domingo, outubro 29, 2006

Blog

Minha gente, é só para avisar que segui o conselho de uma amiga de uma amiga e decidi, ao invés de publicar os poemas, pô-los num blog, para sondar a opinião pública.

www.filhosdaalma.blogspot.com

Poema

Velhacos saberes

Não me venham com histórias, fantasias,
De que um deus maior
Se erguerá um dia dos céus
Para me acolher.

Não me digam a mim
Que este meu viver
Não passa de um caminho penoso
Para o paraíso.
Que esta é a prova que temos de fazer
Para que possamos no céu renascer.

Não me venham com infernos
(Que esta vida já o é!)
Nem com seres alados
Tocadores de harpa e felicidade.

Não me venham falar de amor
De um amor de todos
De laços que nos unem.
Não me falem de nada disto
Que vómitos me provocam.

Amor?
Então a guerra?
é a pura expressão do "Quão gosto de ti?"
Então as mortes de quem a vida
ó em pura castidade,
Foi vivida.

Não me venham falar de que o meu dom
O meu cantar é de Deus.
É meu!
É pois o meu ser...

Não me venham dizer que ele vê, ouve e sente tudo.
Que em todo o lado se pára.

E se alguém um dia
Ao meu ouvido falar a meia-voz
Dizendo "Não te esqueças de Deus"...
Pois que espere a resposta:
"Vai com cuidado irmão...
Que ele está no meio de nós!"

João Fartaria 29/10/06 22:41

Janela embaciada (II de III)


- Que frio!

Fora da cama o mundo era mais cruel. João sentia a espinha retraída do frio, os dedos cheios de frieiras e todo o corpo envolto em si, encolhido em torno do cobertor vermelho, que usava todos os anos no Inverno. Na sua frente, a a humidade circunscrevia um buraco, um espaço sem água onde antes havia sido escrito Amor.

"Mas então o que escrevo eu?"

Passaram cinco minutos e então João olhou em volta. Sentiu o silêncio a não existência. Conseguia ouvir o coração, conseguia ouvir a sua alma. Esta chorava...

Com o hálito, embaciou de novo a janela e escreveu duas palavras:

tristeza e solidão

Mas logo apagou com a mão o seu destino. Aquele era o seu passado. Não queria que fosse o seu futuro...

sexta-feira, outubro 27, 2006

Janela embaciada (I)


CHovia lá fora... Todo o mundo se inundava enquanto João se enrolava nos seus cobertores quentes de inverno. Quando por fim acordou, olhou lá para fora. Tanto frio que devia estar... a sua janela estava embaciada e só o som da chuva denunciava o mau tempo lá fora...

Decidiu levantar-se e caminha até lá.

Tão bom seria se pudesse escrever numa só palavra o seu futuro. Tão bom seria poder naquela humidade encostada à janela, escrever com a ponta dos dedos o seu destino. Imaginou então que era possível.

Primeiro, escreveu Amor.
Mas seria mesmo justo escrever essa palavra? Não estaria a ser demasiado sonhador?

Apagou com a mão a palavra e meteu-se a pensar o que escrever então...

terça-feira, outubro 24, 2006

A Fitinha Vermelha

Chamava-se Carmelo, como a sua falecida avó, que nunca conhecera, mas que todos diziam ter sido uma senhora muito boa. Ela era a Carmelo, mas estava longe de ser uma senhora, ainda para mais uma de bondade.

Pensava nisto enquanto se abrigava da chuva, sentada num banco de estação de comboio, como fazem as pessoas que já perderam qualquer esperança que a vida pudesse ser diferente...e era quando se sentia assim que olhava para a fitinha vermelha, que há tanto tempo tinha atada no seu pulso esquerdo...

Nunca a ousara tirar (temia que as sete pragas do Egipto se abatessem sobre ela se cortasse um único fio daquela frágil tira de algodão). Acariciou-a como em tempos o acariciara a ele (o responsável por aquela maldição em forma de fita cor de sangue)...sentiu uma coisa que à muito nem pensava: Saudades...não angustiantes ou exigentes, só reminescentes...

