segunda-feira, dezembro 31, 2007

Feliz 2008

Amores, é só para dizer que vos adoro a todos, que tenho saudades e que espero que 2008 seja de arromba para todos nós!!!
Muitos Beijinhos e Divirtam-se muittttttttoooooooooo!!!!!
Happy New Year! :)
Little Jo*

(Johny, desculpa lá usurpar a tua conta ;)

Ugly Zandra (achados VII)


- MERDA!- gritou Zandra, martirizando-se mais um pouco, por nenhum rapaz ter respondido ao seu desesperado pedido de ajuda, naqueles sites estranhos em que as pessoas se apresentavam feito uma mobília qualquer, num catálogo que chegava pelo correio.
Zandra era uma rapariga estranha. Ou assim lhe tinham comentado a foto, certa vez. Tinha uns olhos belíssimos, de um verde cristalino, assemelhando-se a grandes esmeraldas cravadas na cara, na sua pele muito branca, contrastando fortemente com os seus cabelos ruivos, quase da cor da cenoura.
Toda a sua vida tinha procurado alguém. Ou assim ela se sentia. Não procurava príncipes encantados... já sabia muito bem que não existiam... apenas procurava alguém que uma vez na vida lhe dissesse: "És linda.", sem que viesse acompanhada daquela fatídica frase: "Lá estás tu a dizer que és feia!".
Sentia-se só. Sentia-se perdida. Tinha é certo amigos, mas mesmo esses olhavam-na como uma grande amiga que inevitavelmente ficaria para tia...
De facto, Zandra não era uma deusa. Tinha o nariz ligeiramente torto e empinado, consequência de um acidente numa aula de educação física; Usava uns óculos enormes, pretos, que lhe carregavam a cara e a envelheciam vários anos; Tinha um corpo demasiado magro para a sua idade, apesar de se esforçar todos os dias, para comer pelo menos o dobro das calorias que as pessoas dita "normais" deveriam comer. O seu pequeno-almoço era sempre uma bela de uma sandes cheia de um produto qualquer que se parecia com o chocolate, mais um prato de ovos mexido com bacon. Isto só o pequeno-almoço, porque o almoço dava para alimentá-la, bem como vários parasitas que pudessem habitar o seu aparelho digestivo.
- Mas por que é que ninguém responde?- Zandra desesperava. Já tinha até deixado mensagens aos homens mais horrorosos do site! Até já lhes tinha deixado mensagens do tipo " Não quero amor, só quero uma queca!".

Mas nada resultara. os homens eram pelos vistos "picky", no que tocava a mulheres.
- Bah! Vou espairecer.- Zandra agarrou as chaves e saiu. Decidiu que iria passar a tarde a fazer o que mais gostava. A visitar o museu Pergamon, admirando as estátuas antigas, que desejava ela, poder criar.



*

- Acho que fizemos bem Marco. A Bélgica não me soava tão bem como a Alemanha.- disse Miriam no seu português por vezes entermelado
- Sabes que é me indiferente...
- Por quê?
- Porque já vi tudo isto... além do mais, o que importa é que possa estar contigo...
- MARCOS!-Miriam estava a evitar aquele assunto desde Paris. A paixão de Marco não poderia ser aquilo de que ela precisava no momento.
- O que é?
- Eu gosto imenso de ti, és um rapaz espectacular, mas vamos tentar ser amigos!
- Tem mesmo de ser?
- SIM!
- Está bem.- disse fingindo-se desapontado.
- Amigos?- perguntou Miriam estendendo a mão. Marco reagiu pregando-lhe um beijo na boca. Miriam não reagiu de início, até que a consciência se sobrepôs ao coração, afastando-o.
- Então? Estavas a gostar! Miriam... Miriam... Vá lá. Espera por mim.
E assim voltou a corrida do rato e do gato.

