Nota: Todos estes posts serão musicados. O link está no início, só ponham play quando indicado.- Deu entrada na linha 3 o comboio com destino a Vilar Formoso, com partida prevista para as 10:30.João estava já à quinze minutos naquela plataforma, esperando pelas duas amigas (ou melhor, pela sua melhor amiga Vera e a emplastra da Sofia). Nesse tempo, já tinha visto e revisto todas as caras de todas as pessoas, que esperavam ali, encarecidamente, por aquele pedaço mecânico de engenharia antiquada a que chamavam de comboio.- Onde é que se meteram... faltam 10 minutos para partirmos!!!João olhou de novo para a pequena comunidade que ali se formara e que desfazer-se-ia em segundos, mal o comboio apitasse para seguir o seu caminho rumo a norte. Já tinha feito olhos, sem sucesso, a 3 rapazes que ali estavam. Já tinha falado com a mesma rapariga loira da Ucrânia, 5 vezes, respondendo-lhe sempre por gestos que "A SUA PLATAFORMA É A 4! É AQUELA!". Mas ela parecia não compreender.Aliás, parecia que ninguém ali o compreendia. Nem mesmo ele? Por que estava ele ali parado fazia meia hora, vendo comboios a irem e a virem, sem entrar em nenhum... a verdade é que João não queria perder por nada deste mundo, aquele tão ansiado inter-rail. Queria ver a Europa, queria ver os europeus... e mais que tudo, queria sair dali. Fugir daquele pedaço tacanho de terra, onde as pessoas eram feitas em grandes massas. Queria ir a sítios onde a vida dele pudesse ser livre. Ao fundo da plataforma duas desvairadas surgiam a correr.- Despacha-te Vera. - gritava a rapariga à frente, deixando esvoaçar o seu cabelo ruivo, para trás. Era Sofia... uma rapariga cheia de vida e com um cardápio extensíssimo no que tocava a rapazes. Dois dos ex-namorados de Vera, tinham dormido com ela. O actual também era cliente habitual. E tinha dormido ainda com um ex do João, um sujeito bi-curious, que afinal de contas era um mulherendo de primeira, muiiiiiiiitooo confuso.- Despachem-se as duas! Faltam 3 minutos! - gritou João- Vá Vera! - disse Sofia. - Que a tua amiguinha está a ficar irritada!- Estou... mesmooo.... mesmo atrás... de ti....- Vera, a verdadeira. Assim tinha sido chamada pela sua mãe. Nunca tinha sido boa a educação física, e por conseguinte, naquele momento desejava não ter de correr. Tal era o grau de exaustão que os seus belos cabelos castanhos ondulados, enchiam a sua boca, prejudicando a sua respiração.Finalmente, com todo aquele esforço, lá entraram no comboio, na carruagem B23, despedindo-se de Lisboa e dos seus males. - Vai partir o comboio com destino a Vilar Formoso, na linha 3. Por favor, afastem-se das portas.O comboio partiu finalmente.João tentou pela quarta vez fazer olhos ao rapaz da plataforma.
- BOA! Agora é que tu me respondes!!!- gritou enervado*
PLAY
*
- Então meninas. Entusiasmadas?
- Sim! Muito!- Vera e João pareciam uns miúdos.
- Tenham calma bichezas... é só uma viagem.
- Por que é que tens de ser sempre a mesma besta Sofia?
- Por que é que tens de ser tão gay?
- CHEGA!- gritou Vera. - Não estou para vos ouvir o inter-rail todo. Se não se calam, saiu desta carruagem e só me vêem quando chegarmos a Vilar formoso!
- Ela é que começou!
- Que putos! Isso não interessa João. Vamo-nos divertir e acabou.
Aqueles os dois desde sempre se tinham dado mal, desde o começo das aulas do 1º ano. Em compensação, Vera, desde esse dia sempre se tinha dado muito bem com eles. João era o seu melhor amigo, o seu confidente, o seu porto seguro e com quem chorava quando as coisas corriam mal. Sofia era o oposto. A sua loucura, o seu devaneio, a sua vontade de libertação e de contornar todas as regras impostas pelo seu grande amigo João. E ela? Ela era equilíbrio. Era tanto de desvairada, como de sério. Era acima de tudo pragmática, sabia o que usar, quando usar, sempre em prol dos outros e muito raramente em prol de si própria. Era uma pessoa feliz. Namorava com Tomás já há 4 anos. A noite mais difícil da sua vida, tinha sido ontem, quando tivera de se despedir do seu namorado, que não veria pelo período de um mês. Mas valia a pena! Realizaria o seu sonho, de ver a Europa, viajar, conhecer o mundo e dar-se a conhecer também.
- Bom, eu vou ao bar. Alguém quer alguma coisa? - perguntou Sofia.
Ninguém queria.
Sofia... a que ama. Sofia era sem dúvida a rebelde, daquele grupo. Aos quinze anos tinha perdido a virgindade e até hoje gozava com João por ainda ser virgem, aos 20 anos de idade e com Vera, por ter esperado até aos 2 anos de namoro. Tudo para ela tinha que ser liberal. Era um pássaro rebelde, uma eterna romântica e boémia, que não se prendia e muito menos prendia alguém. Precisava de sentir aquela adrenalina da aventura. Aquele gosto de vida... E por isso ali estava, com o objectivo de comer o maior número de gajos possível. Se conseguisse, até entraria para o Guiness.
E assim partiram eles... Vera, João e Sofia, cada um com objectivos diferentes, cada um com necessidades diferentes também. Mas todos eles, com fé de que a sua vida estava prestes a mudar...
Mal sabiam eles...