No dia em que ele fora embora, Maria dissera-lhe: "Não te preocupes, ele não gostava de ti..."...Ele não gostava de ti? Que consolo era aquele? Preferia mil vezes que ele fosse apenas um idiota (o que também lhe disseram várias vezes, mas que ela achava ser seu direito exclusivo pensar)! Como odiara todas as criaturas humanas nesse dia...

Agora não...agora não sabia nada sobre o que sentia pelas pessoas (nem queria saber)...congelara o coração temporariamente, todo o seu calor se extinguira...e agora Diana dizia-lhe que ela era chata...preferia ser chata que chorona...

Fim da linha...o comboio parou e Diana olhava para Carmelo com um sorriso exuberante...Carmelo pensou num presente que lhe pudesse dar para compensar a sua falta egoísta de não ouvir...

sábado, outubro 21, 2006

I wanted you to love me because I'm a magical fairy, and not "your beautiful princess"...
*
Amar-me-ás quando envelhecer?
Amar-me-ás quando nas minhas faces suaves,
macias como as penas das livres aves,
se formarem os traços vincados do meu anoitecer?
Amar-me-ás quando os meus músculos, hoje firmes,
diminuirem, encarquilharem, encolherem,
e os meus passos tremerem,
as pernas como verdes vimes?
Amar-me-ás quando o meu colo,
no seu amanhecer da cor do jasmim,
quando o Sol mandar recolher Apólo,
amarelecer como antigo marfim?
Amar-me-ás quando o meu beijo,
de doce e casta acácia,
perder a mágica,
e souber a simples erva do pasto,
que já só aos animais desperta desejo?
E amar-me-ás quando as minhas mãos
(oh, como as amamos ambas agora)
perderem o toque, suave e vão,
deixarem de ser "mãos de donzela" então,
para se entregarem às lides vulgares
de um qualquer fogão?
Amar-me-ás quando a poesia do meu corpo
se desfizer em lenta prosa?
Ama-me assim,
meu príncipe, meu senhor,
que serei tua até o nosso sol se pôr...
e o meu coração dançará com o teu,
à música descompassada do amor,
todos os dias...até ao fim...

sexta-feira, outubro 20, 2006

Memória 2: a minha primeira MANIF

Era o intervalo do almoço, o momento mais aguardado de qualquer dia da semana, em que todas as crianças podiam brincar livres da "sabedoria" da aula! E era isso o que eu fazia, bricava feliz com as minhas melhores amigas, a Ana e a Joana.

De repente, a Raquel (uma criancinha que eu não apreciava muito) veio ter connosco...zangara-se outra vez com a Catarina (que entretanto também se tinha aproximado com mais umas amigas) e queria que "estivessemos do lado dela". Ora estas birras delas eram muito frequentes, quase tantas como os confrontos entre o Sondoku e o Vegeta...mas muito piores é claro, porque demoravam todo o intervalo até estarem resolvidos!

Foi então que eu, cheia de ímpeto revolucionário Che Guevara, me levantei e disse: "Eu não estou do lado de ninguém! Resolve os teus problemas sozinha!"

E quem diria? Todas as meninas disseram o mesmo e fomos brincar (até a Raquel e a Catarina)! Fiquei muito orgulhosa!

terça-feira, outubro 17, 2006

"Muda de Vida"