*

- Estou a ficar farta disto...
- Também Sofia. Vamos embora?- Pipi entrara naquele museu, arrastando Sofia, simplesmente porque tinha visto um rapaz "podre de bom" a entrar. No entanto, as suas fantasias desvaneceram-se logo de seguida, quando ele se pôs a beijar uma rapariga qualquer.
- Que indecência!- exclamou ele histericamente, indignado.
- Que dor de cotovelo, queres tu dizer.
E assim tinham entrado no museu Pergamon.
- Ai não. Isto é mau demais! Já viste aquela feiosa? - Sofia cuspia crueldades atrás de crueldades, tentando esconder a dor que sentia. - Faz-me lembrar aquela pega da Vera e tudo!
Pipi já ignorava. Sabia que aquilo tudo era um embuste, uma fachada, uma máscara para cobrir as lágrimas que estavam de cinco em cinco minutos a quererem rebentar os olhos de Sofia.
- Oh, coitada. Nem toda a gente nasceu linda, como nós! Ao menos tem bom gosto. Já viste aquela saia. ADOREEEEIIIII!
- Controla a piriquita pipi. Não te metas a fazer amiguinhos, que foi assim que ficamos com a Miriam, a santa!
- Oh. Caluda mulher! Que vívora! Tu adoras a Miriam, só não descobriste ainda! E além do mais, também fizeste um amiguinho!
- Quem?O Marco?
- Sim!
- O coitado só faltou implorar! Além do mais, é giro como tudo. Pode ser que o leve para a cama!
- Sim sim...
- Achas que não sou capaz?
- Claro que não! Ele ainda se há-de casar com a Miriam.
- Não disse o contrário! Nada o impede de "comer por fora"!
- Ah.... que tal moral?
- Credo Pipi.... estás a tornar-te na Miriam!
Sofia saiu de ao pé dele e dirigiu-se para a zona das estátuas onde se encontrava Zandra. Entreolharam-se as duas.
- Hmmm, que bela peça de museu! Não sabia que deixavam entrar peças tão feias como estas!- disse Sofia cobardemente, em português, para que Zandra não percebesse.
- Hmmm. Precisas de ajuda? Certamente que não consegues perceber nada do que está aqui escrito. Além do mais, esta zona da escultura não tem homens despidos... coitada, deves estar desiludida!
Sofia corou. Zandra era filha de uma alemã, Anna Von Zinger e de um imigrante português, António Silva. Por conseguinte e por que o pai era muito "patriótico", Zandra andara durante vários anos numa escola portuguesa.
Sofia correu dali para fora envergonhada. Tinha ficado completamente sem resposta.
- Onde vais?- gritou Pipi, vendo-a fugir.
Zandra sorriu para si, contente por se ter defendido.... mas não conseguia deixar de pensar no sofrimento que o comentário lhe causara.

Todos temos um ponto fraco... era difícil quando este se encontrava à vista de toda a gente...

quarta-feira, dezembro 26, 2007

De que cor?

-Estás muito amiguinha de mr. Matthew Princeton...
João decidira aproveitar a irritação natalícia para dizer a Vera o que lhe ia na alma.
-Que queres dizer com isso?
-Nada. Só não quero que faças asneira outra vez.
-Como com o Tomás?
-Isso mesmo.
-Estás com ciúmes!
-E tu estás a ser parva. Não o conheces de lado nehum, porque é que lhe dás tanta confiança? Não sei se gosto dele...
-Eu gosto!
-E os dois sabemos como és boa a avaliar carácteres, não é?
-João, qual é o teu problema? Não estarás a descarregar em mim a tua frustração por o Matt não ser gay?

Era a primeira vez que Vera usava a palavra gay contra ele. João teve vontade de chorar. Nos últimos tempos tinha muitas vezes vontade de chorar. E o facto de Vera nunca se aperceber disso deixava-o ainda mais triste. Tentara protegê-la, sempre...porque é qu ela não entendia isso?

-Vera - fez um tom acusatório - que tipo de rapaz é que se aproveita da tua fraqueza e dorme contigo na primeira noite em que te conhece?

Estava a tocar num ponto fraco, e sabia-o.

-Ele dormiu comigo?

-Oh sim! Literalmente! - Bárbara ria, como se considerasse aquela discussão um entretem enquanto durava a viagem de comboio. Matt e Vicky tinham decidido vir com eles, uma vez que estavam sozinhos em casa de qualquer forma. Os dois tinham ido comprar comida. - Devias ter visto...a maneira como adormeceste assim que te encostaste à cama dele! Devias ter vergonha! A Vicky e eu tivemos um trabalhão para te conseguir despir e tapar.

Vera corou intensamente...Continuava sem a menor ideia sobre o que acontecera.

