Achados III (Miriam)
- Javier! Que quieres?- dizia ela ao telefone. Já não falava com o namorado à uma semana. Ele tinha pedido um "tiempo" para resolver os seus "problemas". Pois bem, o tempo já tinha passado e a coisa não parecia nada"guapa". De facto, o "desajollo" daquilo, parecia processar-se no sentido negativo.- Que me vá?
- Si.- respondia a voz do outro lado da linha.
Por detrás dos óculos de massa azuis que escondiam os olhos de Miriam, lágrimas começavam a cair. Estava só, a partir daquele momento. A sua mãe tinha-a expulsado de casa para poder ter mais espaço por onde fornicar o seu padastro. O seu pai, há muito falecera. Não tinha mais família, não tinha se quer namorado, a sua pedra, a sua rocha que agora se desmoronava.
Miriam pôs-se ali a chorar, não se atrevendo a levantar os olhos, nem a desligar o telefone ao rapaz que incessantemente dizia Hola! dou outro lado da linha, à espera de ouvir a sua raiva, a sua tristeza ou pelo menos a sua voz.
*
- AIIIIIIIII! Já me viste aquilo gaija?
- O que é ... Pipi.- perguntou Sofia enquanto devorava um bolo duro que nem pedra.
- Ali malher! Não me vez a coitada a chorar?
- Oh! Deve ter acabado com o namorado, ou coisa assim... não percebo porque me fazem esta fita toda.
- SOFIA!
- É verdade! Se queres que te diga, acho que o amor está sobrevalorizado!
- Já o sexo... - disse Pipi rindo-se
- Sim... esse está sub-aproveitado!
*
Tinha de sair dali! Dali de Barcelona e dali do café. À sua frente, cada monumento tornava-se doloroso, mostrando todos aqueles meses em que tinha estado com Javier. Em todos esses meses, Javier levara-a a um monumento diferente. O último tinha sido a casa de Gaudhi, com as suas estranhas formas e coloridas chaminés.
Na visita anterior tinha sido arrastada para a sagrada família, um monumento que nunca a agradou, para descontentamento de Javier.
Miriam não era dali. Era de Badajoz, do outro lado do país, junto ao país vizinho. Falava tanto espanhol como português e ainda arranhava no francês e violava o inglês, como quase todos os espanhóis. Tinha vindo para ali morar, há 3 anos, quando decidira que o curso de Psicologia seria muito mais giro numa cidade grande e movimentada, como Barcelona ou Madrid. Escolhera a primeira pela sua beleza. Agora amaldiçoava esse dia.
*
- A música está a deprimir-me!
- A mim também. Vamos embora!
Pipi e Sofia levantaram-se. Miriam começou a chorar cada vez mais.
- Vamos lá Sofia!
- Não te armes em bom samaritano!
- Olha, vai andando. Eu falo com ela.
E assim foi. Sofia voltou ao hotel e o Pipi ficou para trás...
*
- Posso ajudar?
Miriam, olhou para aquele estranho rapaz e sentiu vontade de rir.
- Não. - respondeu-lhe em português - obrigado.
- Vá lá! Conta ao pipi!
Miriam desatou-se a rir à gargalhada.
Ali uma nova amizade foi-se formando. A psicóloga e o especial espécime de raça humana que era Pipi. Falaram durante toda a tarde. Quando chegou à noite, Cada um foi para seu lado, Pipi feliz por ter ajudado alguém. Miriam indecisa se devia ficar ou aceitar a proposta dele - de embarcar no inter-rail, pela Europa, para espairecer.
Caminhou durante quase toda a noite, sempre segurando a morada da pousada onde Pipi e Sofia se encontravam.
Ás 4 da manhã bateu-lhes à porta, com as malas feitas, perguntando a que horas partia o comboio para Paris, na manhã seguinte.