segunda-feira, janeiro 28, 2008

Cor de Rosa (perdidos)

Tinham acabado de chegar a Itália. Ainda nem faziam ideia de onde estavam ao certo, mas a mesma preocupação enchia as cabeças dos cinco amigos: roupa! Era mais que sabido que os italianos andavam smpre bem vestidos e eram todos bonitos. E nenhum deles queria fazer má figura. Correram a mudar-se num compartimento do comboio, fazendo uma rápida promessa de respeitar a privacidade uns dos outros. Bárbara protestou e perguntou qual era o problema deles. Os outros já se tinham habituado à personalidade liberal (ou neo-liberal como ela lhe gostava de chamar) de Bárbara e ignoraram-na.

Por fim, olharam-se uns aos outros para avaliar o resultado final. Quatro pares de olhos cairam sobre Matt (que tentava ver se a irmã estava coberta o suficiente).

- O que foi?
- Não vais assim para a rua, pois não Matthew?
- Tu não vale, és minha irmã!...preciso de uma opinião masculina...o que achas João?

O silêncio pairava sobre João, Vera e Bárbara. Não pareciam ter ouvido a pergunta.
Matt vestia algo muito simples, mas que parecia fazê-lo brilhar com um novo esplendor. Trajava uma simples camisa rosa clara sobre jeans coçados...o efeito dessa simplicidade era devastador. Vera teve a certeza de sentir o sangue subir-lhe ao rosto.

- Sim?
- Ah........- acordou João - o rosa não seria a minha opção.
- Eu não concordo! - exaltou-se Bárbara - Só um homem com eles no sítio veste rosa e orgulha-se disso!

- Obrigado...acho eu....Está decidido então!
- Espera, ainda somos dois contra dois...vamos ouvir o que a Vera acha.
- Eu??
- Sim Vera, o que é que tu achas?

Aquele sorriso. Aquela estúpida camisa fazia reluzir o sorriso de Matt. A sua pele também parecia ligeiramente bronzeada em contraste com aquele tom de rosa. Os olhos escuros não sorriam com a sua boca. Parecia nervoso, como se da aprovação de Vera dependesse a sua vida. Levou a mão esquerda ao cabelo escuro e revolto. Talvez precisasse de um corte, mas Vera não conseguia imaginar melhor resumo de Matt do que aquela massa escura e rebelde, tão diferente do platinado da irmã. Tinha de responder qualquer coisa...

- Eu...acho que está muito bem Matt. - "bolas", pensou.
- Está resolvido...vamos embora. - declarou o inglês, num tom pouco entusiasta.

Num tom de segredo, Vera sentiu a voz de Bárbara sussurrar-lhe:
- "Está muito bem Matt"...way to go Vera - ironizou.

Vera olhou para João, tentando sentir-se menos ridicula. Este limitou-se a abanar a cabeça e a apertar-lhe a mão na sua. E o mundo pareceu melhor...

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Can anybody find me somebody to love?

Esta música é a minha cara!!!
Can anybody find me somebody to love?
Each morning I get up I die a little
Can barely stand on my feet
Take a look in the mirror and cry
Lord what you're doing to me
I have spent all my years in believing you
But I just can't get no relief, Lord!
Somebody, somebody
Can anybody find me somebody to love?
I work hard every day of my life
I work till I ache my bones
At the end I take home my hard earned pay all on my own
I get down on my knees
And I start to pray
Till the tears run down from my eyes Lord -
somebody - somebody
Can anybody find me - somebody to love?
(He works hard)
Everyday - I try and I try and I try -
But everybody wants to put me down
They say I'm goin' crazy
They say I got a lot of water in my brain
Got no common sense I got nobody left to believe
Yeah - yeah yeah yeah
Oh Lord Somebody - somebody
Can anybody find me somebody to love?
Got no feel, I got no rhythm
I just keep losing my beat
I'm ok, I'm alright
Ain't gonna face no defeat
I just gotta get out of this prison cell
Someday I'm gonna be free, Lord!
Find me somebody to love
Can anybody find me somebody to love?

