segunda-feira, fevereiro 26, 2007

tridente verdes e Violetas da Pérsia (parte 2)

...5 minutos...

Era tanto tempo e de repente parecia tão pouco! Carmelo (que agora pensava em tudo menos na sua avó) sentia o peso do tempo cair sobre si. Começava a pedir ao destino que adiasse aquele dia, o dia em que conhecera o Pedro. Tinha saído de casa à pressa e tinha possivelmente vestido a pior coisa que estava no armário. Não se tinha sequer esforçado por pentear os caracois rebeldes. Teve uma sensação de pânico incontrolável. Correu para a montra mais próxima, a que tinha um vidro escuro que a reflectia. Não gostou do que viu. O pânico cresceu. Começou a mastigar as tridents, uma após a outra, até que se sentiu tão mal disposta com o sabor de hortelã que as deitou todas fora. Não estava a adiantar nada.

Voltou para a montra espelhada. Tentou num gesto desesperado endireitar os cabelos. Não conseguia! Pegou no elástico que tinha sempre no pulso. Sentiu uma mão forte segurar-lhe o braço:

- Porque fazes isso?

Pedro...O reflexo dele fixava-a nos olhos. E ele sorriu. O pânico de Carmelo esmoreceu. Sorriu para ele também sem encontrar nenhuma palavra que pudesse dizer-lhe...e para quê?
Sentaram-se num daqueles banquinhos horríveis de centro comercial, mas que naquele momento eram tão confortáveis por terem os olhos entregues um ao outro.

- Tu existes mesmo!
- Tens caracois!
- Tens cabelos pretos!
- Os teus olhos brilham lá dentro!
- Os teus fazem-me sentir calor!
- E ficas com os lábios vermelhos quando estás nervosa!
- Tens braços de pessoa forte!
- Eu SOU forte!

risos

- Tens uma orelha de elfo!
- Cheiras a praia!
- Tens mãos de donzela!
- Tens sorriso de colgate!
- Cheiras a violeta da Pérsia...
- A quê?
- Espera! - disse Pedro, e correu de novo para o continete, como uma criança que anseia por mostrar o objecto mais importante do mundo.
Reapareceu tão rápido quanto desapareceu. Tinha um sorriso travesso e os olhos negros brilhavam como nunca:

- Fecha os olhos!
- É de fechar os olhos e abrir a boca?
- Sim! Não! Não sei! Fecha os olhos Mel! - Carmelo obedeceu, pensando como aquele rapaz era uma criança grande.

Sentiu um objecto frio ser colocado entre as suas mãos...e depois...e depois...dois lábios poisaram sobre os seus, com uma suavidade que contrariava a sua firmeza. Sentiu-lhe o sangue pulsando por baixo daquela fina camada de pele, com um calor ao qual se queria entregar para sempre.
Abriu os olhos. Pedro sorriu-lhe e pegou-lhe nas mãos como se nada tivesse acontecido. Carmelo só então notou o pequeno vaso com delicadas flores roxas, que exalava o perfume mais maravilhoso que já tinha sentido.

- Violetas da Pérsia, vês?


E Carmelo reveria para sempre aquele dia em que entregou a alma a Pedro de cada vez que sentia aquela maravilhosa essência que se misturava com o cheiro de praia dele...
A vida regressara a si pelo leve pulsar dos lábios do homem-menino em que tropeçara...
E a vida cheirava a Violetas da Pérsia.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Contagem regressiva para o fim da alma - 23º dia

Eu era um rapaz cheio de manias... Não era convencido! Nada disso! Nunca tive a auto estima muito elevada... era simplesmente...mais um entre tantos. Alguém cujos talentos pareciam não agradar a muitos. Pelo menos assim o pensava, porque praticamente ninguém se interessava ou procurava saber das minhas coisas...

O meu nome? Carlos Rio Faria, o rapaz que estava morto mesmo antes de morrer...

Um rapaz de olhos azuis, cansado da vida até então e farto de estar sozinho. "Só estás assim porque queres! " . Me diziam as minhas amigas... mas não era bem assim.
Vivia preso dentro de mim, incapaz de fazer alguém se apaixonar por mim. Um verdadeiro fracasso nas questões do amor. E não era só isso. Digamos que a homossexualidade não ajudava muito... O pequeno Portugal, ao contrário do que os outros queriam ver, ainda é muito fechado em si próprio.

