sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Senhor Doutor I/III

Estava já há 15 minutos a olhar o vazio. A pensar na vida, a respirar ofegante. O que tinha ele? Uma casa, um carro... mais nada. Estava endividado até às orelhas, devido Às suas loucuras e ao seu vício - o sexo. Desde que se tornara no vice-presidente do serviço de ORL do hospital, que todos os dias, mesmo após os longos e cansativos, ia à "rua das putas", no Cais do Sodré. Tal como todos os lisboetas ou os que se passeam ou circulam por Lisboa, não sabia o verdadeiro nome da rua. Sabia era muito bem o caminho, desde o hospital. Sabia também que nessa rua existiam pelo menos 6 piquenas do seu agrado, prontas de perna aberta, por uns meros 100 euros (o que era isso para um médico), sempre que ele quisesse festa. Ainda disto se orgulhava, ou talvez até a este momento... costumava falar com um amigo dermatologista, um pobre coitado que apanhara herpes genital de uma dessas pequenas, e certa vez lhe disse: " Eu tenho uma sorte de cabrão!"
Mas teria? Estava ali perdido, sem nada... sem vida, farto de ver gargantas, secreções e porcaria... farto de preencher papéis atrás de papéis...
- Doutor António? - disse a enfermeira Natália...
- Hã? Ah! Desculpe.
- Já estava com o braço estendido há 5 minutos.
- Ah! Desculpe. Ponha aí a pilha.
E a enfermeira assim o fez. Aquilo era a única coisa de bom que tinha na vida. Tinha ao seu dispor todo um departamento que rebolaria se assim o dissesse, todos com medo de perder os seus postos.
- Bom. O primeiro caso é de um senhor...- começou a enfermeira a dizer. Mas nem ouviu. Limitou-se a olhar para a ficha deixada em cima do molho trazido pela enfermeira. Tinha isto, tinha aquilo... E ele? Quem o curava a ele? Quem é que lhe perguntava se estava tudo bem... Ninguém! Vivia isolado do mundo, perdido feito topeira, farejando a merda presa aos sapatos dos lisboetas.
Foi então que tomou uma decisão! "Vou acabar com isto tudo!"- exclamou para si e sorriu. Em breve, tudo terminaria. Ninguém se iria importar... menos um cão em Lisboa. Menos um vadio a viver.

*

Despediu-se nesse dia de toda a gente com um sorriso nos lábios, certo que nunca mais teria de olhar para muco, buracos nem secreções. Estava livre. Livre caminhando para o fim de tudo. Estranhamente, sentia que a noção de não-existência era bem melhor que a noção de existência. Iria cair no esquecimento, deixando-se levar por alguém.
- Mas como é que eu acabo com isto?- perguntou a si próprio, ao entrar no carro, deixado à frente do Hospital.
- O metro hoje estava impossível!- exclamou uma rapariguinha, talvez ainda do 1º ano do curso de Medicina, que ia a passar.
- É ISSO!. - Fechou o seu ferrari e passou-lhe a mão sobre o pêlo, despedindo-se, agora com nostalgia.
Caminhou para o metro, triunfante, com um sorriso marcado orgulhosamente nos lábios. Desejou agradecer à rapariga pela clarividência que lhe oferecera. Desejou mandar todo o mundo à merda e dizer:
-Vejam! Só com a morte sou feliz!

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

"Iris" de Matt (perdidos)

Quatro e vinte e três. Vera poisou o relógio consciente de que era improvável que viesse a adormecer nessa noite. Esta habituada às insónias.

Caminhou descalça e de pijama para o exterior da pousada. Era o último dia que passariam em Viena. Vera não sabia se queria mesmo regressar a casa. Pensava se não ter casa não seria a casa dela. Invejava a casa de Bárbara, mas poderia ela algum dia ter uma igual? Quem sabe se as folhas húmidas do chão a colarem-se aos pés não seriam melhores para ela do que um cubo de cimento.

Algo mais que o cheiro florestal do pequeno jardim da pousada pairava no ar. Era um aroma familiar e que a fazia salivar. Era um aroma que Vera recusava à muito tempo...

-Vera?
-Bom dia Matt!
-Porque é que não estás a dormir?
-Não sei...
-Que cara é essa?
-Sabes Matt, com tanta informação no mundo actual, acho completamente primitivo que estejas cá fora a uma hora destas a corromper a atmosfera verde só porque te apetece um cigarro. - Vera acabara de identificar o cheiro familiar.
-Oh não...
-Oh sim! Matthew, francamente, fazes alguma ideia do que isso vai fazer aos teus pulmões? E aos meus?

