segunda-feira, fevereiro 11, 2008

O Sonho de Filipe (Achados X)

PLAY (Neste, a música ajuda criar o ambiente!)

As imagens passavam sem que Pipi conseguisse falar. Queria que parassem. Queria gritar, mas a voz não vinha. Tremia de frio e de medo, ali naquela estação de Alcântara. Eram 4 da manhã.
"Por que estou aqui?"- perguntava para si próprio.
Não havia comboios àquela hora. Não poderia estar à espera de alguém. Então por que estava ali?
Olhou em volta em pânico. Começara a chover...
As lágrimas começaram a correr-lhe pela cara. Não se viam, nem ele sentia, porque a chuva gelada o encharcava da cabeça aos pés.
Ouvia sobre aquela música fantasmagórica, o som da sua ofegante respiração e o palpitar do seu coração descontrolado.
Já conhecia o que vinha aí. Em breve... em breve viriam...

*
- Não! Não.... por favor...- gritava no Sono. Miriam agarrava-o como sempre tinha feito, desde que ele começara a sonhar daquela maneira. Baloiçava-o, esperando que o sonho mau acabasse. Marco lia como sempre o jornal, para conseguir acalmar o coração e a curiosidade em saber o que sonhava Pipi. Zandra estava estática. Era a primeira vez que via alguém gritar daquela forma no sono. Pipi chorava que nem um desalmado. Nem mesmo Sofia se mantinha indiferente, agarrando-lhe a mão.
*
Eles vinham do túnel... eles!!! Eles... encapuçados, com gorros negros, empenhando facas...
- NÃOOOO- gritava pipi....
Eles estavam ali ao longe. Começavam a correr...
- NÃAOOOOO - queria fugir... mas não conseguia....
Por que tinha ele vindo ali às 4 da manhã? O que pensara? Que ele viria? Agora pagaria com a sua vida... e nunca mais veria o Sebastião. Talvez ainda estivesse vivo... algures no seu apartamento em Alcântara...
Estavam cada vez mais perto...
-NAOOOO....
E finalmente chegavam. Eram quatro os homens que lhe saltavam em cima e o pontapeteavam, o esmurravam com toda a força e o vergavam, espetando as suas facas no seu abdómen desprotegido.
Sentiu a dor... sentiu a dor da alma e as lágrimas vieram-lhe aos olhos... sentiu a dor do corpo, vendo o seu sangue escuro a escorrer pela calçada da estação...
*
- Está na parte pior MARCO.- implorou Miriam.
Como sempre Marco levantou-se e tomou o lugar de Miriam, agarrando Pipi pelos ombros, enquanto ele gritava e contorcia-se em convulsões. Chegava por vezes a espumar da boca...
Os olhos de Zandra estavam estáticos. Sofia cravava as mãos nas dele, tentando-o acalmar.
*
O cenário tinha mudado... estava no hospital, todo enfeixado. Tinha apenas os seus 18 anos. Feitos em Abril. "Os touros de Abril não têm sorte nenhuma! Os de Maio sim, mas os de Abril não!". Uma vez dissera a alguém no comboio. Sempre fora um rapaz muito comunicativo. Foi por isso que tinha ficado assim. Por que certo dia, tentara engatar um rapaz que pertencia a um grupo de nacionalistas, homofóbicos. O rapaz chamava-se Sebastião. Era tímido e estava fechado no armário, a sete chaves, ocultando a sua identidade dos seus ditos melhores amigos.
*
- Já alguém te disse que és muito bonito? - tinha dito ele a Pipi. Ele tinha ficado vermelho que nem um tomate... nessa altura, só queria encontrar o seu verdadeiro amor. Naquele momento, tinha a certeza de que só podia ser Sebastião.
- Não sou nada...- dizia ele de forma tímida.
E assim tinham passado um dia primaveril, tomando chá numa casa de chá junto às ruínas do Carmo.
Tinham namorado durante 7 meses, às escondidas de todos. Até que certa vez, tinham sido seguidos por um dos "amigos" de Sebastião. Foi o escândalo em plena Lisboa. Juntaram-se muitos rapazes, apontando dedos e ameaçando.
- Seus paneleiros.
- Vou-te aos cornos, meu filho da...
- Seu rabeta.
- Devias morrer.
- Alguém te devia esfaquear!
Nessa noite, Pipi recebeu uma mensagem de Sebastião.
" Amor, vem ter comigo a alcântara as 4 da manhã. Eles querem-me fazer mal... Temos de fugir os dois!"
Ele foi, e agora estava deitado no hospital, quase morto, com o abdómen perfurado.
*
- Mãe....
- Felipe... soube o que se passou.
- Oh mãe! Tive tanto medo...- as ligaduras ensopadas de sangue, estavam agora molhadas das lágrimas.
A sua mãe trocou olhares com o pai e por fim olhou de frente Pipi
- Nunca mais te queremos ver...
Mais que a fúria dos encarapuçados, mais que as facas e as suas lágrimas, aquele golpe era o que doía mais.
Um mês depois saíra do Hospital, sozinho e sem qualquer refúgio... jurando para si próprio que nascia ali um novo Filipe. O Pipi, que nunca mais acreditaria no Amor, nem na família. Que a partir da li, viveria consigo, com a sua diversão e alegria. Nunca mais iria chorar.
*
- NÃO! Não posso ser assim. Não me posso tornar num monstro. QUero ser livre. Quero ser eu! Quer ser aquele que era antes de me matarem. Quero ser eu! Quero voltar a ser o FIlipe. NAAAOOOO
*
Pipi acordou nos braços de Marco, todo suado, com a cara arranhada e os olhos lacrimejantes. Sofia agarrava-o, olhando-o preocupada. Zandra chorava. Miriam mordia o lábio de medo e preocupação.
Quando Pipi começou a chorar, todos o abraçaram e o confortaram. Quando se acalmou, decidiu contar a toda a gente a sua história... Queria contar como é que tinah passado de Filipe a Pipi. Por que era aquele homem desprovido de limites e de auto-estima.
No fim da história, Pipi sentiu-se calmo e feliz.
Naquela noite, qual fénix...
Renascera a sua capacidade de amar e ser amado...

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

SOrryyyyy. Apeteceu-me por um pouco de pânico nos Achados. Precisava de libertar raiva e tristeza!

Beijos

11/2/08 00:43  
Anonymous Anónimo said...

Question: pq é que consegues dar sempre mais profundidade dramática do que eu?? I kill you=P

11/2/08 16:38  
Anonymous Anónimo said...

lolololol. Não é verdade!!!
Mas enfim, talvez porque já bati mais vezes lá no fundo?:S. Não sei.

Question: pk e que escreves muito melhor do que eu???? I Love you (vez nao mato ninguem!)

11/2/08 18:15  
Anonymous Anónimo said...

está muito enganado sea dragon! se nao fosse por ti eu nem sequer escrevia há muito tmp =)

aishiteru!!

(que lamechas q estamos)

11/2/08 21:13  

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