- Claro que o Matt é um cavalheiro. Não te acordou e tenho a certeza que passou a noite toda a ocupar o mínimo espaço possível da cama. Foi realmente amoroso!
- Será?
- Foi pois! Quando foi a última vez que confiaste em alguém João?

Não respondeu, e sentiu-se grato quando os dois ingleses entraram afogueados com um monte de doces nos braços. Victoria pareceu notar a tensão que pairava entre os três, ao contrário de Matt que se atirara para o assento ao lado de Vera e João. Vicky sentou-se delicadamente, como a rosa inglesa que era, ao lado de Bárbara, e como se não lhe ocorresse mais nada para aliviar o ambiente, perguntou:

-De que cor é o amor? - Vicky
-Vermelho! - Bárbara
-Cinzento escuro... - João
-Roxo. - Vera
-Depende! - Matt
-De quê Matty? - Vicky
-Do amor que é e de quem o sente... - Matt
-Pois eu digo que é rosa choque! - Vicky

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Natal (Achados VI)

"Natal... o dia das prendas, do santo menino, dos sonhos e daqueles doces que todos anseiam provar.
Natal, dia de partilha, dia feliz e cheio de beleza. Dia em que estamos junto daqueles que mais amamos... "

Marco levantou os olhos daquela folha quase toda branca, em que tentara começar a escrever.
- Bah! Hoje não me sai nada!
Era a Véspera de Natal e todos suspiravam. Até o Pipi estava mais calmo. A melancolia enchia-lhes o peito, a saudade a alma. Estavam longe das sua famílias.
- Vamos À fesssta! - bom nem todos estavam assim. Miriam estava habituada a passar o Natal sozinha, longe dos seus familiares. Passar com alguém que não fosse o seu ex-namorado, o feio Javier, como lhe chamava agora, era uma bênção dos céus.
- Estou?- atendeu Pipi o telefone. - Mãeeee! ó mãezinha!
E saiu dali para atender a sua vigésima chamada.
- Para quem não é facilmente suportável, ele tem tido muitas chamadas...- Sofia estava ensonada e aborrecida por ter de passar o Natal dentro de um comboio. Tinha partido de Paris fazia dois dias. O primeiro comboio onde tinham estado, tinha avariado 1 Km depois da plataforma. O segundo, que apanharam no segundo dia, tinha ficado encalhado naquela neve espessa que se formara de repente. O terceiro comboio, tinham apanhado naquele mesmo dia e estavam agora encalhados junto à fronteira com a Bélgica, por que a neve estava pior para aqueles lados.
- Então e tu? Ainda não te vi receber nenhuma chamada. Está tudo bem?- Miriam estava a ficar preocupada com Sofia. Não teria ela quem lhe ligasse naquele dia.
- Ah ah ah! Eu pedi para não me ligarem!- Sofia ria-se disfarçando a profunda tristeza que lhe invadia o coração. Todos os anos passava o natal em casa da Vera, junto à lareira, comendo aqueles doces, aqueles sonhos... era dos poucos dias em que se dava bem com o João. - Eu estou bem...
A sua única família, os seus pais, iam sempre para a Serra da Estrela, deixando-a para trás. Por que afinal, como lhe dizia sempre o pai: " Temos de te aturar o ano inteiro... merecemos umas férias românticas só nós os dois!". É claro que tudo era dito em tom de brincadeira, mas aquela mesma brincadeira sempre a magoara.
- Eu vou só fazer uma chamada...
Sofia levantou-se e caminhou para a carruagem seguinte.
- TRIMMMM TRIMMMM TRIMMM. Chegou À caixa de correio de ... Após o sinal, por favor grave a sua mensagem. BIP.
- Pai, gostava muito de ouvir a tua voz e a da mãe.- a sua voz começou a tremer e os seus olhos a lacrimejar. - sinto-me muito sozinha.... preciso de vocês. Tchau.
Desligou.
Nesse mesmo momento, o sue telefone tocou. O seu coração encheu-se de felicidade. Até que olhou para o telefone. Era Tomás...
- Tomás?
- Sua estúpida! A Vera não fala comigo por causa de ti!
- Desculpa?!
- Sua... - e foi despejando o seu repertório de nomes e acusações ao telefone. Num outro dia qualquer Sofia teria tido resposta para tudo. Naquele dia, estava enfraquecida. Limitou-se a ouvir, enquanto as suas lágrimas escorriam pela cara. Quando Tomás acabou, Sofia desligou-lhe o telefone e continuou a chorar.
Pior do que a culpa e a tristeza, Sofia sentia naquele momento a Solidão. Aqueles na outra carruagem não eram os seus verdadeiros amigos. Eram amigos, simplesmente. Queria ver a Vera... queria ver até o João. Queria estar longe dali.
- Sofia? - a voz de Pipi vinha daquela carruagem.
- Ah! Estás aí! Vamos?- disse limpando as lágrimas.
- Não disfarces Linda. Eu vi tudo.
E num abraço derradeiro, Sofia sentiu algum conforto naquele triste dia de Natal.
Passadas as lágrimas e o choros, Sofia e Pipi entraram na carruagem, cantando canções de Natal. Sofia ainda estava triste, mas sentia-se um bocadinho melhor. Sentiu-se ainda melhor, quando Miriam lhe sorriu e Marco lhe entregou as suas prendas de Natal improvisadas.