Matt usou o seu sorriso mais trocista quando se apercebeu do que Vera estava a fazer.

- E é por isso que ficas aqui, sentada ao meu lado e a respirar tão fundo quanto podes.

Vera emudeceu. Matt estendeu-lhe um cigarro e continuou a sorrir. Para quê resistir? Seria o último de qualquer forma.

- Satanás!
-Há quanto tempo é que desististe mesmo?
-Bem...há um ano já...
-E com quantas recaídas?
-Pelo menos uma por semana. - Vera corou. Não sabia porque é que dizia sempre a verdade a Matt. - Promete que não dizes nada ao João...ele não faz ideia. Acho que me matava.
-Pensei que era esse o objectivo do tabaco.
-Bem, o João matava-me muito mais depressa.
-E ainda não sabes se queres mesmo morrer, não é?

Um pequeno riso cumplice espalhou-se no ar frio.

-Vamos fazer assim: eu não digo ao João, tu não dizes à Vicky e os dois tentamos fazer a Bárbara parar de roubar maços da minha mala.
-A Bárbara sabia?
-O que é que a Bárbara não sabe?

Silêncio.

-Então...qual é a tua desculpa?
-Amanhã voltamos para casa...ou melhor, hoje cedo.
-Sabes Vera...finalmente compreendi o "Iris".
-Hã?
-"You're the closest to heaven that I'll ever be and I don't want to go home right now".

Vera sentiu-se feliz por estar demasiado escuro para Matt a ver corar. Não sabia o que lhe responder. Disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça:

-Quero ver o Sol nascer.
-Eu espero.

Qual era a diferença entre o Sol e o inferno? Assim que o sol nascesse estava na hora de ir para casa. Estava na hora de descer do céu. Estava na hora de largar a mão que aquecia a sua. E na hora de se preparar para nunca mais ouvir a melhor versão de "iris" que já conhecera.

domingo, fevereiro 17, 2008

Independência

e não a morte...

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Petição

Minha gente, venho por este meio pedir para assinarem a petição que eu vou iniciar. Trata-se de uma petição para tornar o dia dos namorados, feriado. Deste modo, as almas apaixonadas podem fazer o que quiserem juntas e aqui as pessoas "normais" (lolol) podem ficar em casa, não vendo as almas apaixonadas a comerem-se pelos transportes públicos, shoppings e jardins.
Sem outro assunto.... (para variar)
João. xD

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

O Sonho de Filipe (Achados X)

PLAY (Neste, a música ajuda criar o ambiente!)

As imagens passavam sem que Pipi conseguisse falar. Queria que parassem. Queria gritar, mas a voz não vinha. Tremia de frio e de medo, ali naquela estação de Alcântara. Eram 4 da manhã.
"Por que estou aqui?"- perguntava para si próprio.
Não havia comboios àquela hora. Não poderia estar à espera de alguém. Então por que estava ali?
Olhou em volta em pânico. Começara a chover...
As lágrimas começaram a correr-lhe pela cara. Não se viam, nem ele sentia, porque a chuva gelada o encharcava da cabeça aos pés.
Ouvia sobre aquela música fantasmagórica, o som da sua ofegante respiração e o palpitar do seu coração descontrolado.
Já conhecia o que vinha aí. Em breve... em breve viriam...

