quinta-feira, novembro 30, 2006

Diário de Romeu, página 1

Existe apenas uma palavra para descrever a beleza que os meus olhos conheceram hoje: Julieta...

Como poderam os meus sentidos viver até hoje sem ver a aurora nos seus olhos, as chamas do seu cabelo, sem sentir o verão do seu corpo, aquele calor que nos obriga a ser submissos a ele sem desejar mais nada senão suar a sua doçura?

Ainda não sei, diário, como consigo respirar o suficiente para escrever nas tuas páginas, sozinho na minha gélida cama...vivo pensando nos sonhos que me aguardam...o sonho trar-me-á de volta as labaredas dos seus cabelos, a suavidade das suas mãos nas minhas, trazendo a paz das aves e o desejo do tigre...o seu hálito que expira a minha vida, que a faz pender num ténue fio da sua ausência.

Julieta é o anjo do inferno de amor em que vivo...e sonho com o céu dos seus lábios nos meus, só mais uma vez...

quarta-feira, novembro 29, 2006

Contagem regressiva para o fim da alma - 29º dia

O tenente Ricardo dos Santos estava no local desde as 14 horas. O seu almoço tinha sido uma mísera sandes e um grande copo de coca-cola, para onde ele secretamente despejara uma chávena de café frio, para dar mais energia.

Dormia mal à noite... Os pesadelos, as almas dos mortos, de todos os casos que não tinha resolvido, vinham assombrá-lo exigindo que fosse feita justiça.

Lembrava-se particularmente daquela menininha de 7 anos de idade, que tinha sido fechada numa cave, enquanto os seus pais eram mortos e assaltados por um esquizofrénico qualquer.

Tinha medo...muito medo dos mortos... mas, para quê procurar a psicóloga da sua esquadra. " A Dr. Vanessa não pode saber disto... se soubesse pensaria que eu sou um fraco..." - assim pensava ele. E estes medos e estas angústias o iam consumindo...batida por batida do coração... noite por noite... fibra por fibra do seu corpo.

- Santos! Anda cá! Acho que encontrei o corpo.
O tenente olhou para o relógio. Eram já seis horas da tarde. Estava atrasado para o encontro que tinha marcado com o seu advogado, para tratar dos papéis da custódia dos filhos. "Não vou deixar aquela cabra ficar-me com os filhos...não depois de me ter posto os cornos." - pensava ele, mas logo aquela voz feminina de novo o chamou:


- Santos! 'Tou te a chamar à uns dez minutos. Importas-te de vir aqui me ajudar. Encontrámos o corpo!
- 'Tá bem.- e lá entrou ele dentro de água, juntando-se à sua colega, Tenente Joana Silva, puxando o que parecia ser o braço da vítima.

Quando a vítima foi tirada da água, Os tenentes tiraram as provas de que precisavam e tiraram as fotos ao defunto. Depois...despacharam-no para a morgue, apagando da sua memória aquele morto... fixando apenas o seu nome e a sua morada, para progredir com as investigações...



segunda-feira, novembro 27, 2006

Contagem regressiva para o fim da alma - 30º dia

O saco da morgue abriu-se, indagando aquele olhar azul cristalino e aquela pele azulada. Toda a água do mar havia passado e saido daquele corpo, podre, deixado ao abandono, ali na escura sala da morgue.

O Dr. Ferreira aproximou-se.
- Que achas Pedro?
Pedro era um "rato de biblioteca". Estava no seu 2º ano de especialidade e se corresse tudo bem, daqui a mais dois naos podia ser chamado de médico de medicina legal. Até lá, era só mais um entre 1500 pessoas, formadas no ano de 2006/2007, em medicina, Pela universidade médica de lisboa da UNL.
- Parece que já estava morto, quando foi atirado para a água. Aquelas marcas no pescoço são típicas de asfixia.

O Dr. Ferreira estava contente. O seu aluno aprendia depressa.
Parecia que tinha sido ontem que Pedro tinha entrado para aquela morgue, ainda confuso e sem saber o que queria da vida. Dr. Ferreira lembrava-se de entrevista:

*
- Então o que é que te seduz, meu caro, na medicina legal?
- Os mortos...

Obviamente foi gozado. A sua alcunha apartir desse momento foi determinada.

- ó Escava-covas, abre lá a senhora!

*
- Também me parece!
Dr Ferreira olhou para as horas. Eram seis da tarde...Eram seis da tarde?! Meu deus, estava atrasado!
- Abre lá esse rapaz ao meio e prepara o relatorio. Estás de Banco até que horas?
- 17h de amanhã.
- Então, até lá!

Dr. Ferreira deixou a morgue nesse dia, nem se quer pensando no rapaz que jazia sobre a sua marquesa. Pedro, por outro lado, suspirou e começou a abrir aquele cadáver, esperando encontrar respostas para as perguntas que se elevavam na sua cabeça.

O Dr. tinha-lhe ensinado no primeiro dia:
"Aqui há apenas uma pergunta que tem de ser colocada:
Como morreu? E não por quê!"
O como estava lá, mas fazia-se sempre acompanhar pelo por quê

Pedro pegou nos bisturi e começou a escavar pela resposta.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Aria

João pôs aquela mesma aria a tocar. O cantor lá ia cantando sempre as mesmas notas e sempre as mesmas letras. Dizia que morria desesperado. Mas João não o ouvia. Queria apenas silenciar aquele reboliço na usa alma. Aquela raiva revolta do seu âmago.
Sentou-se naquele mesmo sofa, calado e com aquela mesma vontade de chorar.

Deixou-se levar pelo canto. Calado, deixou a sua alma cantar cada nota até a música acabar. Quando esta acabou, a alma e o corpo eram um só, tinham adormecido.

O sentimento é que não.