sábado, dezembro 15, 2007

Os achados da noite (achados V)

Paris... a cidade que ainda estava acordada, sob o som demolidor das discotecas. As luzes fervilhavam sob a intensa escuridão. Os corpos roçavam e tocavam-se cheio de furor e atracção.
- Esta música está uma treta... - reclamou Sofia.
- Yah... não aguento mais.Estou completamente exausta - Miriam estava sentada desde o momento da festa. Não tinha saído do hotel o dia todo. Tinha vindo directamente para ali. Mas como a tradição mandava, dizia que tinha dançado a noite toda.
Pipi estava mais longe, saltitando ao som da música, feito uma galinha doida, metendo-se com rapazes e raparigas.
- Já reparaste naqueles ali?
- Quais Sofia?
- Aqueles que não param de olhar para nós!
- Ah! Não, passaram-me ao lado.
- Oh Yes! Eles viram-nos.
- Oh god....- Miriam começava a ficar nervosa. A sua cara ruborizou-se.
- Ah! E estão a sair de onde estavam!!
- OH socorro. - Miriam gemia de medo e começava a tremer e a morder na palhinha do seu piña colada.
- E vêem para aqui!
- OH GOOOOOD!- disse Miriam, entornando a bebida em cima de si!
- Bonne soir!- exclamou um rapaz moreno com os dentes todos saídos. Parecia o resultado do cruzamento de um cavalo e uma iguana, com os olhos muito salientes.
- Ai filho, falas tão bem francês! - Sofia sorria, já se tinha apercebido que eles eram portugueses. Entretanto Miriam olhava o chão e tremendo limpava a blusa e as calças. Ainda não estava preparada para isso.
- Então os meninos querem conversar?
- Sim claro.... - Miriam levantou os olhos ao ouvir aquela doce voz. O rapaz tinha um ar pacato e querido, daqueles pequenos seres que dá vontade de beijar e de apertar. Não tinha nada ar de bad boy. O seu coração começou a bater mais forte.... a sua testa começou a suar. As suas mãos ficaram geladas e sentiu-se zonza. Não sabia se era da bebida ou não, mas sabia que precisava de sair dali. Tentou levantar-se, e caiu para cima do rapaz, atirando-o ao chão.
- Hello meninas... Vejo que já conheceram a minha companhia para a noite. - Atrás dos outros rapazes, um rapaz mais tímido com todo o cabelo espetado, dizia adeus. Era pelos vistos amigo do cara de cavalo e do moço caído, que, reparava agora Miriam, tinha os mais belos olhos castanhos...
Uma estranha força apoderou-se de Miriam e sem controlo, a sua boca espetou-se feito uma ventosa na boca do rapaz.

