Achados (penúltimo) - Desencontros
Mário estava já desesperado. Tinha conseguido fugir das garras de Zandra, tinha-se enfiado no comboio para Roma. Tinha pensado até aqui! E agora? Onde estaria Miriam? Em que parte daquela sobre lotada e barulhenta cidade estaria ela?
- O que é que ela quereria ver? Para onde a levaria o Pipi e a Sofia?
*
- Vá lá querida! Anima-te, não podes estar assim o resto do tempo que estamos aqui! Hoje é o penúltimo dia... Depois vamo-nos enfiar naquele horrível comboio outra vez e vamos rumar até Lisboa. Vens connosco não vens?
Nunca tinham falado desse pormenor. Miriam era de Barcelona. Não era portuguesa! Teriam de se separar os três na primeira grande cidade espanhola que lhes aparecesse no percurso.
Miriam sorriu e tocou na cara de Pipi, olhando-o com aquele ar maternal que a caracterizava.
- Não meu Querido... o meu lugar é em Espanha. é lá que tenho a minha vida. Mas estamos perto. Eu posso-te ir visitar, sempre que quiser.
Sofia mantinha-se calada desde o momento que tinham abandonado Mário e Zandra naquele horrível hotel. Ela sabia de toda a verdade...
*
Sofia tinha-se esquecido de acordar o Mário nesse dia, como ele lhe tinha pedido. Mário preparava para esse dia uma surpresa, para Miriam. Nesse dia, os dois iriam à melhor loja de jóias da pequena localidade onde se encontravam, e Mário iria comprar uma jóia para Miriam. Não uma jóia qualquer... A jóia. A jóia que selava o amor entre eles os dois.
- TU VAIS PEDI-LA EM CASAMENTO?- gritou Sofia, mostrando pela primeira vez entusiasmo nas questões relacionadas com o amor.
- SHHHH! Fala baixo mulher! Ela assim ainda nos ouve!
- Não achas que é um bocado louco da tua parte?
- Quando tu amas assim uma pessoa, acredita, tu sabes que a loucura seria deixá-la partir.
- Sim... mas podem sempre namorar!
- Estou farto deste toque e foge. Vamos casar para o ano! Temos um ano para namorar.... 365 dias!
A conversa teve de ficar por ali, já que Miriam acabara de subir as escadas, ainda amuada por qualquer coisa que Mário não quis fazer.Não olhando para os dois, propositadamente, Miriam correu para o quarto.
- Acorda-me amanhã, que o meu despertador está avariado.
- Espera... porque não vias com o Pipi?
- ELe não consegue manter a boca fechada!!!!
- Ah... pois. Então eu amanhã acordo-te!
E assim ficou combinado.
No dia seguinte.
- ZANDRA O QUE ESTÁS AQUI A FAZER? - gritou Sofia, com instinto de leoa, a proteger quem lhe era mais querido... Sim, a Sofia estava mudada.
As duas envolveram-se numa discussão intensa, mas mesmo assim Mário não acordou. Sofia soube imediatamente que ele tinha sido drogado ou pelo menos embebedado.
*
- Sofia?- disse Pipi acordando-a do sonho onde estava.
- O quê?
- Vamos ver primeiro o coliseu ou vamos ao teatro della ópera?
- Vamos ver isso?
- Sim... - Pipi revirou os olhos - a Miriam quer ir!
- Vamos ao coliseu então.
*
- Ela sempre disse que queria ir à ópera de roma! - disse para si próprio, o Mário.
Mal entrou no grande átrio, procurou freneticamente por Miriam.
- MIRIAM? - gritou várias vezes.
- Senhor... se não se controlar vou ter de o obrigara sair. - avisou-o o segurança.
Desapontado, Mário correu para o segundo monumento de que se recordou- O coliseu.Suando e faltando-lhe o ar, correu pelas ruelas que, segundo o mapa, permitiam mais facilmente o acesso ao coliseu: "evitando as massas e o sentimento desnecessário de claustrofobia".
*
- Vamos pela avenida principal! - decidiu Sofia.
- Mas por quê? Segundo o guia...
- O guia não gosta de lojas! Vimos isso em Espanha! Eu quero ir comprar umas calças justas! - disse Pipi
- Ok... eu quero comprar um top de qualquer forma.
No momento em que entravam na loja, Mário corria na rua paralela que passava por trás. Se fosse um rapaz que reparasse nas lojas, tinha conseguido ver Miriam através do vidro. Se Miriam não estivesse deprimida e entretida a escolher que top é que ia levar, teria conseguido ver o rapaz que lhe rompera o coração, a correr na rua de trás.
- Acho que vou levar o azul. - anunciou Miriam.
- NÃO!- gritou histericamente Pipi
- Então?
- O indigo! É a cor da moda!
- Mas eu detesto indigo e fico horrível!
- Veste! Vais ver.
Miriam olhou para Sofia, com esperança de que esta a pudesse ajudar. Sofia limitou-se a revirar os olhos e a encolher os ombros.
*
- Já... não.... aguento... mais... - disse ofegante Mário
À sua frente, o Coliseu erguia-se mostrando a história que ao contrário dele, tinha ruído.Estava um calor infernal e à sua frente, umas centenas de pessoas se organizavam por filas, para poder chegar mais perto do monumento, para o fotografar.
- MIRIAM!-gritou. Mas a sua voz estava já cansada e sem fôlego. Teve de parar. Tinha de parar! Não conseguia mais lutar por isto. Não tinha forças. O amor detestava-o. Só podia ser...
Mário deixou-se cair junto da parede mais próxima e tentou recuperar o fôlego que lhe faltava. Subitamente, ouviu no meio da multidão, a voz histérica do Pipi.
- VÊS COMO TE FICA BEM!
- Eu pareço uma pessoa que foi espancada até à morte!- gritou-lhe Miriam.
O coração de Mário começou a bater mais forte. Ali estava ela. A sua salvadora. A mulher que lhe mostrara o amor. A única pessoa que ele realmente amara.
- Não vou perder isto!- murmurou para si próprio.
- Bah! Isto está cheio. Vamos é para o Hotel descansar.E ver como está o Travis (o seu novo namorado inglês que tinha ficado no hotel, por causa de uma má digestão de uma pizza)
- Vão vocês. Eu vou lá ter. - declarou Sofia.
- Ok.- disse Miriam. E partiram os dois.
Mal os dois saíram do recinto, Sofia lançou um olhar, quase como uma seta, em direcção a Mário. Ele sorriu-lhe e ela acenou em resposta.