Contagem progressiva para o fim da alma (o meio I)
- É p'ra já. - o empregado de mesa retirou-se em direcção cozinha. Tinha descoberto um café na zona de baixa pelo qual me tinha apaixonado. Tinha um ar de café inglês, de uma casa de chá chique mas cheia de cosinhas boas e com música de fundo jazista. Estava no meu paraíso.
- Tu por aqui? - levantei os olhos do livro técnica que estava a ler e corei. Bernardo sorria-me com os olhos e com a boca.
- Eu pergunto o mesmo! Tínhamos combinado na sexta! Andas-me a perseguir é?- ri-me um pouco. Sem perguntar se podia (porque sabia perfeitamente a resposta), sentou-se na mesma mesa que eu.
- Ando! Desde a tua casa em Linda-a-Velha.
- Eu moro em Cascais! - ri-me
- Oppss, então andei a manhã inteira a seguir um pobre coitado!
O garçon trouxe-me o pedido
- Vai desejar também alguma coisa? - foi então que reparei no seu olhar. Olhava-nos com ar snob e altamente discriminatório.
- O mesmo, por favor.
- Com certeza. - e assim se retirou.
- Bem se olhar matasse!
- E tu importaste com isso? Deixa o estar. Só se incomoda ele que ganha rugas e ulceras!
Admirei a sua leveza e a sua aceitação da situação. Passamos o resto do tempo a falar do que eu fazia, do que ele fazia, das coisas que cada um adorava fazer. Passados 20 minutos, lá apareceu de novo o empregado de mesa trazendo o café mais queimado e o pastel de nata com pior aspecto.
- Desculpe. Não havia um com pior aspecto? Eu gosto das coisas horrorosas.
O empregado encolheu-se de vergonha e apressou-se a ir buscar outro pastel e outro café. Eu, olhava Bernardo com um brilho nos olhos, tentando perceber se era ele o meu futuro.
*
Depois do café seguimos o nosso caminho. Caminhamos até ao cais do sodré e ele deu-me finalmente o seu número.
- Espero contigo até o comboio ir!
- Não! Vais perder aquilo que tens de fazer!
- Não faz mal.
Esperámos até ao comboio apitar e corremos os dois para o comboio.
- Mas... não ias ficar em Lisboa?
Bernardo sorriu e deixou-se ficar no comboio. Para sorte4 dele, o pica não passou nesse dia.
Saímos os dois no Estoril e caminhamos para os jardins do Estoril. Sempre flertando, sempre conversando, para desgosto dos casais que passavam e das pessoas que como eu se arrastavam na solidão dos dias.
Ao anoitecer, era hora de regressar a casa... No dia seguinte, mudar-me-ia para Lisboa, para uma zona bastante próxima do Hospital de Santa Maria. Ficaria no entanto com aquela casa em Cascais, para passar os meus dias de ócio...
- Bom. Tenho de ir!
E do nada, os seus lábios voaram pelo ar e invadiram a minha boca desprevenida. Um bando de pitas dos salasianos riu-se e assobiou, ouvindo-se em duas "Tão queridos"...
O mundo estava diferente... pelo menos o meu. Mas muito ainda teria de mudar...
2 Comments:
Mudar para se tornar em quê?
"Tão queridos" =P
lololol.
Pita histérica salasiana!
Mais livre e menos pesado/doloroso!
Supostamente....
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