*
Em três quatros separados começou a festa. Sofia com a cara de cavalo, despiam-se À velocidade da luz, gemendo e suando. Ele, fazendo descer as suas mãos largas e estranhamente sensuais pela sua coxa. A sua língua rodando suavemente mas cheia de tensão. Ela, mexendo-se feito uma cobra, e espreguiçando-se de prazer.
No quarto ao lado, Pipi atirava-se para cima do pobre rapaz, já em tronco nu. Os seus corpos roçagavam um no outro e as suas mãos e língua percorriam-se.
No último quarto, estava Miriam.
Já todos nus os seus corpos tornavam-se num. Avançavam e recuavam, rodopiando e beijando-se debaixo daqueles lençóis.
A noite foi longa, para qualquer um dos seis...
*
No dia seguinte,o Marco acordava agarrado a Miriam. Tinha passado uma noite espectacular e achava que finalmente encontrara alguém. Tinha embarcado naquele inter-rail quase um mês antes... já tinha visto a Europa e estava agora de regresso. Ou estaria? Olhando-a a dormir tão serenamente, Marco decidiu que talvez a sua viagem estaria só a começar.
Levantou-se e caminhou para a casa-de-banho.
Miriam despertou nesse mesmo instante e berrando assustada, perguntou, cobrindo-se
- Quem és tu?
- Oi Linda. Então não te lembras? - Marco exibia-se à sua frente sem qualquer pudor. Miriam corava feito uma menina que nunca tinha visto as partes genitais de um homem, até então.
- Quem és tu?
- Sou o Marco. Conhecemo-nos na festa lembraste?
- Nem por isso. Devia estar bêbeda.- Marcos baixou a cara desapontado
- NÃO QUE NÃO POSSA TER SIDO BOM!- disse Miriam tentando animá-lo.- mas eu não me lembro de nada...
- Queres que te relembre? - disse Marco aproximando-se e tentando beijá-la. Miriam desviou-se e tentou despachá-lo.
- Olha... és um rapaz muito giro e simpático... mas eu não estou preparada para uma relação...
- Podemos ir com calma...
- Não! Não quero uma relação agora.
- Se é isso que queres...- desapontado, Marco levantou-se e começou-se a vestir.
"Que raiva! é sempre a mesma coisa!"- pensou ele... e efectivamente era sempre a mesma coisa. As raparigas que conhecia nunca o viam como um ser capaz de amar. Era sempre uma one night stand.
Depois de se vestir, Marco levantou-se decidiu sair dali. Miriam respirou de alívio.
*
- Tout a board, si vous plait!- gritava o senhor da estação. Miriam tinah passado o dia todo com pena de ter mandado embora aquele rapaz tão simpático... mas não tinha outra alternativa. Tinha de ser assim! Não tinha ainda esquecido o Javier...
- Vamos?- perguntou ela a Sofia.
- Vamos sim. Vai entrando que só tenho de fazer uma coisa.
- OK. Anda Pipi.
Pipi e Miriam entraram no comboio ocupando os seus lugares. Passados alguns minutos, Sofia apareceu com um ar malvado e divertido. Alguém estava atrás. Miriam não conseguia ver quem era... até que o comboio arrancou.
Atrás de Sofia, estava Marco, com um sorriso malicioso no rosto e uma sensação de triunfo na alma. Ele sabia que só assim conseguiria ser feliz. Estava farto de desistir! Tinha de lutar por ela.
Nesse momento, ele pensou "Cheque!", certo que em breve teria o seu cheque-mate.
Na mente dela só uma palavra surgia:
" Foda-se...."

terça-feira, dezembro 11, 2007

"doing nothing but aging"

Vera acordou numa cama tão confortável como a sua em Portugal. Estava em casa de Matt e Vicky, que os haviam convidado para lá passar a noite, aproveitando-se do facto do pai não estar em casa. Na verdade, Matt fora muito parco em descrever o pai: "é oficial e está no Iraque", dissera, não sem uma gota de ressentimento. A sua mãe falecera pouco depois de Victoria nascer, e nenhum dos dois tinha entrado em pormenor sobre o assunto. Contudo, pareciam ser um para o outro toda a família de que precisavam.

Uma porta abriu-se para o quarto, e Vera viu pela primeira vez a enorme quantidade de postar que o revestiam, os discos de vinil e o gira discos que estavam em frente da cama e eram reflectidos pelo espelho simples por detrás deles.

- Desculpa, precisava mesmo de tomar banho! - desculpou-se Matt, a sair da casa de banho. Vestia um enorme roupão de banho e tentava secar o cabelo com uma toalha. Apesar de completamente coberto, escondeu-se no canto mais escuro do seu quarto. - Acordei-te?