O telefone tocou, levando-me de novo para a realidade.

- Estou? - era a Filipa.
- Estou!
- Ulá! Então como estás?
- Estou bem...
Um silêncio demorado preocupou-me ao telefone.
- Pipa?- nesse momento a sua alma chorou. Não quer tenha soluçado nem nada... simplesmente, eu sabia reconhecer a tristeza nos outros. Já me era mais do que conhecida. - conta lá o que se passa.
- Eu acho que...

- Filipa. Pode chegar aqui ao meu escritório? Precisava que despachasse aquele monte de relatórios.

- Vou ter de te ligar mais tarde Carlos.
- Mais tarde não posso. Tenho umas coisas para tratar. - No dia anterior tinha recebido uma carta de um conhecido, a combinar um encontro no jardim em frente ao antigo dramático. Já o conhecia desde criança e desde criança que o odiava. Aquele homem era absolutamente ... nem existem palavras para o descrever... que queria ele? Depois do que me tinha feito?
Mesmo assim... precisava de olhar para a cara dele e dizer-lhe umas verdades!
- Está bem. Então falamos amanhã? Não te esqueceste pois não?
- Não. Amanha à tarde, no jardim do estoril.

- Filipa?

- Tenho de ir. Xau!
- Tchau.

E desliguei e esperei pelas 22 horas. Era uma noite fria demais para um dia de verão. Como combinado fui ter ao jardim. Àquela hora, o escuro ainda não era bem escuro, mas estranhamente, a rua estava completamente vazia... esperei e esperei.

---

Olhei para o relógio...eram 23 horas.
- Bom. Vou-me embora. - disse eu... - vou voltar para a minha solidão...
E assim, a minha ultima palavra foi dita... Por trás de mim, senti uma pessoa, o perfume daquele mesmo homem, que tinha complicado a minha vida, durante quase cinco anos.
- Vais ficar bem caladinho. E vais-me ouvir. - as suas mãos fortes apertavam-me o pescoço... quase não conseguia respirar! - Vais deixar de me chantagear... sabes por quê? Porque vou acabar agora com a tua raça! é para aprenderes a não te meteres com alguém m ais forte do que tu!

Com os braços batia contra o seu corpo, tentando libertar-me! Naquele momento, cheguei ate a acreditar em Deus! Estaria ele ali, a ver a minha morte ou a tentar ajudar-me? Comecei aos poucos a perder o ar e a morrer. Tentei falar, mas só fez pior... não tinha ar na garganta. Não tinha ar nos pulmões... estava ali calado, com os braços e as pernas a lutarem contra aquela massa atrás de mim.

- Que é que queres, meu Cabrão? Não passas de hoje! Não me podes lixar, agora. Não te vou deixar lixar a minha vida, percebeste...

Os braços deixaram de lutar.

- Não posso deixar que lixes o meu filho. Que lixes tudo aquilo que consegui.

As pernas caíram.

- Não te vou deixar que me desmascares...

A cabeça caiu-me... ali morri, mesmo estando já morto...



quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Contagem regressiva para o fim da alma - 24º dia

Na porta do seu apartamento, algures em Lisboa, Pedro bateu ao de leve, chamando a Filipa.
Do outro lado da porta. Filipa preparava o seu requintado jantar, lasanha congelada que se fazia em 10 minutos, no seu amigo de sempre, microondas. Estava de tal maneira concentrada, olhando aquele prato que girava de uma lado para o outro, que nem se apercebeu do bater.

- Pipa? - na sua voz grossa chamou. Pipa então deixou o jantar a fazer-se sozinho e correu para a porta. Olhou então para o atendedor de chamadas. Nada... nem uma mísera chamada do Carlos. "É bom que aquele desgraçado tenha uma boa explicação!"