*
- Não! Não.... por favor...- gritava no Sono. Miriam agarrava-o como sempre tinha feito, desde que ele começara a sonhar daquela maneira. Baloiçava-o, esperando que o sonho mau acabasse. Marco lia como sempre o jornal, para conseguir acalmar o coração e a curiosidade em saber o que sonhava Pipi. Zandra estava estática. Era a primeira vez que via alguém gritar daquela forma no sono. Pipi chorava que nem um desalmado. Nem mesmo Sofia se mantinha indiferente, agarrando-lhe a mão.
*
Eles vinham do túnel... eles!!! Eles... encapuçados, com gorros negros, empenhando facas...
- NÃOOOO- gritava pipi....
Eles estavam ali ao longe. Começavam a correr...
- NÃAOOOOO - queria fugir... mas não conseguia....
Por que tinha ele vindo ali às 4 da manhã? O que pensara? Que ele viria? Agora pagaria com a sua vida... e nunca mais veria o Sebastião. Talvez ainda estivesse vivo... algures no seu apartamento em Alcântara...
Estavam cada vez mais perto...
-NAOOOO....
E finalmente chegavam. Eram quatro os homens que lhe saltavam em cima e o pontapeteavam, o esmurravam com toda a força e o vergavam, espetando as suas facas no seu abdómen desprotegido.
Sentiu a dor... sentiu a dor da alma e as lágrimas vieram-lhe aos olhos... sentiu a dor do corpo, vendo o seu sangue escuro a escorrer pela calçada da estação...
*
- Está na parte pior MARCO.- implorou Miriam.
Como sempre Marco levantou-se e tomou o lugar de Miriam, agarrando Pipi pelos ombros, enquanto ele gritava e contorcia-se em convulsões. Chegava por vezes a espumar da boca...
Os olhos de Zandra estavam estáticos. Sofia cravava as mãos nas dele, tentando-o acalmar.
*
O cenário tinha mudado... estava no hospital, todo enfeixado. Tinha apenas os seus 18 anos. Feitos em Abril. "Os touros de Abril não têm sorte nenhuma! Os de Maio sim, mas os de Abril não!". Uma vez dissera a alguém no comboio. Sempre fora um rapaz muito comunicativo. Foi por isso que tinha ficado assim. Por que certo dia, tentara engatar um rapaz que pertencia a um grupo de nacionalistas, homofóbicos. O rapaz chamava-se Sebastião. Era tímido e estava fechado no armário, a sete chaves, ocultando a sua identidade dos seus ditos melhores amigos.
*
- Já alguém te disse que és muito bonito? - tinha dito ele a Pipi. Ele tinha ficado vermelho que nem um tomate... nessa altura, só queria encontrar o seu verdadeiro amor. Naquele momento, tinha a certeza de que só podia ser Sebastião.
- Não sou nada...- dizia ele de forma tímida.
E assim tinham passado um dia primaveril, tomando chá numa casa de chá junto às ruínas do Carmo.
Tinham namorado durante 7 meses, às escondidas de todos. Até que certa vez, tinham sido seguidos por um dos "amigos" de Sebastião. Foi o escândalo em plena Lisboa. Juntaram-se muitos rapazes, apontando dedos e ameaçando.
- Seus paneleiros.
- Vou-te aos cornos, meu filho da...
- Seu rabeta.
- Devias morrer.
- Alguém te devia esfaquear!
Nessa noite, Pipi recebeu uma mensagem de Sebastião.
" Amor, vem ter comigo a alcântara as 4 da manhã. Eles querem-me fazer mal... Temos de fugir os dois!"
Ele foi, e agora estava deitado no hospital, quase morto, com o abdómen perfurado.
*
- Mãe....
- Felipe... soube o que se passou.
- Oh mãe! Tive tanto medo...- as ligaduras ensopadas de sangue, estavam agora molhadas das lágrimas.
A sua mãe trocou olhares com o pai e por fim olhou de frente Pipi
- Nunca mais te queremos ver...
Mais que a fúria dos encarapuçados, mais que as facas e as suas lágrimas, aquele golpe era o que doía mais.
Um mês depois saíra do Hospital, sozinho e sem qualquer refúgio... jurando para si próprio que nascia ali um novo Filipe. O Pipi, que nunca mais acreditaria no Amor, nem na família. Que a partir da li, viveria consigo, com a sua diversão e alegria. Nunca mais iria chorar.
*
- NÃO! Não posso ser assim. Não me posso tornar num monstro. QUero ser livre. Quero ser eu! Quer ser aquele que era antes de me matarem. Quero ser eu! Quero voltar a ser o FIlipe. NAAAOOOO
*
Pipi acordou nos braços de Marco, todo suado, com a cara arranhada e os olhos lacrimejantes. Sofia agarrava-o, olhando-o preocupada. Zandra chorava. Miriam mordia o lábio de medo e preocupação.
Quando Pipi começou a chorar, todos o abraçaram e o confortaram. Quando se acalmou, decidiu contar a toda a gente a sua história... Queria contar como é que tinah passado de Filipe a Pipi. Por que era aquele homem desprovido de limites e de auto-estima.
No fim da história, Pipi sentiu-se calmo e feliz.
Naquela noite, qual fénix...
Renascera a sua capacidade de amar e ser amado...

