João

não podes voltar atrás...

uma vez basta, fazes isso uma vez e acabou, aqui e agora...

não há como voltar atrás...

eu tenho medo...não sou capaz...

A faca aguçada tremia nas mãos de Carmelo (porque herdara este estúpido nome?). As lágrimas caiam em torrentes dos seus olhos...e mais uma vez ela não sabia o que queria. O telefone tocou. Recompos-se num segundo e decidiu atender aquela última chamada:

-Estou?

-Boa tarde! Daqui fala João...

Só podia ser uma piada de um deus maldoso! Carmelo interrompeu-o:

-E que tipo de João é?- e que pergunta seria aquela...

-Bem...sou um João Pedro que trabalha no telemarketing...não sei, nunca ninguém me tinha perguntado isso. Como se chama?

- Carmelo.

-E que tipo de Carmelo é?

Carmelo olhou para a faca que ainda apertava na mão:

-Não sei...

-Está a chorar? Que se passa?

-Já sentiu alguma vez que não importa aquilo que faça continua a ir pelo caminho errado?

-Sim, uma vez.

-A sério? E o que fez João?

-Dei meia volta...isto é..ainda estou a dar meia volta acho eu. Aliás...é por isso que estou agora ao telefone consigo e não atrás de uma secretária de escola.

-Fugiu ao seu dever?

-Carmelo, corrija-me se estiver errado, mas às vezes é preciso deixar de fazer aquilo que deve para poder fazer o que quer.

-E o que quer?

-Vou descobrir aos poucos. Acredite em mim, é uma aventura fantástica! Não desista já Carmelo, ou corro o risco de nunca mais falar consigo!

-Quer voltar a falar comigo?

-Sim...descobri que quero! Ou seja, acho que acabou por me ajudar imenso!

-Obrigada João. Acho que salvou a minha vida...

.Oh! Mas não foi de graça! Agora vai ter de me ouvir publicitar o maravilhoso produto que vai mudar a sua vida!

Carmelo riu-se...a sua vida já tinha mudado.

BUS nº34

Chamava-se Carmelo, como a sua falecida avó, e não fazia ideia porquê...

Só sabia que de facto estava frio em Barcelona, as suas tias e mãe não se tinham enganado. Mas o que era o frio? Apenas a demonstração física da sua alma, e do frio ela não tinha medo...se ao menos não fossem aqueles permanentes pedidos de regresso ao hotel ela teria passado toda a noite sem se aperceber dele.

Aproximou-se da paragem do autocarro. Iria mostrar à família que era capaz de os levar de volta em segurança. Leu uma série de números com locais escritos à frente. Não conhecia nenhum daqueles sítios, mas de certeza que algum deles era sinónimo de casa.
A sua prima queixava-se incessantemente quando ela o viu...era um autocarro como outro qualquer...tinha o número 34...e dizia em grandes letras CARMEL.

Era aquele...não podia duvidar de que era aquele...um autocarro com o seu nome tão explicitamente exposto só a poderia conduzir ao seu destino...qualquer que ele fosse...entrou e toda a família a seguiu.

O caminho foi longo e apertado, mas ela não podia deixar de sorrir!
De súbito as suas tias agitaram-se, a sua mãe fê-la carregar no botão de stop e saíram, a uns bons quarteirões de distância do hotel...e contudo era ali que era suposto ela estar...e riu.

Riu ignorando o raspanete da mãe, que repetia como um ecoar distante "Carmelo! Eu disse-te que não era este autocarro! Rapariga teimosa! DEVIAMOS ter apanhado o 74!"...

Carmelo estava feliz por, mesmo que só por alguns segundos, estar onde o seu destino a trouxera, e não onde deveria estar...

Feliz natal

A todos os meus friends do meu coração, queria dizer:

AMIGAS! BORA PARA A ÁGUA! bORA SALTAR TODAS JUNTAS!!!:p
Vamos ser, amigas 4ever!:P

FELIZ NATALLLLLLLLLLL...li

jOHN!:)

"Holiday"

Estreia esta semana o novo filme de natal "Holiday- o Amor não tira férias"

Just long coffee brakes

Contagem regressiva para o fim da alma - 28º dia

Um corpo inerte boiava no mar, já há quatro dias, junto à praia do Guincho. O seu sangue há muito congelara... o seu coração há muito deixara de bater...restava-lhe apenas a memória daqueles que de si conservavam... e mesmo esses... Quem se lembraria?

Seu pai, Sua mãe? Sim esses sim...
Seus Amigos? Uns sim, os mais próximos, outros não... encolhendo os ombros ou ficando por segundos estupefactos, para de seguida dizer... "Coitado.. olha é a vida!"

E quem o buscaria?
Quem soaria o alarme?
Qual alma mais sentiria a sua falta no mundo?

Tantas questões que se colocavam para o espírito que rondava o corpo, chorando a sua própria morte...

O seu nome era Carlos...Nunca gostara, desde a sua infância, do nome que lhe haviam colocado... E por ainda se tornou quando daí se derivou para alcunha. Carlitos. Vivia para o canto, poesia, para o teatro e para o seu amor...a vida. Ali deixado... o seu espírito perguntou por quê! Por quê! Porque é que o abandonavam...