Pipa correu para a porta. Algo lhe dizia que aquele jantar não seria bom. Tinha tentado a tarde inteira, falar com o seu melhor amigo, que nunca tinha tido a felicidade de conhecer o seu namorado. Estava sempre demasiado ocupado a estudar as suas coisas de linguística, a analisar o discurso de crianças para depois dizer aos pais que precisavam de vir ali, uma vez por semana, durante o período de 6 meses.
A porta abriu-se. Do outro lado, o olhar e a expressão de Pedro transmitiram uma inquietude a Filipa. Teve então a certeza... de que aquele jantar não ia correr nada bem...

- Oi amor.- aproximou ela a sua boca da dele, tentando travar aquela tragédia que aí viria.
- Oi. - beijaram-se.- Pipa... preciso de falar contigo...
- Sim, já me disseste isso ao telefone...entra.

A porta fechou-se, escondendo-se a trama dos vizinhos. Pedro sentou-se na poltrona e Pipa no sofá laranja que Carlos lhe tinha oferecido.

- Eu... Nós não podemos continuar...

O mundo de Filipa se desmoronou. Soube logo ali, que o desgraçado a traíra.
- Assim como?
- Assim... quase não nos vemos. Andamos sempre em correrias...
- Sabias que seria assim desde o início!
- Eu sei... mas.. sinto-me sozinho.
- Tu sentes-te sozinho?! Ahahahah. Não te vejo durante não sei quantos dias porque estás de banco, a abrir mortos e agora dizes-me que estás sozinho?
- Eu sou médico... tens de compreender...
- Tenho de compreender? Eu sou bioquímica, caso não saibas. Também me esfalfo a trabalhar!
- Olha sabes que mais, quando estiveres mais calma liga-me.

Pedro levantou-se e caminhou para a porta.

- Não te atrevas a virar-me as costas! Eu sei muito bem que não é por causa disto que queres acabar!
- Sabes?! - no seu olhar, Pedro denunciou-se. Naquele momento, Filipa Silveira soube da sua traição. O medo... o medo de ser apanhado, ali, estampado naquele rosto simétrico, agora sem expressão.
- Quem é ela? - Pedro não respondeu - Quem é ela Pedro?

Mas Pedro não respondeu outra vez. Como um cão fugindo das pedras atiradas por crianças, correu para a porta, virando-lhe as costas e partiu. Durante dois dias, nãos respondeu aos incessantes telefonemas de Filipa...

- Merda...

Filipa descobrira a traição... estava certa nisso... o que errou foi ter achado que aquele seria um mau jantar...simplesmente porque nesse dia, não houve sequer jantar.


terça-feira, fevereiro 20, 2007

Trident Verdes e Cartões de Multibanco (parte 1)

Férias...Carmelo adorava estas férias em que chovia e não tinha absolutamente nada que fazer (à excepção talvez de pensar demais no João, o que a sua avó não haveria de gostar...). Sentia-se sufocada por recordações tristes e por prospecções futuras ainda piores. Precisava de limpar a cabeça...saiu. Já mal se lembrava do ar frio que lhe cortava a pele quando atravessava os breves quarteirões que a separavam do centro comercial. Sabiam-lhe a uma liberdade que não experimentava desde o dia em que tivera nas mãos as chaves do carro do pai...mas ele não percebia que ela queria andar...

Deu por si num Continente semivazio, como era sempre nas tardes dos dias de semana. Perguntou-se o que estaria a fazer ali. Pegou num pacote de trident verdes (as que o João gostava de lhe provar na boca) e encaminhou-se para a caixa...escolheu a 5...mudou de ideias, não porque estivesse muita gente, mas porque o rapaz da caixa era uma criatura loira, bronzeada, de sorriso largo e brilhante, cujo perfume lhe chegava de longe...e não havia nada que a assustasse mais do que pessoas bonitas, pelo menos demasiado bonitas. Chegou-se discretamente para a caixa 6, onde um rapaz moreno de traço mais comum lhe passou as pastilhas por aquela luzinha vermelha que apita (que a fascinava quando era criança).

"65 cêntimos" anunciou ele. Carmelo remexeu a carteira, mas não encontrou uma única moeda. Pegou então no cartão da caixa.

- Desculpe - protestou o rapaz - vai mesmo pagar uma caixa de pastilhas com o cartão?