Chamava-se Carmelo, o nome dado pela sua mãe em honra da sua avó, que ela nem sequer conhecera. Parecia-lhe que lhe fora negada à nascença o direito à identidade pelo simples facto de nem um nome ter para si só. E ela sentia-o, dentro de si, a crescer a uma velocidade alarmante. Desde criança que nunca soubera o que estava a fazer, para onde ia. No início achava que lhe fora negada a chance de fazer o que queria, mas não, era pior, muito pior! Fora-lhe negada a própria chance de querer, porque ela não queria, não conseguia imaginar uma única coisa na sua vida que tivesse feito porque realmente queria...e isso desesperava-a de uma forma que ninguém entendia.
Nesse dia, antes de sair do comboio, disse à sua amiga Diana: "Um dia mando isto tudo à..."
Saiu para o frio da noite, fora da infernal multidão da carruagem e foi para casa...Mas onde era a casa? Ela queria ir para casa? A dúvida causava-lhe medo, e o medo dilaceráva-lhe o coração.
E foi então que decidiu...correu, correu para uma nova vida, correu pelas ruas de braços abertos, nada seria como dantes, tudo ia mudar, não sabia como, não sabia para quê, mas isto ela sabia que QUERIA: TUDO IA MUDAR!!!!

*
Em casa, Diana perguntava-se porque não atendia a Carmelita o telefone, logo hoje que tinha a novidade do ano para lhe contar! Ligou então para casa. A mãe atendeu...Carmelo mudara de vida e não podia regressar à antiga...estava morta e TUDO MUDARA!
*
Na sala de aula Diana olhou para a sua amiga:
- Uma moeda pelos teus pensamentos Carmelita! Onde estás tu?
- Estava a pensar...tens os apontamentos da aula? Não estou a entender nada...
- És sempre a mesma - riu Diana.
E Carmelo fez o que sempre fizera: copiou a lição e prosseguiu com a sua vida...

segunda-feira, outubro 16, 2006

Abre a mão...


- Fecha os olhos...
- Onde me levas? Porque tenho de ter esta venda nos olhos?
- Abre a mão...
- Oh! Seja!

Madalena fechou os olhos ao seu amigo David sem que nada mais importasse. A venda foi-lhe colocada com todo o carinho... e lá foram eles para o passeio. Ele, olhando o mundo em volta, saboreando a vista e o nariz, com aquela brisa rara a mar, que emanavam as ondas de Cascais. Ela, de olhos fechados, só podia confiar nos olhos de David e na sua mão, que a guiava até ao carro.

- Onde vamos? - insistia ela. Mas ele entregava-se ao silêncio da sua alma. - Ao menos podemos ouvir música?

Ele lá pôs um cd de ópera, de uma aria que arrepiou Madalena. Era linda de morrer, com agudos tão cuidados, quase como rosas sem espinhos, depositadas no regaço de uma mulher. Madalena não gostava de ópera, mas aquela ela quis ouvir. Era a dama borboleta, "Madama Butterfly", cantando a sua esperança na aria "Un bel di vendremo"... um dia o veremos.

Então o carro parou. David deixou a música terminar e abriu a porta. Depois tirou cuidadosamente Madalena do carro. Só se ouviam as ondas e um assobio ventoso que denunciou a praia do "Guincho".... David tirou-lhe a venda e beijando a face de Madalena disse então:

- Aqui o vento está bom...finalmente posso te dar o presente. Abre as mãos.

Madalena olhou-o calmamente e acatou a ordem.David colocou então nada dentro de cada uma delas e fechou-as. Disse-lhe então:
- Na tua mão direita, tens o passado. Na esquerda, o futuro. Lança ao vento o que queres que te deixe e guarda na mão o que quiseres guardar. Eu espero no carro...

E sozinha Madalena ficou... pensando qual das mãos abrir. No fim, foi abrindo uma das mãos e lançando o seu nada ao vento. Voltou para o carro...
Para junto de David.

Não falaram até Cascais...

sábado, outubro 14, 2006

O Chá de Caridade

Era Domingo cedinho, quase quatro da tarde, e a Tia Lolica corria com os saltos gucci para ver os preparativos. Hoje daria um enormérrimo five o'clock tea em beneficiência das vítimas da guerra (que é como quem diz, os pobrezinhos). Era um dia tão especial que ela até mandara fazer o chá como manda a etiqueta britânica: tinha mandado a criadagem levantar-se cedíssimo e ferver a àgua durante cinco horas (five o'clocks), porque ela não era burra, sabia que cinco minutinhos chegavam, mas hoje era por uma boa causa!

