Miriam adormecera nos braços de Marco, sem protestar.
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Na noite anterior...
- Eu estou bem! A sério que estou. Isto já passa!
Mas não passou. Não conseguia controlar as convulsões chorosas que a acometiam. No dia seguinte, seria o seu Aniversário!
- Devias estar feliz!- disse Zandra com um sorriso carinhoso nos lábios e com as suas palavras aconchegantes.
- Eu sei! Só que... também é o dia em que eu conheci o Javier!!!- e lá começava ela a chorar que nem uma perdida. Marco estava calado, quieto, olhando a paisagem que passava correndo ao seu lado, pela janela do comboio. Sofia imitava-o, despreocupada com a situação.
- Vá láaaa amiiiga! Vamos animar. Olha dizem que na Áustria há imensa música!!! Podemos curtir toda a noite! - disse Pipi.
- Pois... há música, mas é toda clássica... - disse Zandra.
- OOOOOO Bollllaas! - Pipi acabara de ficar desapontado. Miriam recomeçava o seu incessante choro. Contudo, parecia que a sua alma estava separada do corpo. A sua mente cirandava para os lados de Espanha, pensando em Javier. O seu corpo sentia uma raiva visceral por Marco não reagir!
"O que é que se passa com ele?" - pensou irritada.
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"Por quê? Por que é que eu me meto nestas situações. Estou apaixonado por uma rapariga linda e ela nem me liga. Chora que nem uma desalmada por alguém que não a queria. Como pode ser ela tão cega? EU quero fazer dela a mulher mais feliz de sempre! Que é que se passa comigo... por que é que eu me estou a magoar desta forma?"
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Cansada de chorar, Miriam adormeceu com a cabeça no seu ombro. Marco colocou-a nos braços e agarrando-a fortemente, como medo de a perder ainda mais, deixou-a ficar ali, vagueando por entre pesadelos e sonhos do passado.
- Finalmente! Já não a podia ouvir! - foi Sofia que falou. Estava mais irritável do que o costume. Também naquele dia se comemorava um aniversário. Um mês tinha passado desde que tinha deixado Lisboa. Um mês que tinha sido abandonada por Vera e João. "Até daquele paneleiro empertigado tenho saudades!", pensou certa vez para si, recusando de seguida a ideia, abanando a cabeça.
- SOFIA?! Consegues parar de ser uma besta! - foi Zandra que falou. Desde que tinha saído de Berlim que não faziam outra coisa se não gritar uma com a outra.
- ZAAAAANNNDRA! Já te avisei!- rosnou Sofia levantando-se.
- O que vais tu fazer ?!- Zandra fez o mesmo.
- CALEM-SE!- gritou Marco. Miriam não pestenejou mas acordou. Mantendo os olhos fechados ouviu o que se passava.
- Não vêem que a Miriam percisa de descansar?- disse Pipi.
- Desculpa...- disse Zandra olhando Marco
Sofia manteve-se calada e preferiu olhar de novo a paisagem que os ultrapassava a grande velocidade.
- Não me peças desculpa a mim! Pede à Miriam....
- Mas tu...
- Mas nada! Eu não lhe sou nada. Não sou nem quero ser o seu paizinho que anda atrás dela a ver o que ela faz. Se ela se quer magoar, que o faça... - as lágrimas vieram-lhe aos olhos.- eu é que não me vou deixar que ela me magoe mais...
O silêncio que Marco tinha pedido fizera-se.. Ninguém falava. Pipi olhava de um lado para o outro feito uma barata tonta. Sofia já há muito se abstraíra da conversa. Zandra estava calada, envergonhada, mirando o chão.
Marco acompanhava Sofia, olhando a paisagem errante. Miriam estava quase a chorar de novo.
*
"ESTÚPIDA! ESTÚPIDA! ESTÚPIDA! O que estás tu a fazer!!! Tens uma pessoa que está apaixonada por ti e tu aqui a chorar nos braços dele, por causa de um rapaz que ainda por cima tinha mau hálito! O que é que estás tu a fazer?!"
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Na manhã seguinte...
- Bom dia!!!- exclamou Miriam ao acordar. Marco não lhe respondeu. Estava cansado e taciturno. Não dormira nada na noite passada. Sem se aperceber do que estava a passar, Marco levantou a cabeça. Um segundo depois, Miriam beijava-o na boca com ternura e dedicação.
- Eu disse, bom dia, meu pataroco!- disse-lhe sorrindo.
Os pés de Marco tremeram. A sua cara estava escorrida, apática, com a boca escancarada e espantada. Pipi ria-se e gritava de felicidade, para desespero de Sofia e Zandra que queriam dormir.
Nesse mesmo instante, chegavam a Viena.
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Começaram a sair do comboio.
- Onde vamos primeiro?- perguntou Sofia a Zandra, para seu espanto.
- Não sei, o que queres ver, alguma coisa mais cultural?
- SIm, pode ser.
Nesse instante as duas tiveram um arrepio.
- Credo, estamos a falar uma com a outra!!!
- Yah...
Não se dirigiram uma à outra, o resto do dia.
- Vamos passear um bocadinho, só nós os dois?
- Sim Marquito. Vamos. - respondeu Miriam sorrindo-lhe.
- Meninas, encontramo-nos na pousada. Vou sair aqui com a minha menina.
- Ok... ok... não se demorem...- disse Sofia.
E começaram-se a separar, deixando o Pipi para trás.
- Viena... mais uma cidade, mais uma tristeza de vida. - Pipi estava deprimido.
- Vens Pipi?- perguntou Zandra.
- Já vou. Aliás. Vão ter à pousada. Eu procuro-a depois.
Pipi não chegou a sair da estação quase chorando. Precisava de tempo para si.
Queria ver alguém. Queria um namorado. Alguém a sério! Estava farto das curtes de uma noite. Queria uma relação. Queria uma relação como a de Miriam e Marco. Queria um rapaz que lhe oferecesse flores, como Marco tinha oferecido nessa mesma manhã, a Miriam, mal tinham saído do comboio.
Queria viver...
Nesse preciso momento, alguém se sentou-se ao seu lado.
- Desculpe, este comboio vai para Itália?
Pipi não queria olhar. Sabia que se olhasse ia fazr figura de urso, novamente.
- Não sei...- disse olhando o chão.
- OK...obrigado. - disse em inglês, afastando-se.
Pipi decidiu então levantar os olhos. Tratava-se de um rapaz de olhos castanhos, com barba por fazer (mas não muito comprida), com um olhar carinhoso.
O coração de Pipi começou a bater mais rápido. Quis dizer alguma coisa, mas as palavras caiam para o esófago e não para a boca.
O rapaz piscou-lhe o olho e despediu-se.
Pipi sentiu-se ainda mais angustiado, certo de que nunca o iria ver outra vez...