Carmelo pensou numa explicação mas não tinha nenhuma, como sempre. Subitamente, notou que o rosto do rapaz se alterou. Parecia ler todas as inscrições do seu cartão. Esperou. Ele fixou-a com um sorriso inexprimível:

- Carmelo?
- Sim.
- Sou eu Carmelo! - apontou freneticamente para a sua placa de funcionário...ela leu-a "João Pedro Medeiros".
- Pedro! - sentiu-se corar, sentiu o sangue fugir, sentiu o mundo girar e girar sem que fosse capaz de o perceber.

- Hey! Rapaz! Isto não é sítio para namorar! Despache-se que tenho pressa! - um homem gordo gritava da outra ponta da caixa.
Pedro apressou-se a passar o cartão e Carmelo a marcar o código...nem sabia como se lembrava dele.

- Carmelo...eu saio em cinco minutos...espera-me!

Carmelo não foi capaz de responder...acenou com a cabeça e correu. Ele existia mesmo...não era um sonho! Cinco minutos...o tempo de uma vida que agora ia começar...

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Precipitei-me...

Carmelo (que às vezes perguntava-se porque não poderia ser analfabeta como a sua avó) estava já cansada de letras e livros quando o telefone tocou...número desconhecido...não conseguiu conter um primeiro pensamento...Pedro. Atendeu com um sorriso:

- Estou?
- Carmelo! És mesmo tu! Tive medo que tivesses mudado de número ou assim...depois deste tempo...
- Quem...?....João?
- Eu, Carmelinha! Como estás?
- Eu? Bem...estou...
- Estava a ficar preocupado...há imenso tempo que não me dizes nada.
- Não sei se te lembras, mas foste TU que disseste que era melhor assim...
- Ainda estás assim comigo Melita?
- Como era suposto estar?
- Carmelo...ouve...eu...desculpa...
- Desculpo o quê João?
- Desculpa eu...eu errei contigo...eu precipitei-me contigo e...Carmelo eu nunca quis que ficasses magoada...
- Tiveste uma forma brilhante de o mostrar.
- Eu sei...a culpa foi minha Carmel eu sei...e na altura eu...suspiro...O que eu quero dizer é que a culpa foi minha, que estou arrependido e...que eu ainda gosto muito de ti...como vou gostar sempre...

Não ia chorar...nunca mais! Muito menos pelo João...

- O que é que queres João?
- Quero saber se ainda me podes perdoar...
- Se calhar é melhor ser eu a dizer-te o que tu queres João. Descobriste que não és capaz de ter ninguém melhor que eu...se calhar nem pior. E agora, João, o que é que te resta? Voltar para mim...
- O que se passa contigo Carmelo? Não eras assim...ssbes que eu nunca ia fazer isso.
- Sei?
- Bonequinha ouve...
- As coisas mudaram João.
- Que coisas? Tens outro Carmelo? Diz-me a verdade...

Pensou em Pedro...pensou em mentir e fazer nele uma ferida ainda maior do que a que ele acabara de reabrir...

- Não...
- O que mudou então?
- Eu mudei! Lembraste de quantas vezes me pediste isso? Lembraste da desculpa para voltares a deixar-me sozinha?...Agora conseguiste, eu mudei!
- Carmelo...diz-me que não sentiste a minha falta.
- Senti...ainda sinto...
- Melita...eu sei que as coisas podem ser diferentes desta vez...eu prometo...

Não ia conseguir conter as lágrimas muito mais tempo...

- João...tenho de sair agora...
- Está bem...pensa nisso sim? Beijinhos...

Desligou...
Às vezes odiava-o tanto, tanto...que continuava agarrada a ele...

3 factos



3 factos:





1) Hoje é o dia dos namorados. Muita gente está feliz!





2) Hoje deve ser um dia com uma taxa de suicídio elevada!!





3) Hoje também é o dia dos doentes coronários e da disfunção eréctil!!!:P




FELIZ DIA DOS DOENTES CORONÁRIOS E DISFUNÇÃO ÉRECTIL PARA TODOS!!!!:P

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Contagem regressiva para o fim da alma - 25º dia

Filipa esperara já as 48 necessárias para dar alguém como desaparecido.