Depois de toda a tiagem chegar e se sentar em torno da mesa começaram a beberricar:
- Ai este seu chá Lolica sabe horrores de bem!
- Beba, beba Babá, que este chá é maravilhoso! Olhe, faz ir imenso à casa-de-banho e depois fica sem barriga, lisa que nem uma tábua!

Entretanto, projectadas numa tela, vão surgindo algumas imagens de mulheres e crianças sudanesas, comendo terra vermelha antes de se transformarem nela. A sensibilização foi imediata:
- Ai Lolica querida...as consultas no Talon que eu tinha de pagar pa ficar assim magrérrima...
- E o que eu já gastei em solário pa ficar metade daquela cor? Nem imagina...

A tia Farofa, ainda gordinha e pouco acustumada ao Mundo Tio, sentido-se mal pela sua recente fortuna vir da empresa do marido no Paquistão, onde criancinhas sujas cosem casacos de pele por uma tacinha de arroz, coloca no cestinho da esmola uma nota, e daquelas verdes!

A mesma exclamação percorre num murmúrio toda a mesa tiesca: "exibicionista"!

Só a Tia Babá, ainda excitada pela milagrosa infusão, ignora e pede a uma criadita:
- Mais um chazinho, por caridade.

quarta-feira, outubro 11, 2006

20 Memórias

Monstrinhos amigos, em breve terei 20 anos (medo)! Para tornar as coisas menos penosas (e para fingir que aprendi muito com a vida) decidi ir publicando 20 momentos que ficaram congelados na minha memória. Cada um à sua maneira foi como que uma revelação, um mundo novo...por isso quero muitos comments a dizer o que acham que mudou sim? A primeira aqui vai:

Quando eu tinha uns quatro anos e vivia ainda debaixo da casa da minha avó (é estranho eu sei), o meu pai decidiu ir para a casa de banho e pôr-se de volta do lavatório por tempos intermináveis. Nessa altura eu tinha uma ideia muito fixa de quem era o meu pai: um homem alto, forte, louro e de bigodes. Só isso...aquele era o meu pai! Passado o que me pareceram horas ele saiu da casa de banho...

corri para ele

ele olhou para mim

e perguntou: "gostas?"

Oh choque! O meu pai não tinha mais bigodes...e toda a ideia de pai acabara de ser abalada...Quem era aquele louro?

Não faço ideia do que lhe respondi...mas nunca mais me esqueci disto. Porquê?...não sei...

terça-feira, outubro 10, 2006

Achei que devia partilhar

Pois minha gente este é um caso verídico e mais! Verdadeiro!!:P Hoje na minha bela aula de audiologia (Às 8:30 da manha!weeeee),estava eu a ouvir um eco (a voz do prof) a falar sobre surdez, quando subitamente despertei para a vida!!!

O motivo?
O prof tinha dito o seguinte:

" Os indivíduos com surdez de transmissão podem ouvir através da pele. Basta colocar fonte sobre pontos específicos. Ora esta fonte (ATENÇÃO!!!) é um (Objecto que vibra....) um vibrador!"

Efectetivamente, o que vibra é vibrador, mas axo que foi uma má escolha de palavras!!!!!

Enfim, mas isto piorou

" Existem pontos susceptíveis de serem estimulados (cof cof cof), tal como a cabeça, o osso temporal e ainda os dentes. (nós com ar de espanto!!!! Dentes???)! Sim! Já não é a primeira vez que tive de realizar um teste de audição por via óssea em que tive de colocar o vibrador no dente do doente!!!!!!)

Enfim... Esta foi a melhor aula de sempre!!!:P

sexta-feira, outubro 06, 2006

Just smile


Por cada dia que passa....