tridente verdes e Violetas da Pérsia (parte 2)
Era tanto tempo e de repente parecia tão pouco! Carmelo (que agora pensava em tudo menos na sua avó) sentia o peso do tempo cair sobre si. Começava a pedir ao destino que adiasse aquele dia, o dia em que conhecera o Pedro. Tinha saído de casa à pressa e tinha possivelmente vestido a pior coisa que estava no armário. Não se tinha sequer esforçado por pentear os caracois rebeldes. Teve uma sensação de pânico incontrolável. Correu para a montra mais próxima, a que tinha um vidro escuro que a reflectia. Não gostou do que viu. O pânico cresceu. Começou a mastigar as tridents, uma após a outra, até que se sentiu tão mal disposta com o sabor de hortelã que as deitou todas fora. Não estava a adiantar nada.
Voltou para a montra espelhada. Tentou num gesto desesperado endireitar os cabelos. Não conseguia! Pegou no elástico que tinha sempre no pulso. Sentiu uma mão forte segurar-lhe o braço:
- Porque fazes isso?
Pedro...O reflexo dele fixava-a nos olhos. E ele sorriu. O pânico de Carmelo esmoreceu. Sorriu para ele também sem encontrar nenhuma palavra que pudesse dizer-lhe...e para quê?
Sentaram-se num daqueles banquinhos horríveis de centro comercial, mas que naquele momento eram tão confortáveis por terem os olhos entregues um ao outro.
- Tu existes mesmo!
- Tens caracois!
- Tens cabelos pretos!
- Os teus olhos brilham lá dentro!
- Os teus fazem-me sentir calor!
- E ficas com os lábios vermelhos quando estás nervosa!
- Tens braços de pessoa forte!
- Eu SOU forte!
risos
- Tens uma orelha de elfo!
- Cheiras a praia!
- Tens mãos de donzela!
- Tens sorriso de colgate!
- Cheiras a violeta da Pérsia...
- A quê?
- Espera! - disse Pedro, e correu de novo para o continete, como uma criança que anseia por mostrar o objecto mais importante do mundo.
Reapareceu tão rápido quanto desapareceu. Tinha um sorriso travesso e os olhos negros brilhavam como nunca:
- Fecha os olhos!
- É de fechar os olhos e abrir a boca?
- Sim! Não! Não sei! Fecha os olhos Mel! - Carmelo obedeceu, pensando como aquele rapaz era uma criança grande.
Sentiu um objecto frio ser colocado entre as suas mãos...e depois...e depois...dois lábios poisaram sobre os seus, com uma suavidade que contrariava a sua firmeza. Sentiu-lhe o sangue pulsando por baixo daquela fina camada de pele, com um calor ao qual se queria entregar para sempre.
Abriu os olhos. Pedro sorriu-lhe e pegou-lhe nas mãos como se nada tivesse acontecido. Carmelo só então notou o pequeno vaso com delicadas flores roxas, que exalava o perfume mais maravilhoso que já tinha sentido.
- Violetas da Pérsia, vês?