Chamava-se Carmelo, como a sua avó que já estava no Céu, e que todos diziam ser muito parecida com ela...
*
Nessa noite Carmelo levara a cabo a sua actividade predilecta: surfava pelos blogs dos amigos (e seus próprios também). Adorava fazê-lo, se pudesse viveria meses só a ler aquela infinitude de textos de valor inexplicável, lançados na corrente da web e que ela pacientemente pescava e comentava o mais possível.
De súbito deparou-se com um texto invulgar sobre um tema vulgar, o amor:
http://filhosdaalma.blogspot.com/2006/10/mal-dos-homens.htmlCarmelo pensou longamente nele...o amor? Porque é que todos os seres humanos amam tão fatalmente?
Carmelo pensou no seu próprio amor...olhou para a maldição em forma de fita vermelha no seu pulso...pensou em João...porque é que o amara tanto? E porque agora que ele se fora pensava em amar de novo? E porque existiam tantas pressões à sua volta para que encontrasse um novo amor?...Enfim, porque usava ela ainda aquela maldita pulseira?..
A resposta que ela via era simples: todos somos obrigados a amar, a acasalar...a ter um par enfim. O amor era uma política conveniente. E Carmelo sentia-se obrigada a obedecer-lhe.
Achava agora que era por isso que usava a fitinha vermelha...parecia assim que estava atada a alguém, não era obrigada a refazer um amor inteiro com outra pessoa. Se nada usasse as pessoas achariam que era solitária e infeliz...se mantivesse aquele elo cor de sangue todos achariam que ela permanecia angustiada...e ela preferia este segundo rótulo ao de solteirona...e mesmo assim não se sentia feliz...
*
O professor tornou a dizer uma verdadeira pérola "...nunca hadem haver estruturas sociais tão importantes...". Carmelo trocou uma risadinha cumplice com Diana que se espalhou por todo o auditório 3. Depois copiou algumas frases vazias sobre sociologia para o seu caderno e continou vivendo...