- Não, não...que horas são?
- Onze.
- Já? Ninguém me acordou? - Vera sentia-se tomada do stress que todos os turistas sentem quando adormecem e perdem horas preciosas de descoberta do país estrangeiro. Ia saltar da cama, mas reparou que alguém a despira antes de a tapar e se encontrava só de collants e camisola. Recuou.
- Não me leves a mal...mas da maneira como adormeceste aí mesmo...diria que precisavas de dormir...
- Oh...- Vera sentia-se agora ainda mais envergonhada. Não se lembrava de nada.
- Mas não te preocupes, quer dizer que o meu quarto é girl-friendly! Vou vestir-me no quarto da Vicky...podes usar a minha casa de banho!

Ainda ruborizada, Vera tomou o primeiro duche decentemente quente dos últimos dias. Procurou depois a cozinha, onde todos os amigos tomavam o pequeno-almoço em algazarra:

- Quero ver a Rainha! - insistia Bárbara.
- Mas Bábar...a Rainha não anda sempre em desfile para os turistas verem...- tentou explicar Vicky. Vestia uma horrível camisola às rosas, mas estava invulgarmente bonita. - Acho que deviamos fazer um tour mais geral, assim conhecias toda a cidade.
-Mas...
-Eu quero ver um musical!
- Não!
- Eu é que sou a visita!
- O que achas Vera?
- Oh, vou onde voces forem...
- Está decidido - Matt bateu com os punhos na mesa - Ficamos com o percurso da Vera!
- O QUÊ?? - gritou um coro de vozes em protesto.

Passada quase uma hora sem decidirem nada, acharam que o melhor seria almoçarem primeiro. Matt notou que Vera se afastara da discussão fazia algum tempo...seguiu-a.
Encontrou-a no alpendre gelado da casa (tão gelado que ninguém ia lá) com uma fotografia na mão e o telemóvel na outra.

- Podes voltar a tentar, mas ele vai continuar a não atender.
- Hã?
- E podes deixar mais vinte mensagens e ele vai continuar sem responder.
- Matt...
- As mulheres gostam imenso de sofrer, não é verdade Vera? - era a primeira vez que dizia o seu nome com a pronuncia correcta.
- Vocês não compreendem, pois não? Não conseguem entender o meu pequeno velório. Estou a olhar para um corpo e não aceitei ainda que a alma dele já não está perto da minha...mas eu vou entender...ainda que demore, eu vou entender...
- E depois?
- E depois vou deixá-lo ir em paz...
-...Vera...desculpa...

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Le Marais (achados IV)


- Aiiiiiii! Que estou em casa! - gritava histérico o Pipi, naquele bairro dedicado aos gays, no centro da cidade! Olhando todos aqueles rapazes, assumidamente gays que se pavoneavam pelas ruas, o seu coração tornava-se um tambor acelerado e parecia que lhe ia saltar pelo peito. Isso e mais algumas coisas...
Estavam em PARIS! A cidade cinzenta e iluminada a que chamavam de cidade do amor. Miriam bem o esperava. Queria esquecer Javier e toda a sua existência em Espanha! Queria fugir da sua terra natal e queria manter-se afastada das pessoas que lhe haviam feito mal. Estava mesmo a pensar em ir viver para Lisboa e terminar lá os seus estudos. O clima não era muito diferente e ela já dominava o Português, pelo que facilmente se conseguiria adaptar à Lusitânia e aos seus costumes. Quem sabe se Dr. Miriam Grajo, não seria a próxima Marta Crawford (fosse lá quem ela fosse. Quem falava muito dela era o Pipi!).
- Acho que vou àquela sex shop! Vêm?
- Ah... não me parece Sofia...
- Por quê?
- Porque não vamos encontrar lá, nada de interesse para a nossa vida sexual.
- Não seja tão púdica!
- Não é isso! A loja chama-se "Dans ton queue".
- E?
- Eu sei que o meu francês não é grande coisa, mas acho que a tradução é "dentro do teu ...."- Miriam não continuou. Era bastante liberal, mas ainda não os conhecia o suficiente para falar de sexo. Isto é, para ela falar de sexo, já que quer para Sofia, quer para Pipi, esse era o tópico de conversação que tinha obrigatoriamente de ser abordado todos os dias, de preferência mais do que uma vez por dia!
-Ah... pois...
- AHHHHHHHH! Eu tenho de lá ir!- Pipi voltava depois de ter tirado o número do "telemobile" de um "garçon trés jolie", que lhe tinha feito olhinhos.
Acabaram por entrar os três naquela apertada loja. Era bastante espaçosa e tinha pouco de sex-shop. Vendiam mobílias, estantes, quase como as lojas que vemos nas grandes superfícies, mas com forças um pouco mais extravagantes e com preços também eles desse cariz.
- Já viram a secção dos filmes?- perguntou Pipi a Miriam.
- Nãaaaaoooo. Deixa estar. Se calhar é melhor esperarmos lá fora!
- Também já te apalparam?- Miriam estava vermelha que nem um tomate e com vontade de fugir dali.
- Sim! Vamos embora. - Sofia e Miriam saíram assim da loja.
Esperaram e esperaram e o Pipi não havia meio de sair. Um quarto de hora depois, lá saiu ele com um saco de gelo num olho, chorando feito uma Madalena arrependida! Tinha uma loja toda ao seu dispor, com gays que não davam para contar pelos dedos... mesmo assim, tinha conseguido apalpar o único hetero da loja, um turista alemão que andava perdido e por acaso, tinha pertencido ao exército.
Ainda atordoado, Pipa acompanhou Sofia e Miriam. Ficariam três dias em Paris. Aquele dia seria passado no hotel, a beber e a conversar, esperando que no dia seguinte o olho do Pipi estivesse curado.