Por quê a morte... se nem a vida tinha vivido...

Diário de Romeu, página 2

Oh! como tarda a Lua, querida Santa...o dia insiste em prolongar os nossos deveres pela eternidade.

E esta noite não dormirei, como já não durmo há muito...irei tornar-me mais um salteador na noite de Verona. Mas não são as mundanas moedas que procuro, minha amada...vagueio apenas pelo vosso amor. Dar-mo-ás de boa vontade, como o malmequer oferece o seu polen ao vento, ou guardá-lo-ás como a rosa, por entre infinitas pétalas e espinhos?

Como sofro com a dúvida nas longas horas do Sol querida Santa...como anseio pela ténue Lua que esconde o palpitar dos nossos corações, o encontro dos nossos olhos, o entrelaçar dos nossos dedos, gélidos de medo, o toque dos nossos lábios quentes, vermelhos de paixão. Como sonho com isto todo o dia...e como temo que, só vendo o vosso rosto de noite, não sejais mais que um sonho, um fruto há tanto desejado nos cantos mais recondidos da minha alma ardente...

A primeira estrela sorri-me do céu...é hora de entregar o meu pecado a vós, querida Santa, e rezar pelo vosso perdão...

*

Julieta é minha...

Diário da Julieta, página 2

Ó meu Diário! Quanto pranto...quanta angústia! Um quartel passou e nada..nem um breve suspiro seu na minha janela...

Não me amará mais? Aqule fogo de paixão que se condensou naquele beijo, e naqueles não dados, foi apenas isso? Fogo destinado a fazer fumo e desmanchar-se nos meis lábios e mãos, em cinza?

ó quanto pranto! Quanto pranto...

Quero sentir-lhe de novo junto a mim. Sem ele, só meia pessoa, sou meia gente, pobre criança deixada a metade da vida...

Mas! O que...Que som é este vindo da minha janela...Ouço pedras? Pedras? Ou pedaços de amor, lançados contra a minha janela?

E um vulto... o seu vulto... ó meu deus... O seu vulto na noite negra! A noite que virou dia de alegria e de paixão...

*

Ao diário nessa nopite, Julieta se calou... mas as suas palavras não ditas, nele ficaram registadas, qual tinta invisível, na vida em papel.

Nessa noite, Romeu e Julieta eram um só...

Orgulho perdido...

O seu nome era Carmelo, tal como o da sua avó, mas nunca conseguiria ser tão bem amada quanto ela...
Estava sentada numa mesa atulhada de estudantes no "Quente e Frio" e nunca se sentira tão sozinha...

*

O maldito cheiro de João estava empregnado no seu edredão azul (porquê justamente no seu predilecto?). Via-o mexer distraidamente no monte de inutilidades que enchiam a sua secretária e que a impediam de trabalhar. Estava deliberadamente a ignorá-la. Se não estivesse acustumada àquela provocação ter-se-ia sentido ofendida...assim estava só farta daquilo.

Puxou-o para se sentar na cama com ela...beijou-o muito longamente, tentando fazê-lo tocar-lhe...

- Melita está quieta...

- Porquê?-ignorou-o.

- Carmelo não!

- Que se passa?

- Nada Carmelo! Só quero que pares com isso.

João levantou-se e foi "esconder-se" algures na sua casa. Ultimamente apropriava-se de tudo menos de...

Chorou...podia aceitar que ele mastiga-se e voltasse a cuspir o seu coração. Mas esta rejeição ela nunca aceitaria...nunca...

*

- Melita? Estás a chorar?

- Não...estou só um pouco constipada...

Diário da Julieta, página 1

No canto da sala, aquele olhar...aquela visão...aquele futuro que sei que tem de ser meu.

Romeu...como um nome tão puro pode ser tão lascivo, tão cortante. Ah! Mas se isto é a morte, que venha ela encantada então. Que nunca antes me senti tão bem. Quero os seus beijos, os seus braços, os seus abraços.
As suas carícias, as suas mãos... Quero sentir-me a tocar o céu, mexendo entre os dedos os fios de água das nuvens. A beleza imensa do sol quente, fervilhando-me no peito e na pele.
Quero sentir a sua vida, o seu ser. Quero mergulhar-me no seu mundo para saber como pensa, o que pensa e o que lhe faço pensar.
Quero tê-lo deitado no meu leito... eu, semidéia qual nua à sua mercê de rei. Queria tocar-lhe no peito, sentir-lhe o coração! Arrancar-lhe cada respiração de prazer.

Mas mais que tudo, Ó meu diário...o Seu Amor, a sua paixão.
Quero tê-lo! Quero tanto tê-lo.

Quero vê-lo num quarto ou noutra divisão... onde não me importa. Quero apenas encontrá-lo sozinho para que unidos se quebre a solidão.

Romeu... se me ouvisses agora, dir-te-ia que esta espera é meu purgatório... e que sonho com este céu dos teus lábios nos meus, só mais uma vez...