domingo, maio 27, 2007

Contagem regressiva para o fim da alma - 11º dia

Fazia naquele dia, dois dias, que tinha decidido mudar o que sentia. Mudar o que sentia... soava até presunçoso, como se eu, Deus mortal, tivesse capacidade para tal...
Mas se não fosse eu, quem o faria?
Há muito deixara de acreditar em deuses e em crenças milenares... o que eu queria neste momento, era simplesmente...
- Acreditar em mim...- verbalizei...
Estava sentado no meu sofá largo, que ocupava grande parte da minha pequena sala. No meu colo, Pandora ronronava fortemente, ou estaria ela a ressonar?
Subitamente levantou a cabeça e a correr dirigiu-se para a porta.
- Quem é querida?
A gata ia miando, enquanto o meu peito batia fortemente...
"Pára! Não é ele! Deixa-te disso!"
Alguém bateu à porta... as pancadas fizeram-se sentir no meu peito, que parecia querer rebentar de ansiedade. Vi-me ao espelho, penteei-me e abri com um sorriso.
- Boa tarde.... diga-me meu irmão, já conhece a palavra de Jeová?

...

MEEEEEERRRRRRDDDDAAAAA
Pensei, para mim...

*
- Toc Toc Toc... - alguém, batia à porta de Mariana. Ela não a ouvi. Estava cheia de sono e nesse preciso momento, babava a almofada laranja do seu sofá que ocupava grande parte da sua sala. Ao seu lado, Dóris, bocejava pronta a adormecer...
- Toc Toc Toc. - bateram com mais força.
Mariana acordou sobressaltada
- Bacalhau com fruta! - exclamou, sem saber porquê, enquanto acordava.- Ai! Quem é?
Gritou bem alto. Ninguém lhe respondeu...
-Rais parta! Nem ao sábado!- e lá se levantou, dirigindo-se para a porta.- Sim!
Ao abrir a porta, um rapaz da sua altura, tímido e de olhos castanhos lhe sorriu.
- Boa tarde minha senhora. Aqui tem a pizza que pediu.
- Pizza?- inquiriu ela, coçando o cabelo despenteado - não encomendei nada!
O rapaz corou. Devia ter mais ou menos a sua idade. Mariana reparou então que o rapaz era mesmo o seu tipo.
- Mas, se quiser, posso ficar com ela, para não ter de levá-la outra vez.
- Não minha senhora. Tenho de entregar a quem a encomendou - disse ele sorrindo. Por breves momentos olharam-se nos olhos e Mariana corou.
- O meu nome é João.
- O meu é Mariana.
João entrou nessa tarde e falaram. Parecia uma pessoa simpática e divertida.
- Posso ir À casa de banho Mariana? A pizza caiu-me mal.
- Ok... poupa pormenores... mas força.
O rapaz deixou a sua carteira em cima da mesa e foi em busca da casa de banho. Mariana não resistiu. Ao abrir a carteira, deparou-se com o que não queria ver. Lá estava ela. Uma rapariga bonita e cheia de alegria. Parecia amorosa até.
- Pode ser a irmã - murmurou, desejando que estivesse certa.
Mas quando o rapaz voltou, apercebeu-se daquele objecto redondo que rodeava o seu dedo. Tentou despachá-lo e conseguiu. Nunca mais abriu a porta a estranhos...
*
- Gostaste da surpresa Pipes?
Pipa e Pedro estavam no jardim Conde Castro de Guimarães, em Cascais, naquele belo dia solarengo. Traziam consigo um cesto cheio de comida e uma toalha aos quadradinhos... teriam um majestoso piquenique ali.
- Gostei sim, meu lindo. - respondeu ela, beijando-o na boca.
Por momentos, para Pipa, o mundo estava todo bem. Tinha a sua fortaleza ao seu lado e aguentava-se fortemente a todas as intempéries.
Tocava-lhe no peito de cinco em cinco minutos, para o sentir, sobre a relva verde daquele tão esplêndido parque...
- Aquele não é? - não acabou a frase. Pedro não o conhecia. Seria aquele ali o Bernardo?
- Quem?
-Nada, esquece... pareceu-me o ex do Carlos.
- Quem, aquele com a miúda?
- Sim, parece estranho... não deve ser...
- Mas quando foi aquela história com o Carlos, não foi com...
- Sim. Bom, deixa estar! - enroscou-se mais um bocado.- Viu então uma criança, do outro lado do jardim, com um grande cone na mão, com três bolas de chocolate!- Amor!!!
Gritou, sobressaltando Pedro.
- Que é?
- Compra-me um gelado!!!
- Está bem!! - Pedro levantou-se e caminhou para o carrinho dos gelados... Pipa quedou-se ali, observando aquele casal à sua frente, tentando perceber quem era aquela rapariga e aquele rapaz.
Sabia que Carlos tinha sido traído, mas seria com ela? E seria aquele o seu colega Bernardo?
*
- Pára! Estás-me a fazer cócegas! - Joana brincava na relva com o seu perfeito namorado. Tudo estaria bem, enquanto aquela sua fortaleza se ergue-se ali junto dela, enquanto lhe pudesse tocar, de cinco em cinco minutos, no peito, para sentir a sua existência sobre aquela verde relva.
- Tu não queres que eu pare!!!
- Quero sim! Viemos para aqui para fazer um piquenique, não era para tu me mordiscares a orelha!
- Isso está incluído. - e lá o rapaz mordia mais um pouco a rapariga! Ela gritava de alegria, feito uma criança, sujeita à doce tortura do ataque de cócegas.
Quando se cansaram, estavam os dois cheios de fome e prontos para devorar toda a sua merenda.