domingo, dezembro 02, 2007

Kiss Me! (perdidos IV)

A noite estava invulgarmente quente para Londres. Apesar de muito cansados, Vera, Bárbara e João viram-se obrigados a sair da pousada da juventude que parecia estar a arder de tanto calor.

O calor intensificava o cheiro a alcoól que impregnava as ruas da capital por onde vagueavam os três amigos. Andaram até verem um pequeno palco improvisado no meio da rua onde uma pequena multidão jovem se juntava. Havia também um barracão de aspecto quase limpo, ao que Bárbara exclamou:

-Cerveja!!!

A música que enchia os ouvidos de João não lhe agradava minimamente e ameaçava até causar-lhe uma dor de cabeça de intensidade razoável. Mas não conseguia arrastar as amigas para fora daquele quarteirão cada vez mais atulhado de hippies, punks, alguns travestis e ainda, como que por milagre, algumas pessoas de aspecto comum. Por entre elas, João conseguiu distinguir um rapaz, de ar quase tão enfadado como ele. Segurava um copo de plástico numa mão, e tentava retirar a outra de dentro da mão da rapariga que pulava ao seu lado (seria uma namorada?). João não podia deixar de reparar em como aquele rapaz se destacava belamente dos seus compatriotas. O cabelo escuro, não demasiado comprido, brilhava à luz dos holofotes e cobria-lhe parte dos traços finos do rosto. Na verdade, parecia que um artista grego decidira esculpir ali uma belíssima obra que se entrevia pelo meio do caos de ingleses arruivados.

-Vai falar com ele. - segredou Vera, que entretanto se aproximara do amigo, consciente de que só por si ele jamais se aproximaria do lindíssimo rapaz de olhar vago.

De súbito, ele sorriu. E João não estava enganado, ele sorria para ele. Sorriu-lhe também, embora tivesse a sensação que sorrir era um esforço gigantesco por entre os nervos que tomavam conta do seu cérebro.

-They really suck! - disse ele, em tom trocista, olhando para a rapariga que antes segurara a sua mão.
João não teve resposta possível, mas acenou com a cabeça.

- Se não fosse a minha irmã...acho que está hipnotisada!

Então era uma irmã! O coração de João pulou ainda mais depressa. Estaria aquele rapaz a meter-se com ele? Olhou de soslaio para a irmã dele. Em nada se assemelhavam. Era uma menina baixa, de longos cabelos louros, escorridos e platinados. Mesmo àquela distância, João viu-lhe os óculos de massa azuis turquesa sobre o seu rosto sardento. Os lábios dela acompanhavam a música..."kiss me", podia vê-los murmurar..."kiss me" eram exactamente as palavras para os pensamentos de João.

- Também são tuas irmãs? - tornou o rapaz - Parecem-se um pouco contigo...achas que me podes apresentar? Sou o Matt, e aquela é a Victoria. - disse ele, mal olhando para a irmã, como se ela o estivesse a envergonhar com a sua mímica da banda. - A tua irmã da esquerda é muito bonita...

João nem tão pouco soube a qual das suas "irmãs" Matt se referia. Só soube que o seu coração esmoreceu, mais uma vez...