- Estou sim? - disse ela ao telefone. A sua voz tremia-lhe ao telefono, com a água a obstruir-lhe os olhos.
- Estou sim, é da GNR, como lhe posso ser útil? - uma voz feminina se fez ouvir do outro lado da linha.
- Queria...queria dar como desaparecida uma pessoa desaparecida.
- Sabe que tem de esperar 48 horas...
- Sim claro!- Na sua voz a irritação instalava-se! é claro que sabia! Que pergunta essa!
- Compreendo que está preocupada, mas isso não é motivo para me falar assim! Sabe que está a falar com uma figura de autoridade. Posso muito bem apresentar queixa de si aos meus superiores!
"Cabra!" - Pensou ela
- Compreendo. Peço desculpa!- deixara de ter a voz tremeliquenta. Se pudesse estaria naquele momento em cima da mulher a arrancar à dentada todo o seu cabelo!

Queria lá saber dos outros. Onde estaria Carlos? Tinham combinado encontrarem-se nos jardins do Casino, para falarem. Pr3ecisava urgentemente de desabafar. "O Pedro traiu-me! Tenho a certeza!".
Chegara naquele dia, à hora exacta. Esperou mais de quatro horas e nada. " Isto não é nada dele!". Pensava ela, enquanto pela milésima vez tentava contactar o seu melhor amigo. "Onde se enfiou?"

TMN. Neste momento não é possível aceder à ligação... por favor tente mais tarde.

- Menina?
- Desculpe. Estava a pensar no desaparecido!
- Sabe que tem de se deslocar à polícia mais próxima para dar como desaparecido alguém, não sabe?

"Ó minha cabra, se eu soubesse não estaria
a tentar tratar disto por telefone!!!"

- Não sabia, mas obrigado. Com licença.

Assim, desligou o telefone e saiu. Na esquadra, passou ao lado de quem nunca viria a saber ser a rapariga que havia dormido com o seu namorado. Era uma polícia alta e loira. Com olhos cor de mel e com um peito que lhe obstruía a vista. Pipa pensou "Meu deus... que abuso! Quemk é que gostará de uma coisa daquelas!". Pelos vistos o seu namorado...

- Nome do desaparecido- perguntou-lhe a tenente Joana.
- Carlos Rio Faria.
- Tem a certeza que ele desapareceu mesmo.
Filipa olhou-a num misto de tristeza, preocupação e irritação. Respondeu então com ironia:
- Sim...há 48 horas que não sei dele!

sábado, fevereiro 10, 2007

Mana, João, Joana e Nessa. Sorry! Tive de mudar para o blogger novo que esta coisa não me deixava entrar com o antigo. Se não conseguirem voltar a entrar ou se não quiserem criar uma conta no gmail, falem comigo que eu arranjo-vos um dos meus mail para entrarem!:P

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Contagem regressiva para o fim da alma - 26º dia

- Estou Filipa? - a voz trémula do rapaz, denunciava o seu medo daquela conversa.
- Pedro? Já não era sem tempo! Tivemos aquela conversa já há dois dias! Disseste-me que me telefonavas logo!


Pedro era um aluno de Medicina, quase sem tempo nenhum para namorar. O seu trabalho na morte ocupava quase todo o seu tempo diurno. À noite, perdia-se nos molhos de papéis da sua secretária...relatórios imensos por fazer. E a sua namorada, formada em Bioquímica, tudo isto aceitava. Também ela se deitava às tantas da manhã, a ler e reler os seus relatórios do estágio. De dia, estava a trabalhar numa empresa qualquer de química, para os lados de Sesimbra.

- Eu sei... desculpa... mas é que...
- Mas é que o quê? Que lata! Depois daquilo que me fizeste! Uma explicação! Eu só quero uma explicação!


Mas Pedro estava paralisado. Tinha dormido com uma rapariga que conhecera no Bairro alto. Uma rapariga pertencia à Marinha ou ao exército...ou seria à Polícia? Não se lembrava. A bebedeira era tamanha, que todo o mundo em volta se tinha fundido com ele, num ser supremo, egocêntrico, que existia para satisfazer as suas próprias necessidades.