- Bernardo?
- Diz linda.
- Tiveste muitas namoradas antes de mim?
Bernardo ia-se engasgando...
- Credo! Assim tantas?- riu-se Joana. - Desde que não sejam namorados!!!
Bernardo cuspiu o sumo, rindo-se, para evitar ser descoberto.
- Isso não!!!
- Ainda bem. - disse-lhe ela sorrindo.
- Tive a sério, umas 3. - Carlos estava incluído e camuflado como uma rapariga.
- Ainda bem... assim já sabes das coisas...- Joana sorriu-lhe maldosamente.
O resto da tarde, passaram a rir-se de tudo e a devorarem-se, esquecendo todo o mundo que os rodeava.
*
- Porra, eles não se viram! Só lhes vejo as costas. Bah! Desisto. - Pipa atirava-se agora para a relva, deixando de espiar o casal que alegremente brincava sobre a relva.
Sentiu-se cheia de pena nesse momento... porque é que ela e o Pedro já não eram assim? Seria porque já namoravam à 2 anos. Bem... um ano e 9 meses...
Sentiu uma certa melancolia e procurou-o com o olhar. Ao fundo, Pedro falava com uma rapariga.
- Mas que...
A rapariga guardava agora um bilhete qualquer. Era loira e trazia o seu peito apertado contra a sua camisa justa, azul. Tinha ar de ordinária...
- Quem é aquela cabra?
A rapariga ia mexendo o cabelo, rindo-se alegremente das piadas do rapaz...
*
- Tenho de ir.
- Está bem... então até qualquer dia.
- Ok Patrícia. Adeus.
- Xau Pedro.
Pedro voltou para junto de Pipa. O gelado estava quase derretido na sua mão...
Não falaram mais durante a hora seguinte, com a desculpa por parte de Pipa, de que estava a comer. Pipa estava a ferver por dentro, cheia de perguntas e raivas para libertar... se não fosse o gelado, teria descarregado todo aquele calor sobre Pedro
*
- Entre, sargento Ferreira. Então o que o traz por cá?
- Isto. - o sargento ferreira mostrava o pé a Vanessa. Era o tal polícia que se atingia todos os meses, porque a mulher ficava insuportável com o período.
- OUTRA VEZ?- Vanessa estava exasperada. Como era possível alguém ser tão parvo para cometer o mesmo erro vezes sem conta? Como?
Vanessa ignorava o facto de milhares de almas sofredoras de amor, repetirem os seus actos, vezes sem conta... Era uma boa psicóloga, talvez porque se refugiava deste tipo de emoções...
Mas por dentro, a sua alma estilhaçava, porque não tinha aquela pessoa especial. É certo que não queria aquele sargento Santos, velho e a cheirar a desespero...
Queria alguém que a amasse, e que ela pudesse amar...
- Então vamos lá outra vez...
*
- Muito obrigado pelo tempo despendido... aqui tem. - a senhora dava-me uma panfleto para a mão com os ensinamentos de Jeová. Eu estava já com a cara paralisada e dorida, do sorriso amarelado...
- De nada. Então, uma boa tarde... - fechei a porta e deitei o panfleto para o lixo...
Pensei que nunca cometeria de novo aquele erro estúpido. Olharia sempre primeiro, para ver quem era. E deixaria naquele momento de acreditar que Bernardo pudesse voltar...
- tOC, tOC tOC...
O meu coração bateu outra vez... sem pensar, fui correr abrir a porta, de novo com um sorriso.
- Boa tarde... vinha-lhe falar da palavra de Deus...
O sorriso se desfez em segundos.
- Não acredito em Deus...
- Mas então, deixe-me dizer-lhe a sua mensagem que passará a acreditar...
Olhei a senhora com pena e até com carinho. A senhora idosa olhou-me nos olhos e sorriu.
- Não obrigado minha senhora. Já acreditei em Deus... agora já não acredito!
- Posso-lhe perguntar por quê?
Travei a porta e sorri-lhe novamente.
- Porque ele deixou de acreditar em mim...
A senhora ficou chocada mas compreendeu o meu sofrer. Dizendo boa tarde e não me dando panfletos, saiu dali, caminhando para outra pessoa que pudesse ser convertida...

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mé... este post surgiu de um poema que eu escrevi e ainda não te mandei.. sorry. Tenho de passar a computador...

27/5/07 18:42  
Blogger Pips said...

LOL... ai o amor! Tenho de me convencer que se calhar é uma coisa muito efémera... para os outros, eu é que devo ser anormal!

Eu devia era ter saltado do meu lugar para perguntar se aquele rapaz se chamava Bernardo e depois passava ainda a mão pela cara da Patrícia! =P

Realmente... os caros amigos Jeovas e companhia são uns melgas! ;P Ninguém merece!

Beijos! ***

27/5/07 20:09  
Anonymous Anónimo said...

lololol. Merrrrmooo, ninguerm merece.

E sim gaija, acho que principalm,ente o amor é efémero. Mas... deve dar para aproveitar os momentos :P

Kisses.

28/5/07 00:09  
Anonymous Anónimo said...

ai...mas nem 1 rapaz da pizza que empesta casas de banho alheias me quer??? =P

Eu não sei quem estes Jeovas sao para saberem qual é a mensagem de Deus!!

Adorei o post! melhorou imenso desde o ultimo!

28/5/07 19:54  

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