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

A Casa de Bárbara (perdidos)


Era a primeira vez que Bárbara passava o aniversário longe de casa. Hoje fazia vinte anos. Sempre pensara que estaria muito feliz neste dia. Não estava triste...mas tinha nela uma sensação de vazio. Ainda assim, esforçava-se por abrir um sorriso luminoso a cada presente que os amigos lhe entregavam.

- Porque é que acho que pareces melancólica? - Victoria era mais perspiscaz do que qualquer disfarce da sua amiga.

- Bem...hoje devia mesmo estar em casa...
- Porque não ligas aos teus pais? Toma, podes usar o meu telemóvel!
- Não é essa casa...

Silêncio.

- Tenho uma confissão de aniversário a fazer...Esta é a minha casa.

Bárbara retirou uma fotografia pequena mas brilhante da sua carteira. Os olhos dos seus amigos viram um rosto sorridente de uma rapariga que deveria ter a idade deles. Tinha longos cabelos ondulados e enormes olhos negros. A sua expressão continha uma doçura impossível de ignorar.

- A minha casa é ela. Chama-se Nívea e ficou no nosso minúsculo apartamento de Madrid à espera que eu decida aquilo que já sei há muito tempo...
- E que é?
- Que a amo e que quero voltar para casa, para ela, não importa o que ninguém pense.
- Não sabia que tu...
- Eu o quê Vera?
- Bem...que tinhas uma namorada...
- De certa forma eu também não sabia... Não me façam essa cara, eu tive uma data de namoraDOS - Bábar realçou a última sílaba - mas...ela é diferente...

Quatro pares de olhos fixaram os verdes de Bárbara. Havia um misto de surpresa e de alegria na voz de João quando disse:
- Em breve estarás em casa...

sábado, fevereiro 02, 2008

Your just too good to be true! (Achados IX)

Miriam adormecera nos braços de Marco, sem protestar.

*
Na noite anterior...
- Eu estou bem! A sério que estou. Isto já passa!
Mas não passou. Não conseguia controlar as convulsões chorosas que a acometiam. No dia seguinte, seria o seu Aniversário!
- Devias estar feliz!- disse Zandra com um sorriso carinhoso nos lábios e com as suas palavras aconchegantes.
- Eu sei! Só que... também é o dia em que eu conheci o Javier!!!- e lá começava ela a chorar que nem uma perdida. Marco estava calado, quieto, olhando a paisagem que passava correndo ao seu lado, pela janela do comboio. Sofia imitava-o, despreocupada com a situação.
- Vá láaaa amiiiga! Vamos animar. Olha dizem que na Áustria há imensa música!!! Podemos curtir toda a noite! - disse Pipi.
- Pois... há música, mas é toda clássica... - disse Zandra.
- OOOOOO Bollllaas! - Pipi acabara de ficar desapontado. Miriam recomeçava o seu incessante choro. Contudo, parecia que a sua alma estava separada do corpo. A sua mente cirandava para os lados de Espanha, pensando em Javier. O seu corpo sentia uma raiva visceral por Marco não reagir!
"O que é que se passa com ele?" - pensou irritada.