- Eu não tenho desculpa Pipa...
- Pois não tens não, seu...seu...nem te consigo chamar nada! E ainda por cima...logo agora que estou tão ...
Do outro lado da linha, a voz chorosa de Filipa alarmou o fututro médico.
- Pipa? Estás bem?
- Eu...eu...olha sabes que mais Pedro. Esquece-me! Há um rapaz no meu curso que é bem melhor do que tu e que me tratará muito melhor.
- Mas pipa, estas bem?
- Não te interessa mais. Já não fazes parte da minha vida!
- Mas pipa...

ti...tiiii...tiiii

Do outro lado da linha, tinham-lhe desligado o telefone.

sábado, fevereiro 03, 2007

Ano Novo

Faltavam escassos minutos para a meia noite, a primeira de 2007. Carmelo (que ao contrário da sua avó não gostava muito deste dia) observava a família reunida, que rapidamente contava doze passas e as colocava na concha da mão, enchendo a casa com um cheiro doce. Se fosse uma pessoa normal estaria num sítio atulhado de gente suada, com música aos berros e fogo de artifício. Como não era, não tinha vontade sequer de pensar nisso. Deviam faltar menos de dois minutos para as doze tão esperadas badaladas quando o telefone tocou. Mais ninguém se mexeu. Carmelo atendeu aquela alma que se lembrara de ligar na hora mais importante do ano:

-Pai?
-Carmelo, sou eu!
-João!!
-João não...eu não gosto muito de ser João, sabias? Todos me chamam Pedro. Aliás, nem sei porque é que a minha mãe insistiu em pôr-me João se nunca me chama assim!
-Eu também não sei porque me chamou a minha mãe de Carmelo se me trata sempre por Mel...Porque estás a ligar-me a hoje, e logo a esta hora?
-Porque sim!
-Isso não é resposta- Carmelo lembrou-se de como o João a custumava irritar com esta mesma frase.
-Pronto, está bem...queria falar contigo. Eu disse que voltava a ligar, não disse? Eu sabia que ainda estavas viva! És demasiado corajosa para desistir de viver tão facilmente...

Carmelo sorriu por dentro. Nunca pensou que precisasse de ter coragem para viver mais um dia.

-Não devias estar num sítio com música alta, alcool e montes de foguetes?
-Sim, mas disse que ia lá ter mais tarde. Queria passar o ano contigo.
-Porquê?
-Oh Mel! Preciso de ter uma razão para tudo? Porque não posso fazer as coisas porque quero e pronto?...hoje eu descobri que queria ter um ano diferente, uma vida diferente. E essa descoberta começou em ti...

silêncio...badaladas

12
11

-É agora! Fecha os olhos!
-É suposto comer e não fechar os olhos!
-Assim não se realiza! Fecha os olhos e pensa só numa coisa! Mas tem que ser a sério!

Carmelo fechou-os com toda a força que conseguiu...primeiro pensou no João...mas já não sabia se era ele o seu desejo de ano novo...resumiu então tudo a uma palavra.

AMOR

2
1

-Feliz ano novo Carmelo!
-Feliz vida nova Pedro!

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Diário de Romeu, página 3

Amo-vos

Gravei-o dentro das nossas alianças, meu anjo, para que nunca te esqueças. Parece que ainda sinto o coração a querer sair do meu peito quando te vi, tão branca, tão luminosa, tão divina, marchando para o altar onde Deus aprovaria o nosso amor.

Que importa o resto do mundo perante Ele? A sua divina benção desceu sobre nós, as nossas almas foram ligadas como outrora os nossos corpos, agora não escondidos, mas mostrando o nosso amor que foi irremediavelmente consagrado.

Irremediavelmente disse eu? Perdoa-me, amor meu, uma palavra tão dura dirigida à sagrada união dos nossos corações. Irremediável seria a ferida de minha alma se não pudesse ser partilhada com a tua. Mas compreenderás por certo que há muito deixei de ter palavras para mostrar o meu amor ao mundo. Ele cresceu, querida Julieta, cresceu tanto!

Amo-vos...é tudo o que consigo dizer...a felicidade rouba-me o dom da palavra, e eu não podia estar mais grato...

Hoje e para sempre. Sim!

Não escolhi o meu caminho...
Apenas aceitei-o...

Por quê tanto sofrimento?