domingo, janeiro 13, 2008

Metamorfoses (achados VIII)

Zandra fechava atrás de si a porta. Aquele tinha sido um dia cansativo... mais até do que o anterior, em que estivera todo o dia a cuidar das crianças no seu emprego.
Zandra era educadora e infância, no mesmo colégio português que a vira crescer. Todos os dias acolhia pais e mães, alguns recém-casados que se deleitavam em lhe esfregar na cara, de forma cruel mas inconsciente a sua grande aliança, feita de sei lá o quê, acabadinha de vir de uma loja qualquer da baixa de Berlim.
- Cada vez estou pior. - disse olhando-se ao espelho. A visita ao museu tinha sido em vão. Não ia lá para ver esculturas que uns velhos gregos tinham feito, havias inúmeros séculos. Todas as semanas passava pelo museu, à quinta-feira, quando era grátis a entrada, para ver se encontrava um certo segurança que uma vez a tinha topado.

*

- Desculpe minha senhora.
- Sim? - perguntou ela, na primeira vez que o tinha visto no museu. Corou, ficando vermelha que nem um tomate.
- Eu não a queria incomodar, mas...
- SIM?- disse quase suspirando, esperando aquelas belas palavras: "gostaria de ir tomar qualquer coisa comigo?"
- ... mas importa-se de deixar de tocar nas estátua. Não vê o sinal?!
Zandra corou ainda mais e afastou-se dali em pânico. Tinha sido extremamente arrogante o segurança, mas não podia deixar de se sentir atraída pelo seu corpo volumoso e enorme, pelos seus belos e sinceros olhos castanhos e o seu cabelo cheiroso, negro como a noite.