*
"Por quê? Por que é que eu me meto nestas situações. Estou apaixonado por uma rapariga linda e ela nem me liga. Chora que nem uma desalmada por alguém que não a queria. Como pode ser ela tão cega? EU quero fazer dela a mulher mais feliz de sempre! Que é que se passa comigo... por que é que eu me estou a magoar desta forma?"
*
Cansada de chorar, Miriam adormeceu com a cabeça no seu ombro. Marco colocou-a nos braços e agarrando-a fortemente, como medo de a perder ainda mais, deixou-a ficar ali, vagueando por entre pesadelos e sonhos do passado.
- Finalmente! Já não a podia ouvir! - foi Sofia que falou. Estava mais irritável do que o costume. Também naquele dia se comemorava um aniversário. Um mês tinha passado desde que tinha deixado Lisboa. Um mês que tinha sido abandonada por Vera e João. "Até daquele paneleiro empertigado tenho saudades!", pensou certa vez para si, recusando de seguida a ideia, abanando a cabeça.
- SOFIA?! Consegues parar de ser uma besta! - foi Zandra que falou. Desde que tinha saído de Berlim que não faziam outra coisa se não gritar uma com a outra.
- ZAAAAANNNDRA! Já te avisei!- rosnou Sofia levantando-se.
- O que vais tu fazer ?!- Zandra fez o mesmo.
- CALEM-SE!- gritou Marco. Miriam não pestenejou mas acordou. Mantendo os olhos fechados ouviu o que se passava.
- Não vêem que a Miriam percisa de descansar?- disse Pipi.
- Desculpa...- disse Zandra olhando Marco
Sofia manteve-se calada e preferiu olhar de novo a paisagem que os ultrapassava a grande velocidade.
- Não me peças desculpa a mim! Pede à Miriam....
- Mas tu...
- Mas nada! Eu não lhe sou nada. Não sou nem quero ser o seu paizinho que anda atrás dela a ver o que ela faz. Se ela se quer magoar, que o faça... - as lágrimas vieram-lhe aos olhos.- eu é que não me vou deixar que ela me magoe mais...
O silêncio que Marco tinha pedido fizera-se.. Ninguém falava. Pipi olhava de um lado para o outro feito uma barata tonta. Sofia já há muito se abstraíra da conversa. Zandra estava calada, envergonhada, mirando o chão.
Marco acompanhava Sofia, olhando a paisagem errante. Miriam estava quase a chorar de novo.
*
"ESTÚPIDA! ESTÚPIDA! ESTÚPIDA! O que estás tu a fazer!!! Tens uma pessoa que está apaixonada por ti e tu aqui a chorar nos braços dele, por causa de um rapaz que ainda por cima tinha mau hálito! O que é que estás tu a fazer?!"
*
Na manhã seguinte...
- Bom dia!!!- exclamou Miriam ao acordar. Marco não lhe respondeu. Estava cansado e taciturno. Não dormira nada na noite passada. Sem se aperceber do que estava a passar, Marco levantou a cabeça. Um segundo depois, Miriam beijava-o na boca com ternura e dedicação.
- Eu disse, bom dia, meu pataroco!- disse-lhe sorrindo.
Os pés de Marco tremeram. A sua cara estava escorrida, apática, com a boca escancarada e espantada. Pipi ria-se e gritava de felicidade, para desespero de Sofia e Zandra que queriam dormir.
Nesse mesmo instante, chegavam a Viena.
*
Começaram a sair do comboio.
- Onde vamos primeiro?- perguntou Sofia a Zandra, para seu espanto.
- Não sei, o que queres ver, alguma coisa mais cultural?
- SIm, pode ser.
Nesse instante as duas tiveram um arrepio.
- Credo, estamos a falar uma com a outra!!!
- Yah...
Não se dirigiram uma à outra, o resto do dia.
- Vamos passear um bocadinho, só nós os dois?
- Sim Marquito. Vamos. - respondeu Miriam sorrindo-lhe.
- Meninas, encontramo-nos na pousada. Vou sair aqui com a minha menina.
- Ok... ok... não se demorem...- disse Sofia.
E começaram-se a separar, deixando o Pipi para trás.
- Viena... mais uma cidade, mais uma tristeza de vida. - Pipi estava deprimido.
- Vens Pipi?- perguntou Zandra.
- Já vou. Aliás. Vão ter à pousada. Eu procuro-a depois.
Pipi não chegou a sair da estação quase chorando. Precisava de tempo para si.
Queria ver alguém. Queria um namorado. Alguém a sério! Estava farto das curtes de uma noite. Queria uma relação. Queria uma relação como a de Miriam e Marco. Queria um rapaz que lhe oferecesse flores, como Marco tinha oferecido nessa mesma manhã, a Miriam, mal tinham saído do comboio.
Queria viver...
Nesse preciso momento, alguém se sentou-se ao seu lado.
- Desculpe, este comboio vai para Itália?
Pipi não queria olhar. Sabia que se olhasse ia fazr figura de urso, novamente.
- Não sei...- disse olhando o chão.
- OK...obrigado. - disse em inglês, afastando-se.
Pipi decidiu então levantar os olhos. Tratava-se de um rapaz de olhos castanhos, com barba por fazer (mas não muito comprida), com um olhar carinhoso.
O coração de Pipi começou a bater mais rápido. Quis dizer alguma coisa, mas as palavras caiam para o esófago e não para a boca.
O rapaz piscou-lhe o olho e despediu-se.
Pipi sentiu-se ainda mais angustiado, certo de que nunca o iria ver outra vez...