basicamente.
Avaliei-o. Era uma criança metida a besta, cheia de rancor, talvez pelo facto de não conhecer o pai. Falava muito pouco, para uma criança de 4 anos e o que dizia, ou era o seu nome ou o da mãe, ou asneiras...
*
- Isto é inacreditável...
- Peço desculpa...
- Já falamos sobre desculpas, senhora Mariana!
Mariana estava já farta de o ouvir. Queria acabar de preencher os formulários B564 para ir a correr para casa, e desfrutar de um pouco de silêncio.
- Que quer que eu faça agora?
O patrão olhou-a sorridentemente... Mariana havia-lhe prometido este e o outro mundo, antes de partir para o seu café. Sabia o que se esperava dela... e por isso, a camisa desabotoou, enquanto o devasso e perverso patrão, escondia a mão debaixo da mesa...
*
- Bom Doutora Sofia, o seu filho tem um atraso no desenvolvimento da linguagem.
- Isso é grave?
- Depende... se a criança for estimulada bem em casa e se a criança se sentir motivada para aprender... este atraso pode desaparecer num espaço de meses. Se não, num espaço de anos. Mas não se preocupe. Sendo uma mãe preocupada e informada, isto deve resolver-se num período de 6 meses a um ano.
A mãe agradeceu e levantou-se para sair do consultório. Num pulo, a criança também se levantou e dirigiu-se para a porta.
- Ah! Bernardo. O que é que se diz? Isso tu já sabes!
A criança olhou-me nos olhos com desdém e soube no momento que tipo de palavra viria a seguir. A mãe sentiu-se envergonhada e pediu desculpa. Eu disse que não fazia mal enquanto se destruía o meu coração e a minha alma por dentro. A criança chamara-me filho da ... e eu estava sem reacção... Não o era, é certo, mas a ausência dos meus pais, a cada dia me pesava mais...
*
- Já pode ir...
Mariana sentia-se nojenta. Estava farta de usar o seu corpo como instrumento. Queria sair dali e limpar-se pelo que correu para a porta, deixando a sua mala para trás.. entrou no carro e partiu...
*
Cheguei a casa às 22 horas e sentei-me no sofá. Sentia-me estranho, como se não estivesse bem. Sentia-me como sempre: só, triste e amargurado. Procurei a minha Pandora... não a encontrei... devia estar a dormir novamente, dentro da cesta da roupa lavada, na sala das máquinas de lavar. Senti-me um pouco pior e para não ter ideias, arrumei a arma do meu assalto, na segunda gaveta da cómoda do meu quarto. Pus então uma música a tocar. (PLAY)
*
Mariana chegou a casa às 22 horas, exausta e com a alma partida. Queria chorar... mas não conseguia. Queria gritar, mas também não conseguia.... sentia-se presa dentro de si. Mal abriu a porta, procurou a sua salvação, a sua pequena gata Dóris, cheia de energia e beleza. Estava a dormir na sua cesta e não queria ser acordada. Mariana pôs então o radio a tocar... estava na antena dois, e estavam prestes a dar uma ópera. Deixou ficar lá e foi para a casa de banho, tomar o seu merecido banho. Mas parou... algo nela a fez estremecer! No outro lado da cidade de Lisboa, também eu estremeci... e num ápice a nossa vida passou-nos sobre os olhos, entristecendo-nos.
Mariana viu os seus amores fracassados... viu o patrão sobre ela e a desgraça em que tinha caído...Viu aquilo que queria ter feito e nunca fez...
*
Eu vi Bernardo... vi-o naquele dia em que a minha alma se despedaçou... vi os meus pais no dia em que lhes disse que era gay. Vi a minha irmã partindo para frança... Vi a minha infância cheia de amarguradas noites... vi-me a chorar profundamente e comecei a chorar também
Nesse momento, eu e Mariana éramos um... chorávamos os dois, pela nossa existência. Cada um de nós agarrados às almofadas coloridas das nossas casas... Agachados no chão, enquanto a música nos soava pelos ouvidos.
*
Mariana chorava agora com mais força, procurando uma resposta à sua volta. Nada lhe respondia, o que a fez chorar ainda mais... quem a salvaria... quem? E a mim? Quem me salvaria...
Mariana viu então a varanda...
*
Corri para o quarto. Abri a gaveta onde escondera a tesoura azul e retirei-a... olhei o seu brilho... e senti o medo...
Mariana abriu a porta da varanda e também ela sentiu o mesmo...
Chorando... tentámos os dois uma proeza final...
A tesoura azul, das minhas crianças, fez-me chorar e gritar, enquanto a fazia deslizar pelo ar espetando-a no meu abdómen....
Gritei mais um pouco de dor... e ali me quedei...
O mundo parou naquele momento e olhei à minha volta. A minha gata olhava-me do outro lado da sala... eu estremecia de dor e de tristeza... despedindo-me do mundo, esperando pelo meu fim... a música haveria de acabar, comigo ali estendido no chão...
*
Mariana correu para a varanda ganhando força. Correu e preparou-se para saltar. Não haveria falsas tentativas... simplesmente, saltaria do seu 8º andar...
Estava cada vez mais perto... cada vez mais perto... mas algo a fez parar...
- Miau...- inquiriu a gata.
Mariana paralisou...
- Miau...- voltou a dizer.
Mariana chorou mais um pouco e abraçou a sua Dóris, que se pendurava nas suas pernas. Mariana agradeceu-lhe e pediu-lhe perdão...A música já há muito tinha acabado... agora cantava uma soprano, uma música de alegria e paixão...
*
30 minutos depois, alguém entrou pela minha casa a dentro... Talvez fosse a Filipa...Só sei que alguém me chamou uma ambulância e me viu partir quase morto para o hospital...
4 Comments:
Eu conheço esta música! Estarei a ficar sábia? mas acabei de ler antes dela entrar na altura q me disseste. De qualquer forma, n podia estar mais perfeito do que aqui.
P.S: Fazes-me chorar!
lolol. isso e um elogio ou é mau?:P Pois, calculei que sim, mas pronto. O auge é quando a gente quer :P uuuuuu.
Ainda bem que gostaste minha badalhoca que se faz ao patrão:P (sorry about that!!!:P)
Love yousss
Ui... intenso, estas razões da vida que fazem alguem querer a morte ultrapassam-me. Eu sou mais a favor da vida, mesmo com muitas amarguras. Mas gostei! Acho é que não li ao ritmo da musica... ela acabou muito depois de eu ter acabado de ler, aliás, ainda estava a tocar quando comecei a escrever este comment =P
Bjs ***
loolol.... Les rapido mulher!:P Ainda bem k gostastes! Agora tb sou a favor da vida! Em tempos idos não o fui. Mas já deixei de compreender o proquê dee alguém se matar. ;). Beijos
Love youss toosss
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