*

- Cá para mim ele foi despedido! - suspirou, voltando ao presente.
Olhou em volta, procurando o seu voice mail. Tal já tinha sido o seu desespero que já tinha comprado entretanto 3 voice mails, na eventualidade de o presente estar avariado.
- Aqui está.
O seu coração bateu mais forte. A luzinha vermelha brilhava com intensidade, dizendo que havia pelo menos uma mensagem.
- Já não era sem tempo.
Carregou no botão.
"Recebida hoje às ..."
- Vá lá!!! despacha-te!
- "Olá Zandra" - era a voz do seu pai. A respiração que até então se acumulava no alto dos seus pulmões, retomou o seu ritmo.- "Eu e a mãe estamos à espera de saber se vens passar a passagem de ano connosco!Diz qualquer coisa minha bruxinha."
Bruxinha era a sua alcunha desde a infância. Tinha o nariz torto e por isso, desde pequena que se faziam piadas à volta do mesmo. Para não falar da verruga que em tempos habitara a sua cara e que tinha uma certa tendência para acumular pêlo.
Esses tempo lá iam. Mas Zandra ainda tinha as marcas gravadas no seu espírito.
-Bom... vou sair outra vez!
*
- Sofia!- Miriam, Pipi e Marco gritavam na rua. Sofia tinha desaparecido da face da terra.
- Não viste para onde ela foi Pipi?
- Não Miriam. Ela estava a gozar com uma rapariga que lhe disse qualquer coisa. Quando vi, a Sofia estava a correr vermelha e derrubando tudo à frente. Tive de ajudar uma velhota a levantar-se!
- Vamo-nos separar!- sugeriu Marco.
Cada um foi para seu lado. Miriam experimentou entrar de novo no museu, procurando-a no recantos mais escondidos.
Marco seguiu em direcção à pousada onde estavam. Pipi decidiu ir ao café onde tinham estado na hora do pequeno-almoço. Em parte voltava lá pela Sofia. Mas uma parte de si tinha vontade de voltar a admirar o belo rapaz "não-gay" como frisara, para seu desgosto, Miriam, que servia às mesas.
- Sorry. Do you speak english?- perguntou ele ao dito rapaz.
- YEZ!
-Can you tell me if this girl is here?- perguntou Pipi apontando para a fotografia que haviam tirado em Paris, com Miriam.
- No. I zinc not!
- Thank you.- agradeceu Pipi, saindo do café.- Bah! Onde te meteste rapariga.
- Ahahahah!- do outro lado da rua, num beco, Sofia ria lambuzando-se com os lábios de um rapaz moreno que também trabalhava no café onde tinham tomado o pequeno-almoço.
- SOFIA!- gritou Pipi.
- Ah! Oi. Que estás a fazer aqui!- dizia ela rindo-se mais um pouco.
- Estamos todos à tua procura. Estávamos preocupados.
- Ai sim! Não faz mal.... eu estou... ahhh. Pára!Eu estou bem como podes ver!
Pipi estava a sentir a cólera a subir-lhe pelo corpo! Ele tinha mudado, nestes últimos tempos. Tinha percebido que o riso por muito bom que fosse, era apenas uma forma de esconder a sua tristeza. Percebera isso graças a Miriam, que cada vez mais se tornava naquilo que nunca tinha tido. Uma melhor amiga.
- Pipi!- gritou Miriam ao longe. Vinha acompanhada de Marco.
- Então, já a encontraste?- gritou ele.
Pipi respondeu apontando para a frente. Mal Marco e Miriam chegaram ao local, Pipi disse que tinha de ir espairecer. Os dois perceberam a sua raiva e prometeram resolver a situação. Marco andou com um ar severo que não lhe era característico para Sofia. O rapaz que a acompanhava afastou-se temendo-o. Sofia encarou-o.
*
- Que seca.- Zandra estava pela 3ª vez à porta daquele cabeleireiro. Era o mais prestigiado de Berlin (e também o mais caro). Mas talvez, com muita sorte, eles poderiam transformá-la em alguém apetecível.
- É desta Zandra! Tu vais entrar. - dizia ela para si própria, mas recuava de novo.
Nesse preciso momento, Pipi, que andava distraído, chocou contra ela.
- AI!- gritou ela, caindo para o chão.
- Desolé!AH! Quero dizer.... ai merda, como se diz desculpa em alemão?!
- Traurig!- a Rapariga chorava em soluços sufocados.
- Isso... peço desculpa. - disse por fim em português.
- Não faz mal... eu é que não estou a ter um bom dia...
- Posso ajudá-la?
- Trata-me por tu se faz favor... já me sinto feia! Não quero também ser chamada de velha!
Pipi riu-se com vontade. Finalmente reparara quem ela era. " A miuda do museu", disse para si próprio.
- ORA, NÃO ÉS FEIA! És... diferente....- disse no seu tom abichanado e excêntrico.
- Obrigado... ajudaste-me imenso... Mas também, sendo amigo de quem és...
- Não me compares com...- disse Pipi, mas calou-se. Em tempos fora igual a Sofia, agora tentava ser uma pessoa nova. Ainda era ninfomaníaco, mas essa parte não interessava nada. - Sabes uma coisa? Vou-te ajudar!
- Desculpa?!
- Anda daí!- disse agarrando-lhe o pulso e entrando dentro do cabeleireiro.
*
- Ele nunca mais chega... estou a ficar preocupada...
- Também eu.- Marco andava de um lado para o outro. Não se dava mal com Pipi. Ele era simplesmente excêntrico, mas divertido. Talvez um dia poderiam ser amigos. Mas não ali. Não enquanto ele continuasse a fazer a cabeça à Miriam, lhe dizendo para pensar bem antes de se colocar numa nova relação.
- Cá para mim, está a fazer o mesmo que EU ESTAVA A FAZER, ATÉ ME ESTRAGAREM O DIA!- gritou Sofia da casa-de-banho.
Miriam e Marco tinham praticamente arrastado Sofia da rua, dizendo ao rapaz para se ir embora. Gritaram os dois com ela. Ela respondeu. Cada vez mais, Marco perdia a paciência com ela.
Miriam era no entanto sua amiga, ou assim se achava. Tinha sempre uma grande capacidade de perdoar e de acreditar nas pessoas. Este talvez fosse o seu maior dom, ou o seu pior defeito.
Nesse momento, alguém bateu à porta.
Miriam correu para ela, abrindo-a.
- Oi! Desculpem a demora. Eu e a Zandra fomos às compras.
Sofia saiu da casa-de-banho e olhou para a rapariga. Era a mesma do museu. Com a vergonha voltou a entrar na apertada e imunda divisão, espreitando por uma brecha na porta.
- Não é possível! - exclamou estupefacta.
À sua frente, erguia-se a figura esbelta de uma ruiva, vestida com um leve vestido verde escuro.Toda ela brilhava e emanava beleza.
Até Marco, que só via a Miriam à frente, acabou por dizer.
- Eu morri e estou no céu...
Miriam não pode deixar de sentir ciúmes. Mas como pessoa educada que era, disse:
- Ele quer dizer... sê bem-vinda!
Zandra agradexceu. Sentia-se transformada. Sentia-se ainda feia por dentro, mas ao menos, conseguira esconder o seu "maior defeito".