Floribella

"Hoje eu vou te esperar, e nem vou me maquilhar..."

...mas na verdade, Carmelo passou um ligeiro toque de rimel nas pestanas...a Diana gostava dos olhos dela escuros...

"quero saber o que sentes, ao ver-me assim natural...e vou chegar bem cedo ao nosso reino encantado..."

...bem, para dizer a verdade ela pretendia fazer-se esperar...gostava muito de deixar o João nervoso, cada vez mais...

"cada segundo que passa é um sonho inacabado..."

...e desta vez ela concordava plenamente com a criadita de longos cabelos...

"vou usar o vestido azul, aquele que tu gostas mais..."

...Carmelo sabia do fraco do João pelo azul, mas mesmo assim puxou o decote um pouco mais para baixo (começava também a adorar provocá-lo)...e aproveitou para deixar também a saia revelar um pouquinho mais de coxa...sorriu-se...

"...e vou soltar o cabelo para dançar com o vento..."

...Carmelo lembrou-se de como o vento por vezes a traía, e apanhou duas madeixas do cabelo rebelde...tentou alisar e amaciar o resto o máximo possível...queria muito que ele lhes voltasse a tocar...

"...a nossa rua é o mundo onde o ar é perfumado..."

Não, não era a rua...era o João que lhe deixava o aroma doce na roupa...

"...e onde o sol brilha mais e o tempo está parado..."

...se podesse congelar para sempre aquela memória e viver dela...

"Mas não chegaste e sem o teu amor...o meu vestido azul perdeu a cor e sozinha nesta rua o tempo para mim parou..."
*
A janelinha do messenger voltou a chamá-la à terra incessantemente...e Carmelo foi atender o Lucas:
- Como estás Carmelita?
- Como sempre...

sexta-feira, novembro 17, 2006

O que nos ensinam

No metter how your heart is grieving

If you keep on believing...
The dreams that you wish
Will come true...

(Cinderella :P)

quarta-feira, novembro 15, 2006

Meninas e menino, é só para avisar que já tenho tel de casa e net!!!:P

sexta-feira, novembro 10, 2006

...mas queres mesmo que diga a verdade? Que não minta mais (nem a mim?)?

Está bem, eu prometo não mentir mais (e juro que é verdade)!


Mas depois deixaremos de ser lindos bonecos de madeira...
E seremos apenas humanos.

terça-feira, novembro 07, 2006

Às vezes acontece...

Chamava-se Carmelo, como a sua avó (que todos diziam ter os seus olhos), e justamente naquele dia em que ela ia desistir de acreditar no amor...

eles aconteceram
...e então ela tirou uma senha e decidiu aguardar mais um pouco a sua vez!

segunda-feira, novembro 06, 2006

Janela embaciada (III de III)


O tempo passou e passou. Nem tinha reparado. Estava olhando o vazio já há quase uma hora. Eram talvez 7 da manhã. O sol estava já a espreguiçar-se da sua longa noitada a dormir. A janela, no entanto, estava ainda embaciada. A parte que tinha apagado com a mão, estava de novo humedecida pela aquele contraste de temperaturas.

Mas o que escrever?

Se não era Amor, solidão, Tristeza?
Alegria? Não demasiado vago.
Angústia? Mágoa? Não! Não seria sentido, não teria significado.

O sol estava já um pouco mais alto. Ainda só uma leve luz ténue no horizonte.

Subitamente (talvez tenha sido o sol), fez-se luz na sua cabeça.

Com a palma da mão aberta, João apagou toda a água do seu quadro mágico.

" Alguém que o escreva por mim!" - Disse para si próprio e voltou para a cama. Estava tão cansado que o sono o acolheu...
Para quê antecipar o acordar, o futuro? Se era sábado e podia dormir até tarde?

;)

quarta-feira, novembro 01, 2006

Um Sentimento Politicamente Correcto?

Chamava-se Carmelo, como a sua avó que já estava no Céu, e que todos diziam ser muito parecida com ela...

*
Nessa noite Carmelo levara a cabo a sua actividade predilecta: surfava pelos blogs dos amigos (e seus próprios também). Adorava fazê-lo, se pudesse viveria meses só a ler aquela infinitude de textos de valor inexplicável, lançados na corrente da web e que ela pacientemente pescava e comentava o mais possível.

De súbito deparou-se com um texto invulgar sobre um tema vulgar, o amor: http://filhosdaalma.blogspot.com/2006/10/mal-dos-homens.html

Carmelo pensou longamente nele...o amor? Porque é que todos os seres humanos amam tão fatalmente?
Carmelo pensou no seu próprio amor...olhou para a maldição em forma de fita vermelha no seu pulso...pensou em João...porque é que o amara tanto? E porque agora que ele se fora pensava em amar de novo? E porque existiam tantas pressões à sua volta para que encontrasse um novo amor?...Enfim, porque usava ela ainda aquela maldita pulseira?..

A resposta que ela via era simples: todos somos obrigados a amar, a acasalar...a ter um par enfim. O amor era uma política conveniente. E Carmelo sentia-se obrigada a obedecer-lhe.

Achava agora que era por isso que usava a fitinha vermelha...parecia assim que estava atada a alguém, não era obrigada a refazer um amor inteiro com outra pessoa. Se nada usasse as pessoas achariam que era solitária e infeliz...se mantivesse aquele elo cor de sangue todos achariam que ela permanecia angustiada...e ela preferia este segundo rótulo ao de solteirona...e mesmo assim não se sentia feliz...

*
O professor tornou a dizer uma verdadeira pérola "...nunca hadem haver estruturas sociais tão importantes...". Carmelo trocou uma risadinha cumplice com Diana que se espalhou por todo o auditório 3. Depois copiou algumas frases vazias sobre sociologia para o seu caderno e continou vivendo...