domingo, junho 17, 2007

Contagem progressiva para o fim da alma (o início)

- Queres comer alguma coisa, antes de irmos?- eu e a Pipa estávamos na casa dela, descansando da caminhada em Sintra que tínhamos feito nesse dia. Trazia comigo a minha pequena personalidade, o meu ver do mundo fechado e o medo que sempre me caracterizou.

Algures no tempo, alguém me dissera
"És mesmo corajoso... gostava de ter a tua coragem...". Seria mesmo? A minha "condição" não se escolhe, aceita-se. A minha condição é apenas uma resposta a feromonas diferentes das ditas normais, para o ser humano do sexo masculino. Seria então um acto coragem, aquilo que eu tinha feito? Talvez... resolvera lutar contra o mundo preconceitoso que se fechava sobre si... agora estava a pagar as consequência:

1. Vivia sozinho, sem amor, sem qualquer ponta por onde pegar em termos de vida amorosa.

2. Vivia um tanto ou quanto acobardado em casa, esperando que algum rapaz da pizza ou algo assim, me tocasse na porta de entrada, confuso e enganado quanto ao pedido.

3. Vivia dependente da vida dos outros para viver, quase como um parasita...

Tirando isso, tinha orgulho em mim. Tinha levantado a cabeça à desilusão e à tristeza já tantas vezes, e ainda aqui estava, erguido, direito e ainda que desfeito por dentro, sem um arranhão na fortaleza exterior.

- Não linda. Acho que estou cheio de travesseiros ainda.
E assim partimos. Estava no 3º ano da faculdade, mais uns meses e poderia trabalhar. Tirava Terapia da Fala em Alcoitão e dissera desde o primeiro dia que aquela tinha sido a melhor decisão da minha vida. Sentia-me no meu meio, entre palavras mal-articuladas, cantores com problemas de voz e crianças que ali se punham, ali ficavam, sem necessidade alguma de comunicar. Sentia-me feroz, implacável, e cheio de vontade de viver para além disto...

Chegamos ao arraial da faculdade de ciências de Lisboa, meia hora depois. Pipa telefonou logo aos seus colegas todos para virem lá ter.
- Pera um bocadinho aqui Carlos. Vou buscar os meus colegas que estão do outro lado do recinto.
- Ok... mas não te demores! Já sabes que eu não lido bem com massas!
- Sim... começas a sentir-te estranhamente sozinho!- Pipa troçou.
Mas a verdade era essa: Quando estava sozinho não me apercebia da solidão. Só quando punha música a tocar ou quando toda a gente à minha volta sorria alegremente para alguém, não tendo eu alguém para sorrir.
- Opss. Desculpa!- um rapaz entornara meia cerveja para cima de mim.
- Era mesmo isto que eu precisava! - Exclamei irritado...
Mas o rapaz não ligou, tropeçando em mais vinte pessoas, deixando-me a limpar o peito, com um mísero guardanapo que consegui roubar de uma das tasquinhas do arraial.
- Precisas de ajuda?- um outro rapaz aproximou-se. Comecei a corar.
- Ah.... - ia começando a falar
- Não obrigado! Eu consigo!- uma mamalhuda histérica tinha deixado cair a carteira para o chão...Era para ela que o rapaz falava!
- GOD! Pipa vem depressa!!!
Mas não havia sinal dela...
- Bom! Vamos atacar as bebidas. - decidi.
Tantas barraquinhas e não havia meio de escolher... uma tinha só sangria, outra só caipirinha.... e outras que a partir do momento em que encontrei as duas já referidas, deixaram de ter importância.
- Qual das duas?- numa delas, um rapaz giríssimo, moreno, alto de olhos castanhos e com um sorriso fantástico, distribuía bebidas pelo pessoal. No outro, uma figura semelhante em beleza e sorriso, fazia o mesmo.
- Hmmm.
- André! Três cervejas, se faz favor!- uma rapariga gritava ao meu lado. O rapaz levantou o olhar e dirigiu-o para mim. Senti-me como se fosse cair redondo no chão. "Ele está a sorrir para mim?"- pensei. Tudo me dizia que sim.
Olhei então para a outra barraca.
Onde tinha ido o outro rapaz?
De repente um copo de sangria colocou-se à minha frente, vindo do nada.
- Oi! - Bernardo sorriu-me e ali fiquei enfeitiçado. Passamos a noite toda a conversar, eu esperando pela Pipa que entretanto estava já bêbeda e dançante, junto à barraca do rapaz da Caipirinha. Só a encontrei às 5 da manhã...

Hoje me pergunto, se tivesse escolhido a caipirinha e tivesse ignorado a sangria, onde estaria eu agora...

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

eu sei minah gente... estou a ficar louco! Não arranjo inspiração para a historia a andar para trás, tive de a por a andar em frente. Achei que havia muita coisa a explicar pelo caminho. Prometo ser mais assíduo a escrever, pk vocÊs já devem estar fartos do raio do Carlos! Beijos e Pipa, sua bêbeda!!!:P

17/6/07 20:16  
Blogger Pips said...

Claaaaaro! Eu é que sou a bebeda! =P quem adora caipirinha, meu caro amigo, és tuuuu! Estou-me a imaginar bebeda e dançante! Que medooo! Lol! Mas viva os meninos giros! ;P

Gostei! Muito interessante! ***

17/6/07 23:50  
Anonymous Anónimo said...

está um bocado detorpado da realidade. Não houve outra opção´na altura ;). Mas, olhe, desarranjei-me dos intistinos e andei! (Linddddo...)

Ah! Anedota!
"Alguém vira-se para a estrelinha (não a nossa!!!) da doce fugitiva e diz: Estrelinha queres Co-meta!" lololol

18/6/07 00:12  
Blogger Pips said...

Ha......... ha................ ha. Que piada mais secaaaaaaaa! =P

18/6/07 11:01  
Anonymous Anónimo said...

LOOL! gostei sim senhor! Venha a sangria (na verdade eu gosto mesmo mesmo é da maçã) =P

Ainda acho que foste muito corajoso sabias?

18/6/07 15:22  
Anonymous Anónimo said...

Eu tb :s! Love yous sua bêbedas!

18/6/07 17:45  

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