segunda-feira, janeiro 07, 2008

As Cem Razões de Catarina

Eram 7:40, o que significava dez minutos de atraso para Catarina. Tentava titanicamente tirar os dois filhos gémeos da cama (quantas vezes chorara quando descobrira que eram dois em vez do um que o orçamento planeado ao pormenor podia suportar). As duas crianças irritadas gritavam em uníssono "Não quero ir à escola!". Catarina acabou por conseguir pegar nos dois e enfiá-los na casa de banho (já nem queria saber se se lavavam ou não) e correr até à cozinha onde o leite começara a ferver.
Sentado, sem tirar os olhos do jornal, o seu marido parecia um adereço de decoração inconveniente que viera agarrado à cadeira onde sempre se sentava. Catarina precisava de algum calor humano que lhe desse forças para enfrentar o dia e sugeriu a Tomás deixar os filhos na avó para que os dois pudessem ao menos tomar um café sozinhos, quem sabe ver o mar...
- Sim querida, se queres...
Catarina não podia garantir que Tomás a ouvira, pois nem despregara os olhos do jornal. Aliás, querida parecia ter-se tornado um substituto simples para o seu nome, uma vez que assim ela perdia o estatuto de pessoa para se tornar a mãe dos filhos de Tomás.
Às 8:35 Catarina encostou o carro à porta da escola, para onde os filhos, agora numa agitação gigantesca, correram atrás dos amigos e a deixaram sem qualquer despedida. Ao tirar o carro do estacionamento fez-lhe um risco de uma ponta a outra.
Ao fim de um dia horrível a corrigir erros de quadros superiores da empresa sem um único elogio, Catarina apanhou as crianças na escola, que gritavam a plenos pulmões que não tinham brincado e que ela era má. Cumprindo o plano dessa manhã, Catarina deixou as crianças com a avó:
- Os meus amores- disse a mãe de Catarina. E logo se despediu secamente dela- Estão entregues, até logo.
Parecia a Catarina que já nem a sua mãe entendia que ela continuava a ser humana...sentia-se presa, mas já sem um amor maior que a prendesse a todo o trabalho escravo que a vida da classe média a obrigava...pegou no carro...
Vestida de negro e chorando nos braços de Tomás, a mãe de Catarina gritava poucas horas depois: "Porque fez ela isto? Não percebo. Tinha um emprego, tinha uma família que a amava...porquê que ela não podia ser feliz?"
"A mim nunca me contou..."suspirou Tomás.